Carta 55

02/07/2013 12:45

De: JOÃO

Enviada em: quinta-feira, 23 de julho de 2009 00:04

Para: pastor-solon

Assunto: Ajuda

  A paz do Senhor Jesus

  Caro Pastor Solon,

 Somos uma família que vivemos em Portugal, eu, JOÃO, sou brasileiro, minha esposa, MARIA, é portuguesa, temos uma filha, MARIAZINHA, de quase 2 anos e minha esposa está grávida novamente, neste momento estamos a congregar na Assembléia de Deus (onde o meu padrasto é pastor) estamos numa fase de adaptação pois passamos muitos anos na Maranata e estamos saindo agora. Muitas situações na Maranata nos machucaram e nos levaram a decidir a nossa saída, nunca pensei que a Maranata fosse exclusiva mas sempre achei as outras igrejas “igrejas de segunda”. A poucos dias recebemos uma circular dada pelo presbitério da Maranata falando acerca da adoração ao Senhor. A partir de agora os irmãos não poderão mais usar as palavras “obrigado”, “pai do céu”, “paizinho” pois aos olhos deles estamos a tratar coisas santas como vãs. Essa circular foi como uma confirmação de saída, pois isso e anti-bíblico, Jesus nos ensinou a orar “Pai nosso que estais nos céus” algo com intimidade e liberdade e para não estarmos em desobediência foi melhor sair.

Ficamos sabendo o seu caso e o do Pr. Ademir e como vocês já passaram pelo que estamos passando agora talvez nos poderiam ajudar.

 Queria vos contar nossa historia.

 Eu (JOÃO) me converti jovem, em 1996 com 16 anos, e desde os 17 era obreiro na ICM. Quando vim para Portugal dei seguimento ao trabalho na casa do Senhor.

 Minha esposa (MARIA) cresceu numa igreja bem “animada” as pessoas quando recebiam oração caiam havia muita gritaria, ela era muito nova e começou a ter medo de Deus, não gostava de receber oração do pastor pois ele gritava pra orar pelo povo etc... até que ela desviou. Uns anos depois a mãe dela falou da Maranata e quando ela visitou gostou muito pois teve ali uma experiência com Deus sem medo sem reboliço e ali voltou pros caminhos do Senhor.

 Depois de nos casarmos fomos morar em Barcelona, Espanha, e quando lá chegamos não tinha igreja, tinha apenas um trabalho. O Senhor nos usou muito lá e quando saímos de lá já tinha uma igreja com uns 50 membros.

 Saímos de Barcelona e ficamos em Belfast, Irlanda do Norte, uns 4 meses e agora estamos em Portugal para ter o bebê.

 Aqui em Portugal decidimos congregar na igreja do meu padrasto o tempo que aqui estivermos. Eu não tenho tido muita dificuldade de adaptar-me, por outro lado minha esposa está sentindo muita dificuldade de adaptação pois na Assembléia as coisas são muito diferentes da maranata...

Por isso gostaria de conhecer um pouco a vossa igreja pois não sei se assemelha em alguma coisa a maranata....

 alguma igreja aqui em Portugal?

 Quanto tempo demora cada culto? Tem todo o dia?

 Vocês começam os cultos com o clamor pelo sangue de Jesus?

 Os vossos pastores são assalariados? Para ser pastor e essencial ter curso de teologia?

 Vocês pedem ofertas nos cultos?

 Vocês fazem “batalha espiritual”?

 Gostaria de saber como funciona mais ou menos a dinâmica da vossa igreja.

 Na maranata não se vê o demônio se manifestar então ninguém expulsa e o povo não esta preparado para lidar com o diabo, mas a bíblia fala “em meu nome expulsareis demônios”.

 Na maranata os pastores não são assalariados mas a bíblia fala que “digno e o obreiro do seu salário” e no velho testamento os sacerdotes comiam das ofertas do povo.

  Imagino que vocês tenham passando por essas questões e uma luta que se levanta no nosso interior.

Aguardamos respostas,

Saudações em Cristo.

