Carta 33

02/07/2013 12:28

De: JOÃO  

Para: Sólon Pereira  

Data: 17/04/2009 09:49

Graça e Paz!

Meu irmão depois que li seu testemunho (e não foi o primeiro), e também as suas palavras sinceras e esclarecedoras, entrei praticamente dentro de um processo investigativo, coisa que antes dos meus “olhos” abertos nem perderia tempo, é o “movimento tentando atingir a Obra perfeita do Senhor”.

Achei o seguinte site https://heresias-icmaranata.blogspot.com/ li algumas crônicas e agora estou definitivamente preocupado com esta situação. Em seu testemunho não lembro de ter se referido a “Doutrina Revelada”. O site afirma, com base bíblica tudo o que publica, que a ICM é uma legítima seita, por seu sectarismo, seu governo piramidal, etc. A coisa de fato é tão séria assim meu amado?

Hoje estou caminhando como se não estivesse chão para pisar. Sinto-me iludido, aprisionado, escravizado por um sistema.

Meu irmão a bênção disso tudo é que minha esposa (bem menos maranática que eu) entendeu perfeitamente todas estas coisas e me apóia em qualquer decisão. Ela já enxerga a nossa saída e a repercussão que isto vai causar na igreja, visto que somos uma família extremamente querida (...) , seremos fatalmente “os caídos”.      

Sem perder o foco e seu tempo o motivo deste meu e-mail é a frase acima em destaque. Eu não sei o que fazer da minha vida (família).

Obrigado meu irmão

 

De: pastor-solon

Para: JOÃO  

Data: 17/04/2009 19:12

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja contigo.

Inicialmente, gostaria de lembrá-lo que qualquer atitude ou julgamento precipitados são desaconselháveis. É a própria palavra de Deus que nos adverte quanto a isso.

“Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado.” (Provérbios 19:2 RA)

“Laço é para o homem o dizer precipitadamente: É santo! E só refletir depois de fazer o voto.” (Provérbios 20:25 RA)

Se você está refletindo sobre tudo o que está recebendo, seja na igreja ou fora dela, isso é sempre bom, pois assim chegará ao conhecimento da verdade.

“Os simples herdam a estultícia, mas os prudentes se coroam de conhecimento.” (Provérbios 14:18 RA)

No meu modo de ver, dizer que a ICM é uma seita é uma precipitação. Mas vamos tratar a questão com cuidado. Em primeiro lugar, podemos observar o que a própria Igreja Cristã Maranata diz sobre o assunto.

Ao ler a apostila de ensino doutrinário da Igreja Cristã Maranata (6º Período, Edição de 1994, p. 1-3) verifica-se um ensino intitulado “A palavra ‘SEITA’”. Neste ensino, pode-se perceber uma preocupação da liderança da igreja em afirmar que não é uma seita. Por que? Creio que a resposta está na própria apostila. Na sua página 2 tem-se o seguinte trecho: “A verdade é que aqueles que querem colocar-nos no rol de seita...” (o grifo não consta do original). Presumo, a partir dessa expressão que há muito tempo (antes mesmo de 1994) a Igreja Cristã Maranata já vinha recebendo essa adjetivação por parte de outros grupos religiosos, o que a teria levado a preparar uma aula de seminário apenas para contradizer o que alguém estaria dizendo.

Infelizmente, a meu ver, a ICM não foi feliz em sua defesa, talvez por falta de conhecimento sobre o assunto. Ao apresentar argumentos com a intenção de retirá-la do rol de seitas, o texto da apostila e as respectivas aulas do Maanaim trazem esclarecimentos que não enfrentam as verdadeiras críticas dos estudiosos sobre o tema.

A defesa da ICM se limita a dizer que eles não podem ser classificados como seita, porque não se reúnem a portas fechadas; porque não têm reuniões, liturgias ou rituais secretos; porque não segregam grupos em conventos; porque não são racistas; porque sua doutrina não vai além da bíblia (?); porque não impõem doutrinas de usos e costumes (?); porque recebem membros de outras denominações sem que tenham que repetir o batismo; porque possuem um ensino dito democrático; porque não tratam de política (?) [https://www.youtube.com/watch?v=74HCLFehjBo] e porque seu ministério é leigo.

Ao que me parece, a defesa da ICM apenas deslocou o foco do problema para questões periféricas, deixando de enfrentar, de fato, as principais questões que a confundem com uma seita, quais sejam: o proselitismo (só aceita o outro se ele puder ser incorporado), o exclusivismo (afirmar que só eles são salvos ou os únicos certos ou que somente eles possuem a revelação de Deus em sua essência), o isolamento de seus membros (proibição de irem a cultos de outras denominações) e o monopólio mental (proibição de cursar teologia, de ler livros ou de manterem contato com ex-membros).

A despeito da ineficiência da ICM em apresentar argumentos adequados a seus membros, trago em mim motivos que considero suficientes para afirmar que a ICM não é uma seita, apesar dos contornos que permitem essa confusão.

Em primeiro lugar, trata-se de uma igreja evangélica em sua essência. Os fundamentos quanto à salvação são idênticos ao de qualquer outra denominação evangélica. Portanto, o fato de viverem de certo modo isolados, por si só, em princípio, não é suficiente para alterar a condição de salvação de seus membros. O risco de se perder o que se ganhou só aparece quando sentimentos impróprios ao cristão começam a se desenvolver (ódio e rejeição ao outro, por exemplo)

É bom notar que a ICM preserva, também, os princípios da reforma protestante, quais sejam: só a graça, só a fé e só a escritura.

