2 - O discípulo e o perdão
"Suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também" (Colossenses 3.13).
INTRODUÇÃO
Antes de defini-lo, pode-se dizer que o perdão, do ponto de vista humano, é mais um dos ensinos de Deus que não se encaixam no raciocínio do homem insensato.
Se alguém o ofendeu, logo tem de ser punido por você. O escritor evangélico americano W. Wangerin diz que "o perdão é uma espécie de absurdo divino".
Quando o crente perdoa, ele está simplesmente doando algo. Sim, doar é a palavra que resume o perdão. Separe a palavra perdoar em duas partes: perdoar. O "per" é você. O crente efetua um doar santo, completo e irrestrito.
O perdão, então, é doar. Um doar que envolve renúncia, diálogo, presente e sacrifício.
Quem perdoa desiste voluntariamente de certos direitos. Não exige reparação pela mágoa que sofreu. Não acerta as contas. Neste momento, a pessoa sai do mundo da lei e entra no da misericórdia. Sente-se feliz em conceder uma chance ao ofensor para que amadureça. Também não se alegra com a culpa ou a dor de outro.
Quem perdoa, demonstra claramente a falta do ofensor, sem o acusar. É um diálogo que menciona os vários aspectos da questão, com a finalidade de oferecer benefício para ambas as partes. É importante que o semblante do ofendido revele amor e não mágoa.
Quem perdoa nada quer de volta; pelo contrário, faz concessões. Presenteia o amor para quem não merece. Paga o mal com o bem, e sabe que não será correspondido.
Quem renuncia, dialoga e presenteia, faz um sacrifício. O perdoador sacrifica algo do seu eu, ao desistir dos seus direitos, uma coisa pela qual, no mundo, luta-se com "unhas e dentes". Pelo seu "eu", você reagiria com vingança, reabriria feridas e não desejaria fazer o bem para a vida do ofensor. No entanto, no perdão, você faz uma completa entrega do próprio ser. Você é capaz de se sacrificar através do perdão, para beneficiar alguém que lhe feriu?
Uma das mais poderosas mensagens que um crente pode pregar ao mundo é o perdão. As pessoas descobrirão que a nossa fé significa muito, se estivermos prontos para enterrar o nosso orgulho e admitir o perdão.
I. A ORIGEM DO PERDÃO
Você não consegue perdoar sem que esta capacidade venha de uma outra fonte. O homem peca infinitamente, mas só é capaz de perdoar finitamente.
Deus é esta fonte do perdão. Agora leia as referências abaixo e responda:
1) O que Deus fez com Sodoma (Gênesis 18.26)?
2) Para quê Deus está pronto (Neemias 9.13)?
3) Quem perdoa todas as tuas iniqüidades (Salmo 103.3a)?
4) Com quem está o perdão (Salmos 130.4)?
O crente foi e é perdoado por Deus. Isto nos é assegurado por Jesus, que quitou a dívida que o homem jamais pagaria. O perdão é antes de tudo o relacionamento entre você e Deus. Lembre que recebeu esta dádiva do Senhor e que Ele é capaz de lhe tornar perdoador também. Quando se perdoa, admite-se que Deus está no controle da situação. É Ele quem deve julgar e punir, se necessário. Quando vivemos o ideal divino, refletimos a sua misericórdia. Agora, não há mais aquela arrogante presunção que pode, por si mesma, decidir o que é bom e ruim. Não age mais como um deus. Por isso, o perdão é tão básico para a sua vida cristã. Se não existe salvação sem a cruz de Cristo, também não há cristianismo e vida cristã sem o perdão.
Responda as seguintes perguntas:
1. Quem foi e é perdoado por Deus?
2. Quem assegura o perdão de Deus para o pecador?
3. Por que o perdão é tão básico para a vida cristã?
O primeiro passo para perdoarmos aos outros é perdoarmos a nós mesmos.
Dificilmente desculparemos os outros se não perdoarmos a nós próprios. Aprendamos a aceitar a nós mesmos, para podermos admitir os outros em toda complexidade que Deus os criou. Se você é aceito pelo Senhor, possui a base da aceitação de si próprio.
O segundo passo é perdoar os outros
• Leia os textos a seguir e veja alguns exemplos de pessoas na Bíblia que praticaram o perdão: Gênesis 33.4; Gênesis 45.15; 1 Reis 1.53; Atos 7.60.
Jesus declarou que o crente deve perdoar. Leia Marcos 11.25 e complete:
"Quando estiverdes orando, perdoai ________________________ para que também vosso Pai que está no céu vos perdoe as vossas ofensas". Faça o mesmo com Lucas 17.4:
"Mesmo _______________________________________ e sete vezes vier ter contigo, dizendo: arrependo-me; tu lhe perdoarás".