JOÃO.   Viva o Rei !!!

 

 

 

De: Solon Lopes

Enviada em: sábado, 25 de julho de 2009 17:16

Para: JOÃO

Assunto: RES: Ajuda

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja contigo.

Inicialmente, agradeço a confiança que você depositou em nós, a ponto de nos escrever e contar um pouco de sua trajetória.

Quando comecei a ler sua mensagem, não acreditei que o Presbitério Espírito Santense da Igreja Cristã Manarata realmente tivesse orientado seus pastores e membros a não utilizarem em suas orações as palavras: “obrigado; muito obrigado; pai do céu; paizinho do céu”. Então eu consultei minhas fontes de informação e obtive a referida Circular (Comunicado 33/09, de 9 de julho de 2009). Perdoe a minha desconfiança, mas a notícia me pareceu um tanto surpreendente, vamos dizer assim.

Como você é um conhecedor da palavra de Deus, creio que comentários sobre essa circular são dispensáveis, por isso vou me ater ao restante de sua carta, ok?

Você é um privilegiado por ter conhecido o Senhor ainda jovem e desde então se envolvido com o trabalho de alcançar almas para o Reino de Deus. Assim, com um coração voluntário, há galardão para aqueles que são colaboradores neste mister.

“6  Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. 7  De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. 8  Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. 9  Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós.” (1 Coríntios 3:6-9 RA)

“16 Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17 Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. 18 Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá.” (1 Coríntios 9:16-18 RA)

Quanto ao que você disse sobre sua esposa, compreendo o que passou na igreja em que cresceu e sei que essas coisas acontecem, de fato. Pessoalmente, após muito tentar entender essas manifestações, aprendi a não rejeitá-las antes de observar o fruto produzido nas vidas das pessoas que participam dessas reuniões e que professam a Jesus como salvador.

“Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.” (Mateus 12:33 RA)

Desde que compreendi esse versículo bíblico, passei a olhar não para o que acontece em um culto, mas para o que acontece no caráter das pessoas após o culto, pois dentro da igreja é fácil ser, ou parecer, crente. Mas, não estou dizendo que sua esposa não tenha suas razões para preferir um culto tradicional. Eu também me sinto muito bem quando participo de um culto tradicional. Aliás, eu me sinto bem em qualquer reunião evangélica. Só sinto quando a palavra de Deus e seu fundamento central não estão em seu devido lugar.

Quanto às diferenças entre a ICM e a Assembléia de Deus, você tem razão. A Assembléia de Deus é muito diferente da Maranata. Sobre essas questões de sair de um lugar e não se adaptar em outro já escrevi algo a respeito. Veja na seção de cartas do site (www.pastorsolon.com.br) a carta de número 49.

No que diz respeito à CEEN, também é muito diferente da ICM. A essência do evangelho e da salvação é idêntica, pois essas não têm como mudar, não é mesmo? Entretanto, o formato, os métodos, a visão e modo como nos relacionamos é diverso.

Agora, vou tentar responder suas indagações, não como representante da CEEN, pois a CEEN tem outros ministérios e eu não tenho autorização para falar pelos outros. Vou falar sobre o ministério da Igreja do Setor O da Ceilândia, CeenSO, do qual eu sou o pastor e por meio do qual tenho aberto trabalhos fora da minha cidade.

“ALGUMA IGREJA AQUI EM PORTUGAL?”

Não temos igreja em Portugal, mas temos um irmão daí que tem acompanhado o nosso trabalho já há algum tempo. Ele esteve aqui em Brasília neste mês de julho e participou do nosso seminário de Encontro com Deus. Você pode ver o testemunho que ele deu após o seminário na galeria de vídeos do site (Galeria – vídeo-clipes - 2º Encontro com Deus CeenSO/2009–testemunho de participantes). O testemunho do Adriano é o primeiro da parte 2.

 “QUANTO TEMPO DEMORA CADA CULTO? TEM TODO O DIA?”

