Carta 051

01/12/2015 14:01

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Resposta, em 1/12/2015

Prezado irmão (...), que a paz do Senhor Jesus seja com todos!

 
Apesar de estar um pouco atarefado com os preparativos do seminário deste final de semana, li todo o seu e-mail e, também, os slides do estudo que você transmitiu à igreja. O conteúdo e a apresentação demonstram o quanto você tem se esforçado para fazer o melhor possível para contribuir com a edificação da igreja. Parabéns!
 
Quanto aos slides, notei que você posicionou o ministério do mestre acima do ministério do pastor, o que pode ter gerado um desconforto da liderança de sua igreja. Por certo, alguns podem tê-lo achado presunçoso, especialmente pelo fato de você estar se dedicando ao estudo bíblico de modo diferenciado.
 
Quanto à reforma da ICM, não acredito que acontecerá. É mais provável que haja algum racha futuramente, o que eu não desejo e nem fico feliz com isso. Imagino que o controle da Maranata não sairá das mãos da família Gueiros. E os poucos que eu conheço utilizam a mesma cartilha que o Pr. Gedelti. Logo, não espero grandes mudanças.
 
Vou usar a experiência passada para justificar meu pensamento.
 
Aqui em Brasília a Igreja Batista Central de Brasília (IBCB) foi contemporânea na criação com a Igreja Cristã Maranata (ICM). Enquanto a Maranata nascia no Espírito Santo, a IBCB nascia por aqui. Sou testemunha dos dois fatos. Enquanto nesses 47 anos a ICM cresceu e se espalhou em pequenas unidades por todo o Brasil, a Batista Central de Brasília avolumou-se em um só lugar, concentrando-se, em maior medida, aqui mesmo. Inúmeras pessoas foram curadas milagrosamente no ministério do Pr. Vilarindo, inclusive a minha sogra. Outras milhares se converteram em seus cultos, inclusive meu cunhado, Pr. Delfino.
 
Ambos os trabalhos são dignos de louvor, diga-se de passagem. Entretando, os dois entraram em declínio ou, pelo menos, deixaram de avançar tanto quanto poderiam. O que estou dizendo pode ser contestado, é claro, mas é o modo como eu enxergo os fatos e eu não excluo a possibilidade de estar equivocado em um ou outro aspecto.
 
A IBCB, como eu disse, teve um crescimento incrível, não só pelas manifestações extraordinárias por meio da vida do Pr. Vilarindo, mas pela quantidade de vidas alcançadas. A formação de uma igreja enorme, entretanto, tem seus problemas, como todos sabemos. As pessoas das mais diversas localidades que se concentram em um só lugar se tornam apenas números e a comunhão fica prejudicada. A solução seria, então, a criação de "células" espalhadas por várias regiões e, se não estou enganado, essa estratégia favoreceu sucessivos desmembramentos. Pelo que sei, há diversas congregações formadas a partir de dissidências na IBCB.
Além disso, com o envelhecimento e enfraquecimento do Pr. Vilarindo, iniciou-se uma silenciosa disputa pela sucessão naquele ministério. Curiosamente, o poder continuou na família, apesar da rejeição de muitos, que afirmam que ele não era a pessoa com reputação adequada para o posto. Mesmo assim, hoje, quem preside a IBC é o Pr. Ricardo Espíndola, neto do Pr. Vilarindo. As histórias dessa sucessão geraram muitos outros registros que indicavam uma decadência espiritual da igreja. E para fomentar ainda mais as desconfianças sobre essa realidade espiritual, em 2012 o pastor Rubens Ferreira, da IBCB, um dos fundadores das igrejas Batistas do Guará 2 e de Ceilândia Norte/DF,  foi preso, acusado de integrar uma quadrilha de estelionatários. Na ocasião, a polícia informou que havia cinco outros mandados de prisão em aberto contra o pastor. Contudo, a igreja não foi significativamente abalada. Como uma boa batista, ela prossegue com milhares de membros.
 
A propósito, nós bem sabemos que várias outras denominações cujas lideranças se envolveram em terríveis escândalos não são abaladas ao ponto de se desfazerem. Algumas até continuam crescendo, como é o caso da Igreja Universal, da Mundial, da Renascer em Cristo, da Quadrangular etc.
 
No caso da ICM, sabemos que ela tinha tudo para prosseguir com muitos bons frutos. Congregações pequenas, mas bem estruturadas, boa comunhão entre membros, cultos modestos e regionalizados etc. Tudo isso favorece a intregração das comunidades locais. Aliado a isso, uma boa disciplina, um sistema financeiro ajustado e um controle rígido sobre levantamento de pessoas ao serviço ministerial preservam a unidade. Enfim, a ICM parecia ser um porto bem seguro, apesar de algumas questões doutrinárias questionáveis, como você mesmo referiu. Com os fatos sobre desvio de recursos de dízimos, em 2011, alguns dos importantes requisitos dessa estabilidade foram atingidos. Mesmo assim, a exemplo do que ocorreu com a IBCB, penso que nem mesmo as suspeitas que recaíram sobre o Pr. Gedelti serão suficientes para mudar o poder da família Gueiros para qualquer outra. E como em nenhum momento percebi uma atitude humilde da liderança da ICM diante dos erros comprovados, não é de se esperar que eles sejam humildes a ponto de reconhecer que alguma de suas doutrinas necessitam de ajustes. É necessário muita humildade para reconhecer erros e essa não parece ser uma característica da Igreja Maranata.
 
Espero estar errado!
 
No que diz respeito à Igreja Cristã Celeiros, prefiro não pensar no que seremos, mas no que somos e no que estamos fazendo. Também, não quero olhar para os lados, pois tenho muita convicção do meu chamado e da revelação de Deus para este projeto. Se nas bases do ensino doutrinário sobre a salvação somos idênticos a qualquer igreja evangélica tradicional, não acontece o mesmo em relação a algumas de nossas práticas. Nisso, sim, somos diferentes, especialmente na questão material e de dízimos. Nesse ponto, decidimos viver pela fé. Se Deus nos chamou para vivermos com menos, estamos apenas aceitando resignadamente a vontade do Senhor - contentes em qualquer situação. Por isso, não quero agregar ninguém que não esteja disposto a pagar o preço que estamos pagando.  
 
Mas, como bem sei das dificuldades de ser pequeno em meio a gigantes, tenho sido incomodado por Deus a fazer algo por quem está passando pelo que nós já passamos. Por isso, estou preparando um projeto de Associação para que pequenas igrejas independentes, mas desestruturadas, possam se unir para usufruir benefícios da união de esforços. Por exemplo, muitos pequenos grupos não conseguem pagar um contador, ter um site ou fazer um seminário sozinhos. Mas, uma Associação poderia fornecer tudo isso para o conjunto sem que seja necessário que haja uma só placa denominacional. Acho que essa pode ser uma boa saída para quem deseja desenvolver um ministério independente, mas precisa de ajuda. Como eu tenho uma boa experiência nessa área, vou apresentar uma proposta em breve, se possível, no seminário deste final de semana.
 
Enfim, amado, se deixei escapar alguma de suas dúvidas, avise-me que respondo assim que possível.
 
Como não tenho publicado nada no site ultimamente, apenas para não deixá-lo estagnado vou publicar apenas esta resposta, já que seu e-mail contém dados que, acredito, você não gostaria de expor. 


O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

 
Pr. Sólon