Carta 217

02/07/2013 16:46

DATA DA PUBLICAÇÃO: 19/2/2012

 

De: JOÃO

Para: celeiros.df@gmail.com

Data: 16 de fevereiro de 2012 14:32

Assunto: DECEPCIONADO

 

Prezado Pastor Sólon,

 

Encaminho Carta anexa solicitando orações e orientações.

A carta poderá ser publicada no Celeiros se o pastor assim o desejar.

 

A paz do senhor Jesus.

 

JOÃO

 

 

ANEXO: Carta Pastor Solon.doc

 

Pastor Sólon,

 

A paz do Senhor Jesus seja contigo e com os seus,

 

Glorifico o nome do Senhor por ter levantado o pastor para esse trabalho muito importante que tem ajudado muitas pessoas, como pude ler nas cartas.

 

Infelizmente (digo isso pela minha dor), sou mais um que precisa de sua ajuda, pois creio que Deus colocou o pastor nessa posição para ser um instrumento dEle na recuperação de vidas feridas por este sistema religioso.

 

Freqüentei a ICM por cerca de dez anos. Sou de lar Batista, porém ao mudar de estado, em virtude de trabalho, após visitar algumas igrejas evangélicas e não se identificar, conheci a ICM em (...)/BA. Inicialmente, foi uma experiência boa, pois eu e minha família, esposa e um casal de filhos (na época, ele com 12 e ela com 5 anos) fomos muito bem recebidos. Decidimos freqüentar a ICM, a partir de então.

 

Fomos logo integrados em um Grupo de Assistência. Como havia algumas dúvidas sobre a Igreja, pois vínhamos de outra denominação, recebemos em casa um Diácono que as tirou. Como não poderia ser diferente, ficamos maravilhados com a ordem e a organização, tanto administrativa como espiritual (Não poderia ser diferente, tirar dúvidas com alguém que está integrado, certamente, as respostas seriam convincentes).

 

No mesmo ano que chegamos, o Senhor deu uma visão a um irmão que eu era visto vestido num terno. Essa visão ocorreu quando oravam pelo meu 42º aniversário (...). O discernimento do grupo que estava próximo era que o Senhor estava mostrando que eu seria um Obreiro. O Diácono me orientou a passar a vir para a Igreja de paletó e gravata. Para mim, aquilo era maravilhoso. Saber que o próprio Senhor estava dando direção a minha vida de uma forma tão direta. Quem não se deslumbraria com esta experiência?

 

O restante da história o pastor deve saber, dois anos após fui levantado diácono, a esposa professora de crianças e o filho instrumentista. Tudo parecia muito bem, se não fossem algumas ocorrências presenciadas. A primeira que muito me chocou foi quando, ainda obreiro, fui orientado por um diácono a comparecer em determinado lugar onde ocorreria uma reunião de obreiros. Fui pronto para a reunião. Para minha surpresa, não havia reunião nenhuma. O lugar estava sendo preparado para um grande culto de evangelização e os obreiros deveriam arrumar todo aquele lugar. Não me escandalizei com o trabalho, mas sim com a mentira que ouvi de uma pessoa que estava à frente de um grupo. Uma segunda e muito grave foi antes da eleição para Presidente da República, em 2002. Foi anunciada uma reunião de emergência com todos os obreiros do pólo. Como sempre ocorre, o assunto da reunião não fora revelado. Atendi o chamado prontamente. Presentes havia pastores do Presbitério, o que dava a impressão de que era assunto sério. Iniciada a reunião, após oração com imposição de mãos, o assunto foi anunciado: eleição presidencial. Ao pastor (...), que dirigia a reunião, coube a tarefa de transmitir a ‘dom do Senhor’ dado, em Belo Horizonte, a um determinado irmão, “era visto um homem barbudo que tinha em suas mãos um tridente com pedaços de carne nas pontas e que aquela carne era ‘carne de crente’ e que, diante disso, nenhum servo do Senhor deveria votar no candidato barbudo, pois este será usado pelo ‘inimigo’ para combater o evangelho no Brasil.” A partir de então, a ‘orientação’ era que todos votassem no outro candidato ‘em prol do evangelho no Brasil’. Nunca vi uma forma tão maquiavélica de fazer política como esta. A liderança ‘orientada’ era o suficiente para coagir os demais membros.