A duração, a frequência ou o formato dos cultos ficam a critério do ministério local. Por exemplo: o pastor tem liberdade para fazer um culto de 30 minutos ou de 3 horas. De igual modo, o pastor pode fazer quantos cultos por semana ele entender produtivo. Para nós, o que importa é o resultado e não o método. Desde que a essência não se perca (o evangelho da salvação e a edificação do corpo de Cristo), não há imposições ao ministério local, no que diz respeito à forma de culto. O fruto demonstrará, ao final, que tipo de trabalho vem sendo desenvolvido.

“VOCÊS COMEÇAM OS CULTOS COM O CLAMOR PELO SANGUE DE JESUS?”

Pessoalmente, eu não faço isso, até porque não vejo como sustentar esse ritual como “doutrina” bíblica, mas nada impede que um pastor local faça assim, se ele entender que não alcançará comunhão com Deus de outro modo.

Não quero aqui desenvolver um estudo sobre oração, mas vou apenas tentar mostrar-lhe alguns pontos para que você perceba que o “clamor pelo sangue de Jesus”, como um ato litúrgico não deve ser considerado como um doutrina bíblica, embora não haja problema que alguém inicie sua oração assim, se desejar.

Primeiro ponto: o importante e o essencial estão escritos na Bíblia

O Senhor Deus, por meio de seus apóstolos, orientou a igreja quanto às coisas importantes e essenciais que deveriam ser praticadas e não incluiu que se clamasse pelo sangue de Jesus antes de um culto, de uma reunião ou de uma oração. Isto é, Deus não deixou à igreja nenhum ensinamento doutrinário objetivo que incluísse o clamor pelo sangue de Jesus como condição para acessar a sua presença ou para que nossas orações fossem ouvidas ou para que alguma reunião dos santos fosse considerada aceitável diante dele.

“19 Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, 20  mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue. (...) 28 Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: 29  que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde.” (Atos 15:19-20; 28,29 RA)

Se pensarmos um pouco e deixarmos a paixão que nos cega de lado, veremos que os apóstolos, pelo Espírito Santo de Deus, não só nesta passagem, mas em todas as suas cartas às igrejas, em nenhum momento ensinaram às igrejas o ritual do clamor pelo sangue de Jesus.

Aliás, é bom que se note que Paulo, ao ensinar a igreja de Corinto sobre dons espirituais e sobre organização de reuniões da comunidade cristã não se referiu à necessidade de se clamar pelo sangue de Jesus nem para tratar com dons espirituais nem como condição para o início das reuniões.

“12 Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja. 13  Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que a possa interpretar. 14  Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera. 15 Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.” (1 Coríntios 14:12-15 RA)

“26 Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. 27 No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. 28  Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus. 29  Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. 30  Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. 31  Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. 32  Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; 33  porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos,” (1 Coríntios 14:26-33 RA)

Ora, será que Deus deixaria de fora do nosso manual (a bíblia) algo assim imprescindível? Será que Deus teria prazer em esconder de seus santos servos um preceito indispensável para o desenvolvimento da comunhão deles com o Pai?

Note que Jesus nos deixou expressamente registrado uma orientação sobre o modo como devemos pedir o que queremos a Deus – em seu nome. Fez isso porque considerou este ato de fundamental importância e que não deveria ser deixado de fora.

“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.” (João 15:16 RA)

 “Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome.” (João 16:23 RA)

Minha conclusão sobre este primeiro ponto é: se não está escrito, é porque não é indispensável. Logo, não vejo porque ensinar o que Deus não ensinou, mas também não acho que isso faça nenhum mal a quem assim procede. Pessoalmente, eu não fico incomodado com esse procedimento e nem acho herético que alguém clame pelo sangue de Jesus antes do início de uma reunião ou oração. Mas, ensinar que isso é uma doutrina bíblica, quando não é, tem cheiro de heresia, sob o meu humilde ponto de vista.

Segundo ponto: Deus não brinca de esconde-esconde com seus servos

Podemos começar este ponto fazendo uma pergunta: Deus ocultou seus mistérios aos seus discípulos ou aos incrédulos?

