Carta 319

12/05/2014 19:43

Em 8/5/2014, Pr. JOÃO escreveu:

 

PORTA E CAMINHO ESTREITOS-COMENTÁRIO

 

No estudo em tela o estimado irmão afirma que “se observarmos os versículos iniciais do sermão do monte, notaremos que o discurso de Jesus foi dirigido aos seus discípulos e não à multidão que o seguia”.

 

O evangelho de João (ARA), cap.1, vs. 11 e 12 menciona:” Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (11).Mas ,a todos quantos o receberam (grifo nosso) deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome”.

 

Não há que duvidar do caráter inclusivo, universalista, do “Pacto Sacrificial Cristológico” (1), pois a palavra em Jo 3:16(ARA) ensina  que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pareça, mas tenha a vida eterna.                                         

Certo é que o Senhor Jesus tratava de modo particular com os seus discípulos, como em Mt 13 :11  (entendido discípulo como aquele que busca o pão que não perece), porém, para esperança da humanidade, sobre os que vivem na região da sombra da morte resplandeceu a luz (Isa 9:2).

 

Ademais, o vs. 28 do Cap.7 do Evangelho de Mateus expõe, claramente, em diferentes versões:

 

(a) versão ARA: Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina (grifo nosso):

(b) versão NVI: quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu ensino (grifo nosso);

(c) Bíblia Ecumênica BARSA: tendo Jesus acabado este discurso estava o povo admirado da sua doutrina (grifo nosso); e.

(d) versão NTLH: as multidões estavam admiradas com a sua maneira de falar (grifo nosso).

 

Gostaria que o prezado irmão esclarecesse a minha dúvida, pois, à luz da palavra, o ensinamento de Jesus era e é para todos.

Ainda,a palavra  assegura que Deus não faz acepção de pessoas.

 

  1. PEREIRA,Èzio Luís : Aspectos da Graça na Perspectiva Neotestamentária ,1ed. São Paulo , 2012,p. 15

 

        Graça e Paz em Cristo

        JOÃO

 

RESPOSTA, em 12/5/2014

Prezado Pastor JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

 

Inicialmente, louvo a Deus por sua vida, especialmente pelo seu interesse pela leitura de um texto que traz uma interpretação diferente da comumente apresentada em nosso meio cristão.

 

Fiquei muito feliz não só por você ter lido meu texto, mas por você tê-lo feito de modo crítico, assim como o faziam os cristãos de Bereia.

Sua dúvida é bastante pertinente. Esclarecê-la, portanto, é necessário pois ela diz respeito a um fundamento que ampara os argumentos posteriores do meu texto.

 

A questão, portanto, é saber se a mensagem de Jesus no sermão do monte foi dirigida aos discípulos ou à multidão, certo?

Bom, eu disse que foi dirigida aos discípulos e, mesmo analisando cuidadosamente seus argumentos, não tenho como alterar minha percepção. O fundamento da afirmação que fiz está, em essência, no seguinte texto:

 

“1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2 e ele passou a ensiná-los, dizendo:” (Mateus 5:1-2 RA)

 

Pois bem, tentarei ser mais analítico desta vez.

 

A literalidade de Mateus 5:1-2

 

Antes de qualquer outra interpretação, fixei-me no texto transcrito e notei sua literalidade, ou seja, Mateus diz expressamente que Jesus se dirigiu aos discípulos e não à multidão. Tal assertividade não pode ser desconsiderada, especialmente por sua objetividade e clareza. Como você possui diferentes versões da tradução original grega para o português, sugiro que confira em cada uma delas se há alguma variação nesse sentido.

 

Se você observar atentamente o texto, seja em que versão for, terá a impressão que Jesus viu as multidões e, exatamente para se esquivar delas, subiu ao monte buscando um pouco mais de privacidade com seus seguidores mais próximos. Na sequência, o texto mostra que os discípulos se achegaram a Jesus. Por fim, o texto deixa evidente que o Mestre se dirigiu aos discípulos. Vamos reler o que eu escrevi, para ver se fui além do que está escrito:

 

Se observarmos os versículos iniciais do sermão do monte, notaremos que o discurso de Jesus foi dirigido aos seus discípulos e não à multidão que o seguia. O simples fato dele ter subido um monte já era um fator de eliminação daqueles que tinham pouca disposição em ouvir o que ele tinha a dizer. Segundo o texto bíblico, lá em cima, embora muitos ainda o tivessem seguido, Jesus dirigiu a sua mensagem especialmente aos seus discípulos... (grifei)

 

Note que fiz questão de afirmar que, apesar de Jesus ter dificultado as coisas para as multidões, ainda assim muitos o seguiram. Entretanto, mesmo com a presença de outras pessoas, Jesus passa a ensinar os discípulos. O simples fato de Mateus ter se referido aos dois grupos diferentes (multidão e discípulos) já demonstra que não houve um equívoco no modo como ele descreveu o que presenciou. Ele constatou a presença das multidões, mas fez questão de deixar assente que Jesus se dirigia aos seus discípulos. É isso o que está escrito.

