Carta 36

02/07/2013 12:31

Prezada irmã MARIA, que a paz do Senhor Jesus seja contigo.

Querida, inicialmente agradeço a confiança que você me confere para falar sobre um assunto que pertence à sua intimidade. Espero não decepcioná-la como pastor e amigo. Terá de minha parte toda a minha sinceridade e carinho por sua vida.

Apenas a título introdutório, gostaria que você soubesse que eu acho importante que estejamos congregando como igreja. Eu acredito na igreja não apenas como um local de realização de reuniões para adorar a Deus e para ouvirmos um conselho ou uma exortação, mas, essencialmente, acredito na igreja como uma comunidade terapêutica, onde:

a)    há um pastor que cuida das ovelhas:

“1 Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: 2  pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; 3  nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.” (1 Pedro 5:1-3 RA)

 

b)   uns ajudam os outros:

“9  Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. 10  Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. 11  Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? 12  Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4:9-12 RA)

“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20:35 RA)

c)    aprende-se a conviver em harmonia com os outros, apesar das diferenças interpessoais – desenvolvem-se relacionamentos, aprende-se a perdoar, enfim, exercita-se o amor para a edificação de todos:

“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.” (Hebreus 10:25 RA)

 

Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós;” (Colossenses 3:13 RA)

 

“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.” (1 Coríntios 14:26 RA)

 

Fiz essa introdução para tentar lhe mostrar a importância de estarmos integrados na igreja, apesar das nossas imperfeições. Ora, não vejo a igreja física como um local de reunião de pessoas perfeitas, mas um local de reunião de pessoas que têm o mesmo propósito de buscar a Deus e de ser tratadas. Por isso a humildade é muito importante. Eu sei que você terá muita dificuldade de aproximação de igrejas que valorizem mais as estruturas e as aparências do que as próprias pessoas, mas sei, também, que você encontrará a igreja certa, que poderá integrá-la e ajudá-la a se aproximar cada vez mais do Senhor. Enquanto você não encontra essa igreja, se você desejar e permitir, posso tentar acompanhá-la como pastor.

Quanto ao seu relacionamento, não tenho como lhe dizer que ele está em sintonia com a vontade de Deus, uma vez que presumo haver um relacionamento sexual ilícito, ou seja, fora do casamento. Eu sei que no Velho Testamento iremos encontrar uma série de relacionamentos entre homem e mulher que fogem ao nosso padrão cristão, por isso vamos começar observando o que o Senhor Jesus disse a esse respeito:

“3 Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? 4  Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher 5  e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? 6  De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. 7  Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? 8  Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. 9  Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério.” (Mateus 19:3-9 RA)

A primeira observação que quero fazer utilizando essa passagem é que Jesus não acolheu a prática do Velho Testamento como a vontade original de Deus, mas como vontade permissiva de Deus ante a dureza do coração do homem. Jesus, com sua sabedoria divina estava nos ensinado que Deus nos ama e que é paciente conosco, chegando a admitir nossas fraquezas enquanto não temos maturidade para recebermos a correção. De igual modo, querida, Jesus deseja que sejamos aperfeiçoados, mas é paciente conosco, aguardando o momento certo para quebrar paradigmas seculares que residem em nossa mente e nos instruir acerca da perfeita vontade de Deus.

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2 RA)

Então, qual a primeira conclusão que chego a partir do texto de Mateus 19:8? Que Deus nunca desejou que o homem repudiasse sua mulher. Em quem Jesus estava pensando quando fez essa declaração? No homem? Na família? Na mulher? É claro que Deus se preocupa com o homem e com a família, mas neste texto sua atenção estava inteiramente voltada para a proteção da mulher. O fato, é que naquele tempo a mulher estava sendo uma vítima dos homens que deveriam protegê-las. Com essa declaração, Jesus retira dos homens a possibilidade de descartar suas mulheres “por qualquer motivo”, como vinha acontecendo, e abre uma única exceção – a do adultério.

A palavra grega usada no Novo Testamento para “adúltero” é moichos (“adultério” é mocheia) e refere-se a alguém que está casado mas tem relações sexuais com alguém que não é o seu cônjuge.