Creio que o Novo Testamento responde essa indagação. Podemos notar que o próprio Senhor Jesus declarou que quando falava por parábolas estava dificultando o entendimento dos mistérios do Reino de Deus aos incrédulos, aos fariseus e aos demais doutores da Lei que não criam que Ele era o filho de Deus, pois esses eram indiferentes ou queriam matá-lo. Mas, a seus discípulos, que tinham interesse em segui-lo, Jesus se revelava em particular deixando clara sua mensagem para que pudessem compreendê-la e praticá-la, como podemos observar nos exemplos a seguir.

“10 Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? 11 Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido.” (Mateus 13:10-11 RA)

“10 Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. 11  Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas,” (Marcos 4:10-11 RA)

“Então, despedindo as multidões, foi Jesus para casa. E, chegando-se a ele os seus discípulos, disseram: Explica-nos a parábola do joio do campo.” (Mateus 13:36 RA)

Observe, agora, com quem Jesus estava tratando e a quem estava se dirigindo quando disse algumas coisas que as pessoas não entenderam.

“18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? 19  Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. 20  Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? 21  Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. 22  Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus.” (João 2:18-22 RA)

“3  A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 4  Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?” (João 3:3-4 RA)

Lendo Mateus, do capítulo 5 ao 7, é possível notar a clareza de Jesus quando estava ensinando seus discípulos sobre a essência daquilo que devemos ser e fazer, chegando, inclusive, a dar um exemplo de como se deve orar (Mt 6:5-13) afastando a hipocrisia formalística dos fariseus. Observe a quem o sermão do monte estava sendo dirigido:

“1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2  e ele passou a ensiná-los, dizendo:” (Mateus 5:1-2 RA)

É claro que podemos argumentar que Jesus não ensinaria a clamar pelo seu sangue se Ele ainda estava vivo. Mas, outra pergunta também pode ser feita: será que após a morte de Jesus, o Espírito Santo de Deus teria revelado o “mistério do clamor ritualístico pelo sangue de Jesus” aos discípulos? Se revelou, por que eles esconderiam de nós ou nos deixaria isso em códigos para que tivéssemos que decifrar, se eles mesmos foram tratados de um modo diferente por Jesus? E quanto à Paulo, é bom que se diga que ele ficou três anos se fortalecendo e aprendendo antes de iniciar seu ministério junto aos gentios (Gl 1:15-18) e quando começou a escrever às igrejas nada falou sobre a necessidade de se clamar pelo sangue de Jesus antes de iniciar uma reunião.

Apenas para esclarecer, entendo que Deus se oculta aos sábios e entendidos deste mundo, que o querem decifrar por seus próprios métodos científicos e racionais, sem se sujeitar à palavra de Deus pela fé.  A esses, por mais que investiguem, não encontrarão as respostas que nos foi dada, de modo simples, pela fé. Parece loucura, mas simplesmente cremos no que nos foi revelado pela palavra de Deus. Por que complicar o que Deus quis descomplicar?

“Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos (discípulos). Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.” (Lucas 10:21 RA)

 “3 Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. 4  Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais.” (2 Coríntios 11:3-4 RA)

E sobre complicar coisas simples, só vejo uma explicação: subjugar os simples e débeis. É desse modo que os dominadores costumam agir. Normalmente alegam conhecer algo que ninguém mais conhece ou que possuem algo que ninguém mais tem. Ou, ainda, fazem o simples se tornar complexo, de modo que as pessoas fiquem dependentes deles para que possam ter acesso à verdade. Assim, faziam os fariseus.

Minha conclusão sobre este segundo ponto é: o novo testamento nos apresenta um Deus que tem prazer em se revelar aos seus servos e de os ensinar, independentemente da capacidade intelectual ou da condição social de cada um. Por isso, não esconderia uma doutrina essencial à nossa comunhão com Ele de modo que apenas uma minoria de pessoas que entregassem suas vidas a Jesus pudessem desvendá-la.

