Construtor e construção

Construtor e construção

Por: Dr. Ézio Luiz Pereira

 

“19. Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei.

20. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado esse templo, e tu o levantarás em três dias?

21. Mas ele falava do templo do seu corpo”.

(João 2: 19-21)

 

 

Subjaz, numa situação comunicativa, uma série de mensagens implícitas através das quais o locutor pretende transmitir uma linha de pensamento, dentro de um veículo comunicativo, daí a necessidade de distinguir os tópicos textuais expressos em seu contexto, mergulhando nos conceitos utilizados e na construção fraseológica por meio da qual o emissor transmite o seu recado, não pela aparência do que se diz, mas pela essência do que se pretende transmitir.

 

Não raro, há mensagens subliminares e implícitas, contendo elementos ligados a conceitos abstratos, que interferem no processo interpretativo, vale dizer, propagam mensagens persuasivas escondidas nas linhas do texto comunicativo e transmitem, inconscientemente (para quem ouve ou lê), uma idéia distorcida da verdade. Esta investigação epistemológica se enveredará especificamente pelo campo teológico bíblico, no intuito de diferenciar: Construtor (leia-se: O Deus Trino) e a Sua Construção (leia-se também: Obra, Edificação, Edifício, Criação/Criatura). Confundir conceitos altera a conclusão interpretativa.

 

Importante, pois, não só o tanto e o como se diz, mas – sobretudo – o que os destinatários da mensagem entendem aquilo que é dito. Portanto, esta singela incursão teórica teológica pretende estabelecer uma distinção visando uma corrigenda necessária, no campo da adoração ao Deus Todo-Poderoso, entre o Construtor e a Sua Construção, para não se incorrer na heresia simulada de adorar a Construção (Obra, Edificação, Edifício etc.) em detrimento do Construtor (O Senhor Eterno), desprezando o Nome de Quem é digno de adoração. Assim é que, no texto em epígrafe, verificar-se-á a existência de um quadro bíblico no qual se constata a presença de um Construtor e uma Construção e sobre esse diálogo entre Aquele que faz (O Senhor Deus Criador) e Aquilo que é feito (a Sua Construção/Obra/Edificação).

 

Decerto, há grandes segredos na comunicação de mensagens com a utilização de signos que comportam significados e sentidos distintos do próprio signo, do próprio símbolo/tipo linguístico, de maneira que os interlocutores, numa (in)consciência coletiva absorvem, por aquilo que é transmitido reiteradas vezes, numa mensagem implícita sem perceberem o que está sendo plantado na mente de quem ouve e crê, em distorções da verdade bíblica, com a utilização de símbolos linguísticos fragmentados contendo figuras de linguagens e vocábulos polissêmicos (com vários sentidos), em finalidade indutiva. Decerto, a expressão “Construção” (ou edificação, ou edifício, ou obra) possui vários sentidos, dependendo de quem os interpreta. Isso é muito perigoso. Sobre vocábulos polissêmicos de conceito abstrato pode se induzir uma pessoa (ou várias) a uma idéia falsa, relativa e subjetiva. Eis uma estratégia muito utilizada para manipular.

 

A partir da informação/afirmação transmitida pelo emissor, o leitor/ouvinte almeja construir uma representação coerente, com sustentáculo em seus dados de conhecimento apriorístico conceitual e deduções pessoais que o conduzem a estabelecer um entendimento e uma posterior aplicabilidade daquilo que lhe foi transmitido e, dependendo da sagacidade do emissor, a mensagem é distorcida do real e da veracidade do que diz a Palavra de Deus e é plantada num inconsciente imperceptível de tal forma que dirige o consciente do cristão por longos anos, sem que ele perceba a impregnação mental, pois que construiu o pensamento em expressão polissêmica e de cunho subjetivo e o crente manipulado não admite questionamentos porque acredita piamente que a mensagem (distorcida) é uma “revelação” de Deus. Afinal, corrija-se: o Construtor é definido e perfeito; a Construção, não.  