A segunda conclusão que chego do texto citado é que qualquer relação sexual de uma pessoa casada com outra pessoa (casada ou não) que não seja seu cônjuge é adultério. Mas, quem é adúltero nessa relação? O casado. E no caso do solteiro que mantém uma relação sexual com uma pessoa casada? Este está praticando uma relação sexual ilícita, também conhecida como fornicação. O solteiro que mantém uma relação sexual com uma pessoa casada age na ilicitude em relação à palavra de Deus, tanto por estar se relacionando com alguém que faz o que Deus proíbe (ilícito) como também por estar praticando uma relação sexual fora da aliança do matrimônio (leia o texto que escrevi sobre “casamento: contrato ou aliança?” que está no site).

Observe que a relação sexual fora do casamento foi uma das poucas proibições que o colégio apostólico transmitiu aos gentios quando do nascimento da igreja:

“19 Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, 20  mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue.” (Atos 15:19-20 RA)

 

“27  Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirão também estas coisas. 28  Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: 29  que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde.” (Atos 15:27-29 RA)

 

Com essas duas primeiras conclusões, querida, estou tentando lhe mostrar que sua relação com um homem casado implica em uma desarmonia com a vontade de Deus. A essa desarmonia, quando expressamente declarada na bíblia (palavra de Deus), chamamos pecado. Adultério para ele e fornicação para você.

“Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.” (Hebreus 13:4 RA)

Essas são as duas primeiras conclusões diretas que chego do texto citado. Mas, no seu caso, há outras vertentes que devem ser consideradas: a cobiça daquilo que não lhe pertence, a produção nos outros daquilo que você não gostaria que lhe sucedesse e a mentira.

Com relação à cobiça, nos ensina a palavra de Deus que não devemos desejar possuir aquilo que pertence a outra pessoa, senão vejamos:

Não cobiçarás a mulher do teu próximo. Não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” (Deuteronômio 5:21 RA)

 

“Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Romanos 13:9 RA)

 

“Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos;” (Efésios 5:3 RA)

 

“Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tiago 1:15 RA)

 

Agora veja se você gostaria de estar no lugar da mulher do seu namorado. Você gostaria de ser enganada por alguém que um dia lhe jurou fidelidade? Você gostaria que uma pessoa da sua mais íntima confiança lhe contasse mentiras ou lhe ocultasse a verdade? Como você se sentiria? Traída?.

“Se alguém vier maliciosamente contra o próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás até mesmo do meu altar, para que morra.” (Êxodo 21:14 RA)

 

“Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” (Lucas 6:31 RA)

 

Sobre a mentira, imagino que um relacionamento que necessita se realizar às ocultas exija uma série de desculpas (mentiras ou omissão da verdade) para que se mantenha em sigilo. E isso é mais uma desarmonia com a vontade manifesta de Deus, senão vejamos:

“Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR, mas os que agem fielmente são o seu prazer.” (Provérbios 12:22 RA)

 

“Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.” (Efésios 4:25 RA)

 

“ Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (João 8:44 RA)

 

Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.” (Apocalipse 22:15 RA)

 

Por fim, irmã, se analisarmos com bastante isenção essa relação, chegaremos à conclusão que não se trata apenas de adultério ou fornicação, mas da inobservância de princípios de Deus que, quando observados, proporcionam ao homem uma vida livre, justa, digna, pacífica e feliz, que é o que Ele sempre desejou para o homem.

Querida, meu coração fica apertado por lhe dizer essas coisas, mas minha consciência ficaria ainda mais afetada se eu lhe omitisse essas informações. Neste momento, sinto por você o amor de um pastor por uma ovelha, por isso preciso referir-me às conseqüências da manutenção de uma situação em que a vontade de Deus não esteja sendo observada. Eu sei que você já sabe qual a última conseqüência do pecado sobre a vida do homem (Rm 6:23 – 1 Co 69 – Ap 21:8), mas por dever de consciência vou me referir às conseqüências mais comuns do pecado sobre a nossa vida cotidiana:  

a)    rompe a comunhão com Deus:

“Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.” (Isaías 59:2 RA)

b)   obstrui bênçãos de Deus:

“24 Não dizem a eles mesmos: Temamos agora ao SENHOR, nosso Deus, que nos dá a seu tempo a chuva, a primeira e a última, que nos conserva as semanas determinadas da sega. 25 As vossas iniqüidades desviam estas coisas, e os vossos pecados afastam de vós o bem.” (Jeremias 5:24-25 RA)

c)    retira a paz:

“Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz.” (Isaías 57:21 RA)

d)   afeta a nossa saúde física:

“2 Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniqüidade e em cujo espírito não há dolo. 3 Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia.” (Salmos 32:2-3 RA)

e)    afeta a nossa saúde emocional:

Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego;” (Romanos 2:9 RA)

 

Minha irmã, até aqui fiz as referências bíblicas sobre o modo que eu consigo enxergar a sua situação e a do seu relacionamento diante de Deus. Caso você entenda que minha análise é muito rigorosa e que isso é levar os textos “ao pé da letra”, saiba que eu não ficarei chateado caso sua decisão seja a de continuar seguindo aquilo que você acredita. A responsável pelo curso de sua vida é somente você. Ainda que eu não possa apoiá-la em suas decisões, gostaria de estar por perto para ajudá-la se isso for necessário e estiver ao meu alcance.

Agora, querida, permita-me comentar sua carta em relação às razões apresentadas pelo homem com o qual você se relaciona (seu namorado).

“Apesar de sermos felizes um com o outro temos momentos de grande angustia que machucam nosso coração.”

Veja bem, amada, do jeito que as coisas estão, você está sujeita a viver assim: numa seqüência de momentos agradáveis seguidos de grandes angústias. Não sei se você já percebeu, mas com o passar do tempo os momentos de angústia vão se tornando cada vez maiores do que os momentos de prazer.

“Ele sofre porque, apesar de não amar mais a esposa,...”

Observe que referências deste tipo são bastante comuns entre homens que mantêm relacionamento extra-conjugais. É comum que digam que não amam mais a esposa, que não são felizes ao lado delas, que não mantêm mais relacionamento sexual, que vivem como irmãos etc.

Se seu namorado dissesse algo diferente disso, estaria decretando o fim do relacionamento com você, não é mesmo?

“não tem coragem de divorciar-se dela, pois alega que essa é a "cruz que ele tem de carregar para o resto de sua vida"

Parece-me que essa é uma sinalização que ele jamais pretende deixar a esposa. Pense comigo: você conhece alguém, na atual modernidade, negando sua carne? Que carregue cruz? Os homens modernos são amantes de si mesmos e avessos aos sofrimento. São tão egoístas que nunca abdicam de seus prazeres carnais para agradar a quem quer que seja. Ora, se ele é assim tão resignado, porque não vive apenas para agradar a mulher dele e nega sua própria carne em favor de um valor bíblico?

“e também por acreditar que o divórcio é contra a lei de Deus. Ele é católico e, como tal, leva ao pé da letra a passagem bíblica em que Jesus fala contra o divórcio.”

Perdoe-me irmã, mas minha cabeça deu um nó. Seria esse argumento uma ponderação entre tipos de pecados? Por que ele é tão católico quanto ao pecado do divórcio e nada católico com relação ao pecado do adultério? Em termos de textos bíblicos até encontramos alguns que admitem o divórcio, como já me referi, mas não encontramos textos bíblicos que admitam o adultério. Não seria isso apenas uma questão de conveniência? Afinal, ele crê na bíblia? Se crê, por que a parcialidade? Parece que ele crê e defende apenas aquilo que lhe convém.

Querida, essa justificativa não me parece nada razoável.

“...não creio que o Senhor queira que duas pessoas estejam unidas num casamento sem amor, pois orientações a este respeito também nos foram dadas pelo Senhor quando diz: maridos, amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja, e esposas, sejam submissas aos vossos maridos como ao Senhor.”

Irmã responda-me: como foi que Cristo amou a igreja? Foi sentindo afetos ou foi com atitudes? Foi sentindo afeto ou entregando sua vida? Se o amor que a bíblia se refere é atitude e não sentimento, podemos encarar o texto que você citou como perfeitamente aplicável a qualquer relacionamento. Posso amar sem que o profundo sentimento de afeto esteja envolvido.