Terceiro ponto: a história da igreja prova a desnecessidade do clamor

A história da igreja, desde a sua instituição nos mostra que a ausência do clamor formal pelo sangue de Jesus nunca impediu a manifestação de Deus ou a presença de Jesus no meio de seu povo para comunhão, visitação e revelação.

Em primeiro lugar, é bom lembrar que o próprio Jesus disse que estaria presente em nosso meio pelo simples fato de estarmos reunidos em seu nome, sem apresentar nenhuma outra condição.

“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” (Mateus 18:20 RA)

Quando Pedro, por revelação, foi enviado à casa de Cornélio testificou que as orações desse homem subiam a Deus. É bom lembrar que Cornélio ainda não conhecia a Jesus, por isso sua oração não foi precedida pelo clamor pelo sangue de Jesus. Mas mesmo assim foi ouvida por Deus. Ora, Cornélio acessou o santíssimo lugar, pois o véu já estava rasgado e o seu coração era sincero.

“e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus.” (Atos 10:31 RA)

Quanto à igreja primitiva, não há qualquer registro bíblico ou histórico que indique que nossos irmãos tivessem uma prática parecida com o clamor formal pelo sangue de Jesus para iniciar uma reunião ou mesmo uma oração.

De igual modo, é bom notar que os manuais de história da igreja também não relatam que a igreja, em seus quase dois mil anos de existência (período anterior ao surgimento da Igreja Cristã Maranata) tenha desenvolvido a prática do clamor pelo sangue de Jesus. Mesmo retirando desse contexto o período da trevas pelo qual a igreja passou, temos centenas de anos em que a igreja desfrutou de intimidade, salvação, revelação de Deus, amadurecimento, reavivamentos etc. sem que haja notícia de uma prática dessa natureza.

Ora, por que será que nem no período da igreja primitiva, nem nos períodos de grandes avivamentos da igreja, nunca se sentiu falta do clamor formal pelo sangue de Jesus para que Deus se fizesse presente em uma reunião ou mesmo que ouvisse as orações? Por que hoje isso seria essencial?

Apenas para testificar o que eu mesmo já vivi enquanto pastor da ICM, lembro-me que já obriguei pessoas a repetirem a oração que precedia a uma consulta bíblica apenas pelo fato desta não ter iniciado com um formal “Senhor clamamos pelo sangue de Jesus”. Isso porque eu também acreditava que Deus só aceitaria aquela petição se fosse iniciada pelo clamor formal pelo sangue de Jesus. Se não fosse assim, a oração seria inválida. Mesmo quando meu coração indagava sobre a razão disso nunca ter sido exigência para a igreja ao longo de sua existência, minha resposta para mim mesmo era algo parecido com isto: porque nós, da Obra, somos especiais para Deus e aprouve a Deus revelar seus mistérios para um povo especial nestes últimos dias. Hoje, eu mesmo acho graça dessa minha justificativa.

Minha conclusão deste terceiro ponto é: nós nem mesmo seríamos servos de Deus hoje, se a igreja que nos precedeu, desde o princípio, não tivesse alcançado o favor, a graça, o amor e a revelação de Deus, tendo trabalhado pela expansão do evangelho. Uma história de mais de dois mil anos deve ser suficiente, no mínimo, para nos mostrar que Deus nunca deixou de operar em sua igreja, mesmo sem que existisse o ritual do clamor pelo sangue de Jesus para iniciar uma reunião ou uma oração.

Quarto ponto: a doutrina bíblica para a igreja deve ter a perspectiva do Novo Testamento

Essa é uma questão fundamental, não somente para a “doutrina” do clamor pelo sangue de Jesus, mas para qualquer outra que seja apresentada pela igreja aos servos que vivem no período da graça.

Para iniciarmos nosso exame, é necessário observar que a lei mosaica mostra ao observador apenas uma visão da silueta daquilo que estava para acontecer no que diz respeito à manifestação da salvação pelo sacrifício perfeito de Jesus.