Só a graça - ensina que a salvação é ato da misericórdia de Deus. Isso é observado na ICM. Ela não possui doutrinas que indiquem que a purificação do homem é alcançada por seu próprio sacrifício ou que isso possa ocorrer em algum lugar do além.

Só a Fé – na ICM não se ensina a auto-salvação por meio de boas obras, mas defende-se que ela é elemento essencial à salvação, uma vez que somos salvos pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós, é dom de Deus.

Só a Escritura – a ICM não adiciona livros para complementar a Bíblia. Embora a ICM utilize uma ferramenta conhecida como “orientações”, normalmente se limitam a definir a forma do culto, os procedimentos administrativos e outros ensinos superficiais que não chegam a comprometer a salvação de seus membros. No ponto em que está, o conjunto de orientações da ICM não chega a formar uma tradição nem uma outra fonte tida como profética que desvirtue os princípios da salvação. Suas doutrinas, a meu ver, possuem extrapolações bíblicas, mas em nada afastam o evangelho da salvação.

Em segundo lugar, deve-se observar que a ICM divulga o evangelho com ênfase no arrebatamento da igreja e, nesse mister, o poder de Deus opera, uma vez que Deus está comprometido com a sua palavra:

“Disse-me o SENHOR: Viste bem, porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir.” (Jeremias 1:12 RA)

Ora, uma vez que o evangelho está sendo anunciado e que o poder de Deus tem espaço para agir, realizando libertações, curas, transformação de vidas e, principalmente, conduzindo o homem à confissão de seus pecados e ao desejo de viver em santidade para a salvação de sua alma, creio que é uma grande injustiça classificar a ICM como uma seita.

Mas, há ressalvas a se fazer, no meu modo de entender. Embora não seja tão ousado a ponto de classificar a ICM como uma seita, tenho segurança em dizer que os seus membros deixam de desfrutar a plenitude do evangelho e de todos os seus benefícios quando, por zelo da liderança, são impedidos de estabelecerem comunhão com outras denominações evangélicas.

Imagino que seja este o ponto crítico que leva alguns a classificarem a ICM como seita. O isolamento dificulta o pensamento crítico do membro, gerando uma visão caolha que o leva a defender com paixão um ponto de vista sem sequer conhecer o outro modo de enxergar o mesmo fato. Sem dúvida, isso abre uma porta ao partidarismo que evolui para o exclusivismo. E o exclusivismo, por sua vez, ceifa a liberdade do membro, limitando cada vez mais sua capacidade crítica e tornando-o refém de um modelo mental soberbo e preconceituoso, que é um ambiente propício ao desenvolvimento do ódio, da rejeição e da soberba, coisas que, bem sabemos, quando acham espaço nos corações dos homens reduzem as bênçãos de Deus sobre suas vidas, além de colocar em risco o desenvolvimento da salvação, senão vejamos:

(1 JO 4:20)  Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

(1JO 3:14) "Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte."

(1JO 2:10  Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço.

(1JO 3:10)  Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão.

Mas, veja bem, até então creio que não se pode afirmar que esses elementos (isolamento e exclusivismo) sejam, por si sós, caracterizadores de uma seita que, a meu ver, só se tipifica plenamente quando, a partir da condução mental dos membros, esses são levados para longe do evangelho do Senhor Jesus ou quando se forma um grupo radical, intolerante e que coloque em risco a segurança e o bem-estar das pessoas. É claro que, quando percebemos que coisas desse tipo (isolamento, exclusivismo, ódio, rejeição, preconceito e soberba), explícitas ou não, estão sendo praticadas pela liderança de grupos fechados e exclusivistas, somos tentados a afirmar que estamos diante de uma tendência sectária, mas temos que ser cuidadosos antes de fazer tais afirmações contra qualquer denominação evangélica.

É claro que essa é apenas a minha opinião, mas se você desejar conhecer o ponto de vista de estudiosos sobre o tema, sugiro a leitura do artigo que publiquei no site no seguinte endereço: (www.pastorsolon.com.br – textos do site – artigos – “a sua mente está sendo controlada?). Esclareço, desde logo, que a autoria do artigo é atribuída a Spotlight Ministries, que se dedica, entre outros assuntos, ao estudo das seitas existentes nos Estados Unidos da América, ou seja, não foi escrito por alguém que conhece a nossa realidade, tornando o texto isento dos nossos preconceitos.

Por fim, querido, com base no que tentei lhe explicar, embora de modo simplista, entendo que a Igreja Cristã Maranata não é uma seita, mas uma igreja evangélica com imperfeições como qualquer outra. E como você bem sabe, ali há pessoas sinceras que amam a Deus e que estão trabalhando pela salvação daqueles que ainda não conhecem o Senhor Jesus, como creio ser o seu caso. Quem sabe, em meio a tanta gente boa, Deus não está nos levantando para promover a reflexão e, por conseqüência, sermos parte de toda uma engrenagem de mudanças tendente a aperfeiçoar o corpo de Cristo?

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.