Ou seja, quando respeito a minha mulher, eu a amo. Quando falo a verdade para a minha mulher, eu a amo. Quando eu sustento a minha mulher, eu a amo. Quando eu me preocupo com a minha mulher, eu a amo. Quando eu sinto as dores que minha mulher sente, eu a amo. Quando eu sou fiel à minha mulher, eu a amo. Quando eu me esforço para satisfazer aos interesses da minha mulher, eu a amo. Atitudes, atitudes, atitudes... O amor a que a bíblia se refere é atitude e não apenas sentimento afetivo, senão vejamos:

“4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5  não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; 6  não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; 7  tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Coríntios 13:4-7 RA)

Veja bem: o amor é benigno (bom); se alegra com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Qual dessas características é um sentimento? Ora, bondade é fazer o bem (boa ação), ou seja, uma atitude. Paciência é uma virtude que se realiza pela ação de não fazer algo (não agir precipitadamente ou suportar dores). Sofrer, crer e esperar são verbos e indicam ação, ou seja atitudes e não sentimentos. Apenas a alegria pode ser considerada um sentimento.

Em relação aos demais componentes da definição bíblia do amor, você notou que todos indicam algo negativo associado ao verbo fazer ou ser? Você consegue perceber que este amor se refere a atitudes e não a sentimentos? Veja só:

- não ufanar (envaidecer) indica uma atitude de não ser;

- não ensoberbecer indica uma atitude de não ser;

- não se portar inconvenientemente indica uma atitude de não fazer;

- não se exasperar (enfurecer) indica uma atitude de domínio próprio ante um sentimento, ou seja uma atitude de fazer (dominar o sentimento de fúria);

- não procurar seus interesses é uma atitude de não fazer;

- não se ressentir do mal indica uma atitude contrária a um sentimento, ou seja, fazer algo controlando um sentimento (domínio próprio);

- não se alegrar com a injustiça indica uma atitude de agir de modo contrário ao sentimento que possa levar alguém a comemorar a injustiça, ou seja, uma atitude de fazer.

Agora diga-me. Se o amor a que a bíblia se refere é uma atitude positiva em relação ao outro, a exemplo do que Jesus fez por nós; se no texto que você citou há uma referência imperativa clara, uma ordem (“maridos, amai vossas mulheres...”), você acha que Deus está dando uma opção ao homem ou está lhe indicando um dever? Se amor fosse essencialmente sentimento, creio que essa ordem não seria dada pela simples impossibilidade de controle sobre sentimentos. Mas por se referir a atitude, até mesmo o texto onde Jesus nos ordena a amar nossos inimigos (Mt 5:44) se torna perfeitamente possível, uma vez que independe de como nos sentimos em relação a eles. Não precisarei sentir afeto por algum inimigo para lhe fazer o bem, se isso estiver ao meu alcance.

Não sei se consegui ser claro, mas, como marido, tenho o dever de agir em relação à minha mulher: cuidando, tratando, sendo presente, satisfazendo suas necessidades, sendo fiel a ela, protegendo-a etc. mesmo que minha paixão tenha ficado para trás.

“Quando estas coisas deixam de existir, ou nunca existiram, num casamento, também não seriam contra a vontade do Senhor?

O amor em um casamento só deixará de existir quando deixarmos de agir para o bem do nosso cônjuge. Mas, nossa obrigação é amar. Relembrando o que você disse, “Deus não quer um casamento sem amor”. Creio que ninguém poderá justificar um adultério diante do Criador alegando falta de sentimento de amor pela esposa, pois Deus não perguntará o que sentimos por nossas mulheres, mas o que fizemos por elas (amar como Cristo amou e se entregou por ela). Nessa perspectiva, observe que o seu namorado tem demonstrado amor pela mulher dele. Não tenha dúvida disso. Se ele não se importasse com ela, já a teria desprezado como muitos fazem por aí.

“Hoje estou vivendo um amor que sempre pedi ao Senhor para viver na presença Dele. Hoje sou amada como nunca fui, sou cuidada, tenho carinho, mas não posso ser feliz por inteiro por causa da forma dele pensar e tomar como verdade absoluta e sem chance de contestação.”

Querida, aqui vou expressar um pouco da minha experiência de vida como pastor, porque já lhe disse que não creio que seu namorado esteja muito preocupado com Deus, mas sim com ele mesmo.