 

Essas foram experiências vividas que me traziam indagações. Essas indagações, somadas a outros mistérios existentes, foram crescendo com o passar do tempo. Entretanto, creio em um Deus vivo que cuida de nós ("Vida e misericórdia me concedeste; e o teu cuidado guardou o meu espírito."  (Jó 10:12)). O mesmo motivo que nos levou para (...) trazia-nos de volta ao (...). Creio que no momento certo, pois já havia a especulação para eu assumir Grupo de Assistência e cada dia mais me envolvendo. Para essa nova transferência, havia o interesse da família que somente eu viesse para o (...) e, após passado um ano, retornar à (...). Para isso, deveríamos consultar o Senhor. Fomos ao Grupo de Intercessão e o ‘Senhor revelou que a família poderia ficar e eu vir’. Obedecemos (OBDC). Vim crendo que se o Senhor falou que poderia vir é que Ele providenciaria tudo para eu retornar, após um ano, pois havia essa possibilidade. Mas a vontade do Senhor era outra, por isso após um ano foi confirmada minha permanência aqui no (...). O próximo passo seria trazer a família. Glória ao nome do Senhor que tudo ocorreu bem. Deus providenciou o imóvel, Colégio para a filha e Universidade para o filho.

 

Passamos a congregar na ICM de (...). Antes, quando estava só no (...), eu já havia servido como Diácono em outra ICM. Mais uma vez ‘Glória ao Senhor, pois o pastor de Vila Isabel não era a favor de ‘revelagens’ para levantarem obreiros ou outros cargos na igreja (Acredito que esse pastor já possua algum sentimento sobre os erros que vem ocorrendo e não quer expor mais vidas). Não retomei meu diaconato (Na verdade, nunca almejei cargo na Igreja, meu prazer é servir ao Senhor para isso fui chamado). Passei a ser utilizado como obreiro, somente.

 

Durante todo esse tempo, não posso negar, tive e presenciei maravilhas diante do Senhor, até porque: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem."  (João 4:23)

 

Entretanto, meu sentimento de desconfiança chegou ao ápice quando em um Seminário, por vídeo-conferência, em um feriado ao final do ano passado, quando foram transmitidas, principalmente, duas aulas, cujo conteúdo era para denegrir denominações evangélicas (Se me recordo, os títulos eram: “Uma vez salvo, salvo para sempre” e “Calaram os meus Profetas”. A primeira fazendo alusão à Igreja Cristo Vive e a outra fazendo um apanhado de todas as denominações que vivem um evangelho mercadológico. Fui para casa inconformado e me perguntando: “Será que Deus quer isso de nós? Há necessidade de gastar uma tarde inteira para ensinar a não amar outra denominação, crendo que só há salvação na ‘obra’? Este tempo não seria mais proveitoso se utilizássemos para pregar o amor de Cristo?”

 

A partir daquele dia, não tive mais paz. Passei a perceber que era o Senhor me incomodando sobre tudo o que vivi até aquele dia. Passei a me recordar como éramos felizes e livres quando vivíamos o evangelho fora da ICM. Lembrei de minha infância, quando minha mãe (faleceu quando ainda era criança) nos levava para a Igreja Batista. Se aceitasse tudo o que é ensinado na ICM deveria apagar de minha vida tudo o que me foi ensinado nesse tempo.

 

Neste mesmo período, houve uma dissidência no Grupo de Assistência que eu pertencia. O Capitão do Grupo saiu da ICM de (...) por desavenças com alguns irmãos. Não me inteirei muito do assunto. Agora o Grupo de Assistência está sem capitão. Alguns dias após, fui informado que eu seria o capitão do grupo, pois eu é que tinha mais experiência dentro do grupo. Isso informado por alguns irmãos. Dentro da temática do ‘OBDC’ atendi. Passei a ser o capitão do grupo, mesmo meio contrariado.

 

Consegui reunir o grupo algumas vezes (há servos do Senhor comprometidos na ICM). Porém, devido a meu trabalho não tinha condições de estar a Igreja, durante a semana e isso me trazia angústia, pois ‘não estava cumprindo as orientações e sendo infiel ao Senhor’. Isso realmente me incomodava. Foi quando lembrei de como fui colocado como capitão do Grupo: não foi uma revelação do Senhor, então esse sentimento, provavelmente, era oriundo da forma como fui colocado à frente do Grupo. Passei a crer que Deus não me queria à frente do Grupo, já que não conseguia condições de estar presente.

 

Nesse ínterim, houve mudança de pastor na Igreja. O novo pastor me designou eu e minha família para um trabalho em outro bairro. O que fiz? ‘OBDC’, mesmo contrariado. Isso só veio somar ao que já vinha sentindo. Sabia que deveria conversar com o pastor sobre o assunto. Confesso, creio que o pastor saiba disso, havia um temor que me remoia por dentro ao imaginar eu pudesse estar errado e desobedecendo ao Senhor. Ao conversar com o diácono sobre meus sentimentos e que deveria conversar com o pastor, fui informado que o ele, o pastor, não abriria mão de mim, pois havia recebido ‘boas recomendações ao meu respeito’. Isso me incomodava mais ainda.