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10:1 RA)

É por isso que as pessoas que viveram no tempo da lei cumpriram com todo aquele ritual sem saber exatamente o que ele significaria. Apenas obedeciam e criam que daquele modo alcançariam perdão, redenção e acesso a Deus por meio de um mediador humano – o sumo sacerdote. De fato, naquele tempo era assim, porque Jesus ainda não havia se manifestado, mas hoje que temos Jesus e seus ensinamentos (a realidade e não mais a sombra), não faz qualquer sentido utilizarmos a sombra para guiar nossos passos – a lei foi apenas o aio (Gl 3:24). A sombra atendia bem à necessidade dos que nela viviam, mas hoje não nos serve mais, sob pena de desprezarmos a realidade de Cristo para vivermos na sua sombra, projetada no Velho Testamento.

“De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gálatas 3:24 RA)

“porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.” (Hebreus 10:4 RA)

E, se buscamos justificar a “doutrina” do clamor pelo sangue de Jesus pelo Novo Testamento, também, encontramos dificuldades. Ora, bem sabemos que há uma variedade de textos neotestamentários que nos mostram que pelo sangue de Jesus derramado no calvário (seu sacrifício vicário), Deus nos proporcionou, e ainda nos proporciona, remissão de pecados e redenção (Ef. 1:7; 1Pe 1:18-19 – Ap 1:5), purificação (Rm 3:25; 9:22; 1Jo 1:7), justificação (Rm 5:9) e reconciliação (Cl 1:20 – Ef 2:13). Sim, isso é um fato. Tanto recebemos essas dádivas no ato da nossa conversão, como ainda desfrutamos delas, sempre que nos arrependemos de nossos pecados, os confessamos e humildemente aceitamos, pela fé, que o sacrifício de Jesus foi suficiente para nos garantir tudo isso.

Mas, nem por isso, há respaldo bíblico para que possamos estabelecer uma “doutrina” que condicione o recebimento dessas dádivas a um clamor solene antes de cultos, reuniões ou orações, diferentemente do que ocorre com o modo como devemos pedir algo a Deus (em nome de Jesus), expressão que nos foi objetivamente ensinada para ser utilizada quando nos achegássemos a Deus para lhe apresentar nossas petições (Jo 15:16 e 16:23).

Ora, uma vez que Jesus já abriu o caminho que nos leva à comunhão com o santíssimo Deus, quando derramou o seu sangue e rasgou o véu do santuário, findando a necessidade de se imolar animais, tal como se fazia para o cumprimento da lei. Apenas duas recomendações objetivas (diretamente registradas na bíblia) restaram para que exercitássemos nossa ousadia de nos achegarmos a Deus:

a)    nos apresentarmos com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo os corações purificados de má consciência e lavado o corpo com água pura;

b)    referência de que fazemos isso em nome de Jesus e não em nosso próprio nome.

 A partir do momento em que o véu se rasgou, podemos ter a intrepidez de entrar no santíssimo lugar, pois o acesso nos foi franqueado pelo sacrifício de Jesus:

“19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus (seu sacrifício), 20  pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, 21  e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, 22  aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.” (Hebreus 10:19-22 RA)

É bom que se observe que o texto acima nos diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, (entre vírgulas) ou seja, porque Jesus já morreu, derramou seu sangue e o véu se rasgou. O texto não diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos “clamando pelo sangue de Jesus” em nossas orações.

Apenas para reforçar: não há na bíblia nada que possa ser chamado de doutrina sobre o modo que devemos orar para ter acesso a Deus, mas sim sobre a posição de nossos corações. Foi assim desde a igreja primitiva (Cornélio) e é assim até hoje. Basta crermos.