Muitas mulheres se envolvem com homens casados e preferem ir contra as estatísticas e as evidências de fatos sociais semelhantes. Preferem achar que com elas será diferente, quando sabem que boa parte dos amantes casados dificilmente deixará a sua mulher para viver com elas. Mesmo assim, quando a mulher conhece um homem casado, ela o vê tão interessante que acha que ela nada perderá se tentar.

Na grande maioria das vezes, o homem casado se envolve com outra mulher apenas para servir de muleta para o seu próprio casamento perdurar. Isto é, quer continuar casado com sua mulher e vivendo com sua família, mas precisa de um complemento sexual ou afetivo, apenas. Uma vez que isto está satisfeito, ele vai levando tudo às mil maravilhas. Mantém sua família, suas aparências, sua moralidade, sua responsabilidade com os filhos e, adicionalmente, tem alguém para fazer um bom sexo e lhe dar o carinho que muitas vezes é insuficiente dentro de casa. (desculpe a minha clareza e as palavras que tive que usar)

Normalmente, quando um homem fica, de fato, apaixonado pela mulher do seu relacionamento extra-conjugal e não ama (com atitudes) sua mulher, ele a abandona após 6 a 10 meses de “namoro”. Se isso não ocorre neste período, o provável é que o relacionamento é apenas o complemento que eu lhe falei. A intenção real deste homem é ter um suporte para “agüentar” o casamento e precisa de uma ajuda para continuar casado. São diversos fatores que levam um homem a ter amante estável, mas em todos os casos, a meu ver, revelam uma deformação de caráter pelo egoísmo e pela insensibilidade em relação à outra pessoa que ele poderá estar arrasando com sua auto-satisfação.

O que eu tenho assistido, ao longo de minha vida, é que as mulheres “extras” são usadas e vivem de migalhas. Quando percebem isso, ficam com sua auto-estima esfacelada. E sem auto-estima, uma mulher pode acabar com a sua vida profissional, amorosa, entrar em depressão e acabar com sua saúde mental e espiritual, impedindo que o próprio amor de Deus as alcance.

Mas, por que as mulheres que vivem essa situação não conseguem perceber isso? Por causa do envolvimento emocional que as cegam de modo que elas não conseguem perceber o que lhes espera no futuro. As que são jovens, não pensam no tempo desperdiçado e nas conseqüências futuras, porque acham que ainda têm muito tempo pela frente. Decidem arriscar e, se não der certo, partem para outra. Entretanto, quando a mulher já não é tão jovem prefere apostar todas as suas fichas no relacionamento que apareceu, pois imagina que terá dificuldades de encontrar um novo relacionamento, já que, quanto mais velha, menos homens disponíveis (solteiros) encontrará para um casamento.

No seu caso, a impressão que eu tenho é que se ele quisesse ficar apenas com você, já o teria feito. Do jeito que os relacionamentos são hoje em dia, é difícil um marido ficar em casa apenas pelos filhos. Talvez o que possa prendê-lo é a falta de dinheiro para sustentar as duas casas. Mas se não for esse o motivo, é grande a possibilidade dele ainda ter sentimentos reais pela esposa. A outra possibilidade é que ele a ame (sentido bíblico), pois mesmo sentindo alguma insatisfação no casamento, ainda quer o bem de sua esposa e para isso está trabalhando dia-a-dia, para supri-la e mantê-la inconsciente dos fatos.

Apenas para um exercício mental, considere a possibilidade de vocês serem descobertos. Nesse momento duas coisas podem acontecer: ele largar a esposa e ficar com você (mais raro) ou implorar o perdão da esposa e jurar que nunca mais vai lhe ver (mais comum).

Querida, perdoe-me a sinceridade, mas investir emocionalmente num relacionamento como o seu é perseguir uma ilusão de que um dia vai ter tudo o que a mulher dele tem hoje. A chance de você sair machucada no final é muito grande.

“Pastor, esclareça-me, à luz da Palavra do SENHOR, por que muitos servos do Senhor se divorciam e vivem felizes e na presença do Senhor?”

Lembra-se do texto de Mateus? Há muitos corações duros, mas esta nunca foi a vontade de Deus. Incontáveis bênçãos se perdem pelo caminho. Outras coisas só entenderemos quando estivermos diante do nosso Criador para ouvir a sua sentença sobre nossas ações.