 

Observa-se, casuisticamente, um quadro distorcido, no plano da adoração ao Construtor (leia-se: Senhor Deus). No fundo, utiliza-se um texto “espiritual” com aparente base bíblica, com disfarçada linguagem hipnótica, porém a mensagem transmitida é fundamentalista/sectarista/exclusivista. Adora-se, destarte, a “Construção” (leia-se: religião, obra em edificação, organização, criação, criatura, edificação etc.), aparentemente em confusão com o Construtor, em detrimento Desse Construtor Eterno e Perfeito. Transmuda-se, simbolicamente, o Nome do Construtor. Contudo, o Nome não deve ser alterado ou substituído.

 

Nesse sentido equivocado, quem leva o ser humano à salvação não é o Construtor, mas a Construção, num indisfarçável objetivo sectarista. Nesse sentido, a construção toma lugar de maneira altissonante e imperceptível, numa subserviência do crente à organização eclesiástica que a cegueira é como de um cego que não quer enxergar e não admite, sequer, enfrentar o assunto. Isso implica numa idolatria disfarçada, sem que se perceba, porquanto a aparência carrega uma tese sedutora e altamente persuasiva, até que a escama caia dos olhos do seguidor.

 

Ora bem, construção é derivação e a efemeridade é uma de suas características. Construção está em andamento, por isso “está sendo feita” e se está sendo feita é porque não nasceu pronta. Precisou ser feita e se precisou ser feita, ela não é preexistente, e se não é preexistente não é eterna; o Construtor é Eterno. Não se intercede para o “aperfeiçoamento” do Construtor porque Ele não necessita ser “aperfeiçoado”, pois Ele já é Perfeito. A Sua Construção, entretanto, necessita de aperfeiçoamento, daí a necessidade de se interceder pelo aperfeiçoamento da Construção (leia-se: edificação, obra, edifício etc.). Essa diferenciação é altamente significativa no campo da adoração ao Construtor Eterno, mercê da tendência em se materializar a adoração.

 

Do ponto de vista teológico, na Teoria Monista, o mundo (construção: obra criada) é uma emanação de Deus (Construtor) e isso conduziu ao Panteísmo, doutrina herética segundo a qual Deus e a Sua Obra se confundem (Deo sive natura), na doutrina da “imanência” (ao contrário da transcendência). Então, Deus é a Sua Obra, e a Sua Obra é Deus, numa confusão entre Construtor e Construção. “Um é o outro e o outro é o um”. Entrementes, cultuar a construção em detrimento do Construtor configura idolatria, ainda que com uma máscara espiritual. Decerto, Deus (O Construtor) ocupa um lugar único, de modo que só Ele deve ser adorado e exaltado (Êxodo 20: 2-3). A construção não está acima de tudo na vida do crente; o Construtor, sim, está. A construção passa; o Construtor fica e fica eternamente.

 

Assim é que, o Construtor transmite a Sua mentalidade ao Seu servo; a construção, não transmite, porque a construção não tem “mentalidade”. Quem adquire a “mentalidade” da construção, perde a do Construtor. Diz o texto bíblico: “Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2:16). Pelo texto citado, a mentalidade é do Construtor ou da Construção? É intuitiva a resposta. Quando se perde, numa ignorância coletiva, sem se questionar em que se crer ou naquilo que se adora, cair-se-á numa heresia idólatra. Aí reside o problema.

 

De certa forma, esta investigação implica numa questão ontológica, notadamente porque envolve conceitos ônticos, vale dizer: o ser-em-si (“choque metafísico”) no discernimento da diferença de Entes na adoração. Sob esse viés, ocorre confusão amiúde quando a ênfase é – hereticamente – deslocada, simbolicamente (o ser humano é um ser simbólico e a sua compreensão é veiculada por símbolos/tipos, sobretudo linguísticos) para a Construção (Edificação, Obra, Edifício ou outro nome qualquer), porquanto esse perfil ofusca (ou tenta ofuscar) o Construtor Único. Contudo, esse procedimento não é inocente. Ao revés. Possui um condão exclusivista, alienador, manipulador, catequizador etc. É tão opressor que, a reboque, surge um discurso religioso arrogante, ameaçador com “pragas eternas”, e intolerante.  