O apóstolo Paulo também ensinou sobre o perdão. Leia Efésios 4.32 e complete: "Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos _______________________, como também Deus vos perdoou em Cristo".
Depois que você aprendeu que, para se praticar esta virtude, é preciso perdoar a__________________ e os ____________________________, pode se deter no ato do perdão em si.
1. O que não é perdão. As pessoas possuem a tendência de chamar de "perdão" o que realmente não é. Fazem coisas pequenas e julgam ter feito o bas¬tante.
a) Não é só esquecer. Se você sublimar a ofensa, escondê-Ia dentro do seu subconsciente, não adianta. Jamais esquecerá. Lá adiante, relembrará a ofensa e o perdão ficou pela metade.
b) Não é deixar o tempo sarar. É uma atitude de espera silenciosa e paciente pela mudança de quem errou. Mas, lembre-se do exemplo de Deus. Ele fez algo pelo pecador. O erro não aparece e nem desaparece por acaso. Deixar o tempo sarar é fugir da responsabilidade cristã. Para que haja perdão, o ofendido tem que agir.
c) Não é o ofendido mudar de idéia. Esta é uma atitude mental em que o ofendido prefere pensar que o erro não existiu. Mas o perdão é um ato que envolve alguém e, enquanto existirem pessoas envolvidas, o erro vai existir também. Não há ofensor sem ofensa.
d) Não é “fazer as pazes”. Quem errou tem de saber claramente que é um transgressor e pedir perdão. Neste caso, o fato das pessoas envolvidas voltarem a se relacionar como se nada tivesse acontecido não significa que o perdão foi concedido ou aceito, o que pode levar a uma relação desconfiada daí por diante. Para que o relacionamento se restabeleça sem traumas, tanto o perdoador e o perdoado têm de ter consciência da falha cometida.
e) Não é apenas dizer: "eu o perdôo”: Você não pode evitar a dor do sacrifício. Quem ama, perdoa. E padece, porque o "amor tudo sofre" (1 Coríntios 13.4,7). Somente as palavras, não causam efeito algum.
2. Como perdoar. Diante do que você já estudou até aqui sobre o perdão, aprenda agora uma maneira simples, porém eficaz, para perdoar. Ela inclui cinco passos. Quanto mais praticá-los, melhor resultado teremos. O perdão virá de sua própria natureza, de sua alma e de sua fé:
a) Seja realista. Faça uma avaliação do erro para que seja tomada uma atitude a partir da verdade. Se não fizer isso, você pode ser levado por exageros, emoções e inexatidões, enxergar tudo distorcido e tornar o perdão algo muito difícil de acontecer. Faça três perguntas: Qual foi exatamente o erro? Contra quem foi cometido? Quais são as conseqüências do erro?
b) Lembre-se de que também foi perdoado. Você perdoa não porque seja "bonzinho" ou melhor do que os outros, pois você é tão falho como qualquer outra pessoa e não está livre de ofender alguém. Sua disposição em perdoar, doando-se, independentemente do perdão ser aceito ou não, vem de uma disposição que Deus colocou em seu coração, pois se seu sentimento natural resiste em conceder o perdão quando o ofensor demonstra arrependimento, quanto mais quando o ofensor não se mostra arrependido.
c) Abra mão dos seus direitos. O mundo diz que você tem de agir contra a pessoa que o feriu, fazendo-a pagar pelo erro cometido. Não importa o quanto possa ser incompreensível aos homens, mas o perdão coloca o peso da reconciliação sobre a vítima do erro. Você "nega-se a si mesmo". Morre um pouco, a fim de perdoar. O orgulho, a justiça, os direitos e tudo mais desaparecem. Assim, todo o seu ser, o seu tom de voz, a sua expressão, os seus gestos e a sua intenção buscam a restauração do outro.
d) Pronuncie o erro. Tenha um diálogo sério, honesto e responsável. É reparador ouvir reciprocamente os vários aspectos do erro. Observe o que vai dizer e vigie sua língua (Leia Tiago 3.1-6). Se você foi ofendido, mostre através de atitudes que realmente perdoou.
III. AS CONSEQÜÊNCIAS DO PERDÃO
Quando você perdoa, permite que Deus também anule as sua ofensas.