7 Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? 8  Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. 9  Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério.” (Mateus 19:7-9 RA)

 

“26  Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. 27  Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades. 28  Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós, lançados fora.” (Lucas 13:26-28 RA)

 

“Ajude-me a ajudá-lo a entender que o casamento na presença do Senhor é muito mais que um simples ritual na presença de um padre ou pastor e que viver em infidelidade também desagrada ao Senhor.”

Irmã, não sei se o que eu já disse poderá ajudá-la, mas se houvesse graduação de pecados, eu diria que na bíblia há muito mais clareza quanto à condenação dos adúlteros que quanto à condenação dos homens de coração duro que abandonam suas mulheres. Mas, compreenda, não estou afirmando que há pecados maiores e pecados menores, pois ambas estas coisas são consideradas aos olhos de Deus como pecado. E, nessa condição, as conseqüências que já lhe relatei podem se apresentar.

 “Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manifestam.” (1 Timóteo 5:24 RA)

 

“Querido irmão, não me tenha por leviana por viver esta relação e por não querer abrir mão de ser feliz, e desejar isso não em desgraça, mas sob a graça e misericórdia do Senhor,...”

Amada, em nenhum momento eu a considerei leviana. Compreendo perfeitamente o que você está passando e hoje em dia isso é cada vez mais comum, mesmo no seio da igreja.

Tudo o que lhe falei não foi no sentido de condená-la, mas de oferecer-lhe alguns elementos para sua meditação. Talvez, neste momento, tomada de fortes emoções, você não consiga compreender o que estou tentando lhe dizer, mas o tempo nos dará respostas mais precisas. E eu até gostaria de estar errado e que as coisas não fossem bem assim.

É claro que minha palavras estão carregadas da minha própria religiosidade e eu não pretendo ser “mais realista que o rei”. Só não posso negar que eu acredito que a conseqüência natural de uma mulher que deixa sua vida passar alimentando um relacionamento que não poderá lhe oferecer o que deseja (a estabilidade) é que ela terá medo de encarar essa dura realidade e, para evitar esse enfrentamento, continuará a se iludir dizendo para si mesma que é amada e que um dia, quem sabe, ainda que velhinhos, ou quando a esposa morrer (sabe lá Deus quando), eles ficarão juntos “felizes” para sempre.

Por fim, querida, desculpe a minha insistência, mas vou arriscar só mais uma intervenção. Seja sóbria. É possível que num tempo futuro essa sua relação comece a se tornar previsível e monótona, como pode acontecer com todo relacionamento. É possível que você não passe de um complemento descartável nessa relação. Quem estará ao seu lado para lhe amparar se isso acontecer? Deus. Jamais o despreze, pois ainda que todos lhe abandonem, Ele jamais fará isso.

“Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o SENHOR me acolherá.” (Salmos 27:10 RA)

 Por isso, procure uma igreja que possa caminhar junto com você. Que não seja uma igreja de fariseus, que prezam suas estruturas e aparências em detrimento das pessoas e cujas mulheres dizem: “sou infeliz, mas sou crente e tenho um marido crente”. Ou seja, procure uma igreja onde o amor de Deus seja verdadeiro e que saiba lhe amparar.

“...pois meu desejo maior é que o Senhor de a ele a bênção da Salvação e a mim a benção de viver novamente em Sua maravilhosa presença e sob sua Graça,...”

A bênção da salvação está disponível a todo homem. Só precisamos crer. Apresente a ele a verdade que está em Cristo Jesus. E para que você esteja novamente na maravilhosa presença de Deus, não se afaste do Senhor. Não deixe de freqüentar a igreja, pois nesse ambiente o Espírito Santo de Deus poderá falar ao seu coração – eu creio nisso.

“...e porque não formarmos uma família na presença do Senhor.”

Querida, que Deus a abençoe. Seja qual for a sua escolha e decisão, saiba que eu estarei sempre disposto a ajudá-la e a acompanhá-la.

Perdoe-me se não atendi aos seus anseios devido às minhas limitações. Mas, saiba que estive muito preocupado em como lhe responder sem feri-la ou desanimá-la. Quis apenas encorajá-la a andar nos caminhos do Senhor, que é o melhor para todos nós e a verdadeira garantia de amor, paz e felicidade.

“8  O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. 9  Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. 10  Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades.” (Salmos 103:8-10 RA)

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.