 

Nesse quadro, o olhar se volta para uma polaridade na qual se observa uma relação de “sujeito” (sub + jectum = “o que é lançado na base”) e objeto (ob +  jectum = “o que é lançado por cima da base, posteriormente, em derivação”), dito de melhor forma: Construtor (Sujeito Eterno) e Construção (Objeto feito, Obra). Quem, afinal, conduz à salvação eterna: Construtor ou Construção? Com esses elementos informativos acima, a resposta surge límpida para quem tem olhos de bem enxergar a mensagem bíblica. No texto de Isaías 9: 6, a Escritura Sagrada indica o Senhor Jesus, o Messias, como “Maravilhoso”, no original tem-se um superlativo inigualável. A quem, pois, é dado o Título Messiânico: Construtor ou Construção? A interpretação correta responde por si.

 

No plano das estatísticas, se nota em preleções e pregações evangélicas atrás dos bonitos púlpitos, uma ênfase exacerbada na Construção, quando o pregador arvora ênfase na Construção, com exaltação reiterada de “mediadores” (e “submediadores”) nomes humanos, organizações eclesiásticas, lugares, obra de Deus, natureza, criação, criatura ou – o que é pior, talvez – exaltação de si mesmo, em detrimento do Grande Construtor, cujo Nome é mencionado timidamente, no plano qualitativo e quantitativo. Aqui, porfia-se pelo retorno à adoração ao Construtor, sem os desacertos teológicos que se vê amiúde. O Construtor faz questão de Seu Nome. Não admite substitutivos.

 

Diz o Texto Sagrado Neotestamentário: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Atos 2:21). Invocar o Nome do Construtor; não da construção. Então, a ênfase qualitativa e quantitativa será em o Nome do Construtor. Decerto, “a boca fala do que está cheio o coração”, de sorte que a repetição, exacerbada sobre a construção, abolindo o Nome do Construtor, revela a ênfase na adoração desvirtuada e isso trará consequências nocivas ao adorador que pretende adorar ao Senhor em espírito e em verdade. Indagação salutar: o Nome do Construtor poderá ser substituído por um “sinônimo”? A Palavra de Deus responde.  

 

“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos”

(Atos 4:12)

 

“A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”.

(Atos 10:43)

 

“E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido”.

(Atos 19:17)

 

“9. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;

10. Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra”.

(Filipenses 2: 9-10)

 

Deveras, Deus deu existência à realidade sensível e visível, através de sua Obra, contendo um objetivo e uma finalidade de adoração ao Seu Grande Nome, porque Deus, aqui chamado de Construtor, é eterno. Contudo a Obra (Construção) de Deus não pode ser objeto de adoração, pois a ênfase do Nome de Deus é imprescindível na adoração. Deus será adorado e cultuado. Outra indagação: o que se diz da obra criada por Deus e a sua efemeridade, em exemplos bíblicos? Veja abaixo.

 

“9. Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; acabam-se nossos anos como um conto ligeiro.

10. A duração da nossa vida é de setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado, pois passa rapidamente, e nós voamos”.

(Salmo 90: 9-10).

 

“E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas”

(Mateus 24: 29)

 

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”.

(Mateus 24: 35)

 

“E vi um novo céu, e uma nova terra, porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”.

(Apocalipse 21:1)  

 

Na sequência temática, texto bíblico bastante elucidativo, no que toca à adoração, é o encontrado no Evangelho de João, em seu capítulo 4, no qual Jesus traz um ensinamento altamente significativo e esclarecedor, ministrando uma aula acerca da verdadeira adoração e muitos não compreenderam. Nele se vê num dado momento daquele diálogo memorável de Jesus com uma mulher samaritana, a distorção que aquela mulher fez – preocupada com o lugar onde se deve adorar (em leitura atual: preocupada com a instituição eclesiástica “perfeita”) – ao injetar, na adoração, ênfase a um lugar construído por Deus (Construção), tal seja: monte sagrado: Gerizim ou Jerusalém.