Leia Mateus 6.14 e complete:
"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também ___________________________________________________________________________”
Além do perdão de Deus, você se livra de tensões, dificuldade para dormir e até de doenças. O seu crescimento espiritual não é prejudicado, e aumenta a sua capacidade de amar o Senhor. Evita dúvidas sobre a sua salvação. Você dá um belo testemunho aos outros. Estes benefícios espirituais do perdão atingem tanto o perdoador como o perdoado. E o mais importante: o nome de Deus é exaltado entre os homens.
DISCIPULADO
1. Pare um instante e reflita se você é uma pessoa difícil de perdoar. Faça o propósito de mudar, para ser abençoado por Deus ao praticar o perdão.
2. Se você conhece alguém que precisa praticar o perdão, converse com ele sobre os cinco passos para se perdoar, ensinados nesta lição.
3. Ore e peça a Deus que lhe conceda capacidade de desistir voluntariamente de seus direitos. Não deseje nada em troca e ofereça um sacrifício que resulte em recompensa para você e a pessoa envolvida.
AUXÍLIOS SUPLEMENTARES
Subsídio bibliológico
"Uma das táticas mais eficientes de Satanás para reduzir a eficácia dos cristãos é instigar atritos, facções, ciúmes, maledicências, calúnias ou simples falta de educação entre os crentes.
A falta de perdão não só divide o corpo como também destrói a alegria, age como um câncer ameaçador, remove o poder do testemunho e bloqueia o fluxo do Espírito Santo.
Nenhum de nós pode gabar-se de não ter culpa nesse aspecto. Portanto, não há necessidade de eu apontar o dedo acusador para você (ou vice-versa). Em vez disso, devemos reconhecer este problema constante sob os holofotes do Senhor. Para trabalhar como cristãos eficazes - especialmente em papéis de liderança - devemos estar livres da destruição causada pela falta de perdão.
Howard Bushnell escreveu: "O perdão é a necessidade mais profunda do ser humano e sua maior realização".
Charles H. Spurgeon proclama essa verdade de maneira mais direta. "Perdoar e esquecer", disse o grande pregador. "Quando você enterrar o cachorro louco, não deixe a cauda deste para fora!"
A igreja, porém, com suas inúmeras opiniões e personalidades diferentes, torna-se com freqüência um tribunal santo para decidir o que é "certo" ou "errado". Ninguém jamais concorda, no entanto, e o ressentimento e a amargura são simplesmente revestidos com trajes religiosos.
Como evitar a armadilha da falta de perdão? Isso é possível? E, se ela nos mantém amarrados, o que podemos fazer? (...)
Através de toda a história, Deus tem operado para levar os homens a uma relação sadia com ele e, a seguir, a uma relação correta com outros. As duas coisas estão atadas com a corda do perdão. Deus não pode perdoar-me até que eu tenha perdoado a outros.
Uma das mais poderosas mensagens que um crente pode pregar ao mundo é o perdão. As pessoas descobrirão que a nossa fé significa muito, se estivermos prontos para enterrar o nosso orgulho e admitir o perdão.
Se em um relacionamento há falta de perdão no coração da pessoa, e isto irá ditar a forma de todos os relacionamentos - quer compreendamos ou não o que está acontecendo (...)
Lewis B. Smedes, em seu livro Forgive and Forget ("Perdoar e Esquecer"), escreve: "Se você estiver tentando perdoar, mesmo que consiga isso aos poucos, se perdoar hoje, odiar novamente amanhã e tiver de perdoar outra vez no dia seguinte, então é um perdoador”.
Quase todos nós perdoamos amadoristicamente, às vezes. E daí? Neste jogo da vida, ninguém é especialista. Todos somos principiantes.
O perdão começa dentro de nós. Mesmo que possamos justificar a construção de fortalezas em nossos lares e igrejas, para isolar nossos muitos ressentimentos e diferenças, devemos perdoar antes que Deus possa usar-nos poderosamente (Orgulho Fatal, CPAD, págs. 191, 198,199)
GLOSSÁRIO
Concessão: Ação de conceder; permissão, consentimento.
Inabilidade: Que não tem habilidade; sem destreza ou competência; inapto.
Irrestrito: Não restrito; amplo, ilimitado.
Presunção: Vaidade, orgulho; pretensão.
Reciprocamente: Que tem reciprocidade; troca, permuta.
Renúncia: Ato ou efeito de renunciar; desistir de; abdicar.
VERIFIQUE O QUE VOCÊ APRENDEU
1. O que é perdão?
2. Do que o crente precisa desistir voluntariamente para perdoar?
3. Quem é a fonte de perdão para o crente?
4. Que ideal o crente vive ao praticar o perdão?
5. Cite os cinco passos para se conceder o perdão.