Minha conclusão sobre este quarto ponto é: embora saibamos que todo o ritual envolvendo o sangue no tempo do Velho Testamento fosse uma representação da realidade que só veio a se manifestar muito tempo depois, na nova aliança, toda a construção doutrinária para a igreja deve ser buscada a partir do novo testamento, ou seja, a partir da realidade de Cristo e seus ensinamentos diretos ou transmitidos por seus apóstolos. E, no caso específico da “doutrina” do clamor pelo sangue de Jesus, não há como sustentá-la sob a perspectiva do Novo Testamento, uma vez que, apesar de haver textos que mostrem os benefícios decorrentes do sacrifício de Jesus e seu sangue derramado, não há nenhum texto sequer que seja objetivo em demonstrar a necessidade de se fazer uma declaração solene de clamor pelo sangue de Jesus no início de cultos, reuniões ou mesmo de orações, ao contrário do que ocorre com o termo final que normalmente utilizamos (em nome de Jesus) para levarmos a Deus nossas petições.

Por último, lembro-me de algumas tentativas de justificação do ritual do clamor pelo sangue de Jesus que eram ensinadas nos seminários, tais como: “quando clamamos pelo sangue de Jesus, clamamos pela vida de Jesus, pelo Espírito”. Mas, se queremos dizer uma coisa, por que usar outras palavras que não tenham a significação direta? Ademais, o Novo Testamento também não indica qualquer texto que possa justificar clamarmos pela vida de Jesus ou pelo Espírito para iniciar uma reunião ou uma oração. Mais curioso ainda é associar a exigência do clamor pelo sangue de Jesus antes de todas as consultas bíblicas em uma mesma reunião, quando ensina-se que é dispensável esse clamor a partir da segunda oração de um grupo reunido para oração.

Portanto, amado, fiz todas essas considerações apenas para que o irmão não nos julgue pelo fato de dispensarmos aquilo que aprendemos na ICM sobre a “doutrina” do clamor pelo sangue de Jesus. Mas, lembre-se do que lhe disse no início: nada impede que um pastor de nossas igrejas faça assim, se ele entender que não alcançará comunhão com Deus de outro modo.

“Os vossos pastores são assalariados? Para ser pastor e essencial ter curso de teologia?”

Bom, essa pergunta é bem mais simples de se responder. Embora tenhamos consciência de que não há qualquer restrição bíblica para que um pastor viva do evangelho e seja remunerado pela igreja, nossa condição nos permite abdicar desse direito, tal como fez o apóstolo Paulo.

“14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho; 15 eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória. 16  Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17  Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. 18  Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá.” (1 Coríntios 9:14-18 RA)

Quanto à necessidade do estudo teológico para o exercício do ministério, entendo que isto é fundamental, não como um título a ser apresentado, mas como um aperfeiçoamento do ministério, para que um líder eclesiástico tenha uma visão ampliada e não seja envergonhado diante de suas ovelhas. É claro que não podemos lutar contra Deus e dizer que “não é” aquilo que Deus diz que “é”. Por isso, este meu sentimento não é uma regra.

Resumindo, hoje não temos nenhum pastor remunerado pela igreja e desejamos que nossos pastores tenham uma formação teológica sólida.

“Vocês pedem ofertas nos cultos?”

Não pedimos. Eu, em especial, não tenho o menor jeito para isso, embora eu não recrimine aqueles que têm tal procedimento.

Se o irmão desejar saber um pouco do que pensamos sobre dízimos e ofertas poderá ler a carta de número 52 que está postada na seção de cartas do site www.pastorsolon.com.br.

“Vocês fazem ‘batalha espiritual’?”

Como a nossa igreja é aberta à comunhão com as demais igrejas integrantes do Corpo de Cristo, temos muita facilidade e acesso a pastores que atuam diretamente com libertação. Desse modo, estamos em constante aprendizado. Na prática, tratamos esses assuntos especificamente em nossos seminários, mas, sendo necessário, temos condições e pessoas que podem tratar esses casos no meio da igreja.

Por fim, amado, espero ter esclarecido suas dúvidas sem ter lhe causado espanto pelos meus pontos de vista. Como sempre digo, não sou o dono da verdade. Portanto, se você entende de modo diferente, não significa que esteja errado. Creio que na essência, não temos divergências, pois cremos no mesmo Deus e Pai, na salvação de Jesus, nosso único e suficiente salvador e na operação do Santo Espírito, nosso consolador.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.