 

Em antítese ao seu pensamento humano, O Senhor Jesus lhe responde, deslocando o foco da Construção, do lugar (organização eclesiástica, instituição denominacional supostamente perfeita, templos, local sagrado, edificação, obra, edifício) para o Construtor. Ele deslocou o “onde” para o “como”. Ele deslocou o lugar para o modo. Assim é que, a adoração ao Pai (Deus-Pai) deve ser em Espírito (Deus-Espírito Santo) e em Verdade (Deus-Filho).  Eis abaixo o texto em referência.

 

“20. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.

21. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.(...).

23. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”

(João 4: 20, 21 e 23)

 

Deus não se deixa “encaixotar”, num herético monopólio, num hermético discurso, dentro de uma organização eclesiástica, dentro de uma mentalidade humana, dentro de uma “construção” (obra, edificação, edifício etc.), haja vista a Sua transcendência, a Sua imortalidade, a Sua soberania, a Sua Majestade etc. Deus não está inserido no binômio tempo/espaço. Ele não está enclausurado nos dogmas religiosos, nem mesmo em Sua obra. Pensar o contrário estar-se-ia coisificando o que é eterno, pois Ele habita numa dimensão divina. Decerto, o Construtor não se confunde com a Sua Construção. A própria a construção glorifica o Construtor. Toda a obra de Deus O glorifica. Vai dizê-lo o Salmo 8. Qual, portanto, o “Nome admirável sobre toda a terra”, segundo esse Salmo? O Construtor ou a construção? O próprio Texto Sagrado responde. Nem se diga que a confusão não existe porque existe e se vê amiúde de forma sutil.

 

À sombra dessa idéia, verificar-se-á que, no mesmo livro neotestamentário, mais adiante, uma multidão questiona ao Senhor Jesus e eles preocupados com a ênfase na “obra” (diferentemente dos verdadeiros discípulos que aprenderam a adorar o Construtor), perguntaram a Jesus: “Que faremos para executar as obras de Deus?” (João 6:28). O Senhor Jesus, então, desloca o foco da Construção (obra de Deus) e foca em Si, enfatiza o Construtor: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais nAquele que Ele enviou” (João 6: 29). Ele fala da fé (Sola fide), fala de Si (Solus Christus), fala do Pai (Jeová = YHWH) e fala da verdadeira adoração em Unidade Perfeita.   

 

Num próximo momento investigativo, cumpre buscar o significado de “Construtor”, “Construção” e “Obra”, na linguagem do dicionarista, mergulhando nos termos da sinonímia apresentada, observando que os vocábulos não se confundem. Tenha-se em mente que: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3 – em referência ao Senhor Jesus, o Verbo Criador); não na construção. Veja abaixo[1].

 

construtor – adj + SM (lat. constructore) Que, ou aquele que constrói, ou sabe e pratica as regras da construção (...)”.

 

construção – sf (lat. constructione) 1. Ação de construir. 2. Arte de construir. 3. Edificação, edifício. 4. Modo como uma coisa é formada. 5. Compleição, organismo.(...)”.

 

obra – sf (lat. opera) 1. Coisa feita ou produzida por um agente. 2. Resultado de uma ação ou trabalho. 3. Ação, feito. 4. Manobra, operação, trabalho. 5. Edifício em construção (...)”       

 

Paulo, ao escrever para os romanos, usou de rigorismo quando observou que alguns adoradores estavam adorando – talvez em sinceridade e boa intenção, mas em equívoco – Construção (obra, edificação, edifício, criatura, criação) em detrimento do Construtor, de sorte que, possivelmente, o discurso herético era regado e inchado pelo vocábulo referente à construção, apequenando o Nome do Construtor Perfeito e Eterno. Veja aqui.

 

“Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém”.