 

Passei a freqüentar menos os cultos. Certo dia, ao levar meu filho para a ensaio do Grupo de Louvor (ele ainda é instrumentista) encontrei com o pastor. Sabia que não era o momento apropriado, mas tinha que ser naquele momento, pois estava vivendo em plena angustia. Informei a ele sobre como havia sido colocado à frente do grupo, que não havia uma revelação do Senhor, e que meu trabalho estava impedindo de assumir o compromisso com o grupo. A palavra dele foi de que deveríamos saber o que o Espírito Santo queria e que o fato de haver um erro ao me colocarem a frente do Grupo não poderia ser corrigido com outro erro e que deveríamos saber qual a vontade do Espírito Santo. Outra decepção. O pastor em momento algum se mostrou preocupado comigo como pessoa, quais sentimentos estavam me afligindo,... Um agravante, este pastor é meu vizinho, mora a dez metros da minha porta.

 

Neste período, já havia tido uma conversa com minha mulher (ela já havia percebido que estava ocorrendo algo) sobre meus sentimentos, porque dos sentimentos e qual a decisão tomada. Ela compreendeu e concordou com minha posição, porém também surgiram algumas dúvidas em seu coração. Duas coisas concordamos: jamais poderíamos deixar o Senhor, apesar de tudo, e o que falar com nosso filho que tem como amigos somente jovens da ICM?

 

A partir dessa conversa, reduzimos o número de presença nos cultos. Porém, não sabemos como levar este assunto ao nosso filho, que está freqüentando normalmente.

 

Pois bem pastor, eis meu problema. Sinto que minha esposa ainda está muito temerosa, principalmente, por não saber como levar o assunto ao nosso filho ou, quando levarmos, ele se decepcionar e deixar de servir ao Senhor. Preciso de suas orientações, pois com iniciei esta carta, creio que o pastor é um instrumento na mão do Senhor para ajudar os que como eu estão nesta situação.

 

Obrigado pela paciência em ler toda essa história e, por gentileza, ao responder envie para (...), que é meu email particular.

 

As benções do Senhor seja com o pastor e todos os seus.

 

JOÃO

 

De: Pr. Sólon

Para: JOÃO

Data: 19 de fevereiro de 2012 01:48

Assunto: DECEPCIONADO

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Amado, se entendi bem, sua questão é: você e sua esposa já decidiram mudar de igreja, mas temem pela reação de seu filho, que está integrado na ICM.

Supondo que seu filho tenha mais de 15 anos de idade, uma vez que já é instrumentista da igreja, creio que ele esteja em condições de participar de uma conversa franca entre vocês. Entendo que essa é a primeira coisa a fazer, conversar e abrir o coração, todos. O passo seguinte dependerá dos resultados dessa primeira fase. Talvez vocês se surpreendam.

Uma coisa que tenho observado no âmbito das práticas da ICM é a desconstrução da unidade familiar, o que eu acho lamentável. Eu tenho muita dificuldade em compreender como pode uma igreja evangélica promover a divisão entre crentes em Jesus que habitam sob o mesmo teto. Gostaria que isso fosse tomado como uma crítica construtiva, ou seja, aquela que aponta uma possível falha para que os interessados possam fazer um auto-exame e, se for o caso, aperfeiçoar seus procedimentos ou sua postura.

Ontem, por exemplo, estive conversando com um homem que deixou a ICM há aproximadamente 3 meses. Essa mudança foi uma decisão de toda a família, mas na semana passada seu ex-pastor ligou para ele e propôs que ele retornasse para a ICM, pois suas funções estariam preservadas, mesmo que sua mulher e sua filha decidissem continuar na CEEN.

Eu pensei comigo: que valor tem a família para quem faz uma proposta dessa natureza?

Graças a Deus, querido, você tem uma compreensão sóbria sobre a comunhão do corpo de Cristo e sobre a unidade familiar.

Não sei se ajudei, mas como você é um membro da ICM, fui até o meu limite.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

De: JOÃO

Para: "Pr. Sólon"

Data: 19 de fevereiro de 2012 12:44

Assunto            Re: DECEPCIONADO

Pastor Sólon,

A paz do Senhor Jesus.

Muito obrigado pelo apoio.

Suas orientações serão de muita valia, pois sinto que o senhor tem falado por meio da vida do Pastor.

Minha decisão já foi tomada, deixei a ICM. Agora devo tratar, sob orientação do Senhor, da minha família

Creio que, assim como o Senhor me incomodou, falará também ao coração do meu filho.

A partir daí, trilharmos um novo e vivo caminho na presença do Senhor sem a interferência, crendices ou invenções de homens de homens.

Desde já, autorizo a publicação de meus email no celeiros.com.br, com a finalidade de ajudar aqueles que estejam com a mesma dificuldade que eu.

O Senhor continue a abençoar o Pastor.

Grande abraço.

JOÃO

 

celeiros.df@gmail.com