(Romanos 1:25 – o grifo não consta no original)

 

Pela fé Abraão, em momento pré-legalista, numa visão profética, avistou uma cidade celestial, a Jerusalém eterna e distinguiu a cidade (construção) do Artífice (Construtor), quando se lê o texto encontrado em Hebreus 11:10: “Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus”. Diga-se, uma vez mais: Construtor e construção não se confundem. Deus não é a Sua Obra e somente Ele (Construtor) é digno e o destinatário de toda a adoração e exaltação, de modo que o desvio dessa doutrina bíblica constitui heresia, culminando com idolatria, ainda que por via oblíqua. A obra depende de Deus; Ele não depende da obra. O Construtor tem vida em si e para si; a Construção depende das mãos do Construtor que lhe dá vida.

 

No texto bíblico transcrito em epígrafe, encontrado em João 2: 19-21, há alguns elementos interessantes e uma mensagem profunda, na qual se nota que o Senhor Jesus lançou um desafio que derrubava um pensamento plantado durante anos, com o foco na construção. Assim é que, diante do templo de Salomão, uma obra orientada por Deus em seus detalhes (e aquela obra de Deus havia quarenta e seis anos de construção). Era admirada pela sua imponência e grandiosidade. Quem poderia imaginar que o Senhor falaria de sua desconstrução e de seu declínio?  Contudo, Jesus estava propondo o deslocamento do foco da adoração equivocada do templo (construção) para o Cristo de Deus (Construtor). É possível (eis uma conjectura) que se os fariseus não tivessem enfatizado tanto a construção ela não teria sido destruída. Veja aqui.

 

Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura”.

(Isaías 42: 8 – o grifo não consta no original)

 

É possível encontrar, na cotidianidade, pessoas que não questionam a doutrina que lhe é transmitida, de forma que a obra (construção), como aquele templo – ainda que de quarenta e seis anos – toma lugar no coração do crente e ele se envereda, inconscientemente, por uma adoração desvirtuada. Entanto, Jesus quer renovar a mente do servo de Deus (servo do Construtor; não da construção), para que ele possa experimentar a verdadeira vontade de Deus, tal como proposto por Paulo em Romanos 12:2, texto no qual se lê:

 

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, perfeita vontade de Deus”.

(Romanos 12:2 – os grifos não constam no original)

 

Ao volver o olhar para a construção, com desvio na adoração e no culto, corre-se o risco de nela se aninhar, mas o ninho transmite uma idéia de algo efêmero para o filhote, por um curto tempo, lugar de pássaro ainda imaturo, que não provou os grandes vôos espirituais. O problema do ninho é que ele sucumbe às tempestades, pois é feito de fragmentos frágeis de madeira seca. Aninhando-se nesse ninho, tal como, em outro exemplo bíblico, a estagnação daquela embarcação feita de madeira que naufragou com Paulo, pois era apenas uma construção, suscetível aos naufrágios, pois importava para aqueles navegadores chegar à terra firme (ilha de Malta, descrita em Atos dos Apóstolos).

 

A despeito da construção, o Construtor é inabalável, pois é perfeito, justo e eterno, diferentemente da construção tão admirada, em desacertos na adoração. Em tom de conclusão, nada melhor do que encerrar este singelo estudo bíblico, transcrevendo uma exaltação ao Eterno Construtor, conforme segue abaixo. E o Deus Construtor abençoe a todos nós (pequenas construções).

 

“9. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.

10. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos; Ele é o Rei da Glória”

(Salmo 24: 9-10)

 

Sobre o autor:

Dr. ÉZIO LUIZ PEREIRA

Juiz de Direito – ES

Doutor em Teologia (ênfase em Soteriologia) pela Fatef/RJ

Mestre em Teologia (ênfase em Bibliologia) pelo SBTe – MG

Membro de igreja evangélica na linha protestante

Mestre em Direito das Relações Privadas pela FDC – RJ

Especialista em Direito Constitucional pela Consultime - ES

Membro da Academia Brasileira de Mestres e Educadores

Membro da Academia Cachoeirense de Letras

Practitioner em Programação Neurolingüística pelo INDESP

Palestrante, professor, articulista e escritor

Autor de quatorze obras literárias publicadas

Ex-procurador da Caixa Econômica Federal

Site: www.ezioluiz.com.br

e-mail: juizezioluiz@gmail.com

 

 


[1] MICHAELIS, Moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998, p.568.