 

A pregação universal de Jesus, dirigida a todo homem

 

Não há que se questionar universalidade da salvação. Sim, esta é dirigida a todos, independentemente de raça, nacionalidade, cor, gênero etc.

Entretanto, precisamos fazer uma distinção. A mensagem da salvação é universal, mas há ensinamentos neotestamentários especialmente voltados àqueles que se tornam discípulos de Jesus. E mesmo as mensagens dirigidas aos crentes em Jesus (discípulos), estas são acessíveis a qualquer pessoa, pois a bíblia está à disposição de todos.

 

Qualquer um pode ler e conhecer as palavras do Mestre, admirá-las e não segui-las.

 

Mas, não é isso que Jesus quer de seus discípulos. Dos seus, ele espera a obediência. Tanto é assim, que ele fez questão de afirmar, ao final do sermão, que os ouvintes e não praticantes (crentes ou não), são como aqueles que constroem suas casas sobre a areia (Mt 7:26).

 

Apesar de Jesus estar apontando seus ensinamentos aos discípulos, a multidão que o seguia também ouviu sua mensagem e, como não poderia deixar de ser, ficou maravilhada. Evidentemente, se alguém quiser mudar de lado (do lado da multidão para o lado dos filhos), a oportunidade está lançada.

 

Comparação com a nossa realidade

 

Para que fique mais fácil a compreensão dessa questão, façamos uma comparação com nossa prática na igreja. Normalmente, em qualquer denominação, a programação das reuniões do domingo à noite são especialmente voltadas aos visitantes. Nessas reuniões é comum que a mensagem seja sobre salvação, sobre o chamado de Deus ao arrependimento ou sobre os benefícios de se aceitar a Jesus como salvador, por exemplo.

 

Já a escola bíblica dominical, comumente é preparada para quem já está integrado à igreja e os ensinamentos são diversos e especificamente destinados ao amadurecimento e ao crescimento dos membros. Mas, nada impede que um visitante venha pela primeira vez à igreja em uma escola bíblica. Neste caso, imagine você ensinando os membros sobre como jejuar ou mesmo sobre o modo como os corpos serão transformados na ressurreição dos últimos dias. Ter um visitante nessa escola bíblica não muda o fato de você ter preparado a mensagem especialmente para quem já é crente ou membro da igreja. Também, isso não impede que o visitante dessa escola bíblica fique maravilhado ou impactado com esses ensinamentos, não é mesmo?

 

O mesmo ocorre com as cartas de Paulo dirigida às igrejas, aos santificados, ou seja, aos crentes (discípulos) e não aos habitantes de Corinto, por exemplo:

 

“1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:” (1 Coríntios 1:1-2 RA)

 

Perceba que há um destinatário exclusivo, embora, evidentemente, o alcance da mensagem seja universal, na medida em que alcança a todos os que passam a fazer parte da igreja, independentemente da raça, da cor, da nacionalidade ou da época em que vivam.

 

Conclusão

 

Enfim, o fato de uma multidão ter seguido Jesus até o alto do monte, ter ouvido e ficado maravilhada com a mensagem que ele dirigiu aos seus discípulos não modifica o texto onde Mateus diz, expressamente, que Jesus se dirigia aos seus discípulos.

 

Particularmente, tenho um exemplo. Quando eu estava administrando o local de eventos do meu pai, cheguei a participar, como ouvinte, da reunião privada de outros grupos cristãos. Eles tratavam de assuntos que não me diziam respeito, ou sejam, não eram dirigidos a mim, mas, mesmo assim, permitiam que eu ficasse presente. Eu escutava o que não era especificamente dirigido a mim, mas gostava muito do que ouvia. Entendeu?

 

Quanto à universalidade da mensagem, lembre-se que a pregação da salvação é destinada a todos, especialmente à multidão de incrédulos do mundo (judeus ou gentios), mas há ensinamentos cuja “universalidade” é restrita aos que vierem a receber jesus como Salvador e Senhor, como você mesmo pontuou:

 

“11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12  Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;” (João 1:11-12 RA)

 

Pastor, espero ter ajudado. No mais, continuo à disposição para outros esclarecimentos.

 

Perdoe a demora em responde-lo, mas eu estava fora de Brasília e só agora pude acessar minha caixa postal.

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

 

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

Em 13/5/2014, JOÃO escreveu:

 

Prezado Pastor Sólon, saudações. Muito obrigado.

Preciso esclarecer que não sou pastor,mas membro da (...).

Fui da ICM por quatorze anos.

Quando tomei conhecimento das fraudes (FEV/2012) fui pesquisar sobre essa organização eclesiástica na INTERNET,e descobri porque seus membros são desestimulados a consultar a WEB.

Ao mostrar à minha esposa a matéria do jornal A GAZETA de Vitória,ela apresentou-me seu artigo "MINHA EXPERIÊNCIA COMO EX PASTOR DA ICM".

Foi-me de grande valia naquele difícil período de descoberta do mundo fora da "caverna de Platão".

Passei a"devorar" os artigos e cartas do site CELEIROS, e fui eliminando, um por um, os dogmas doutrinários da minha antiga" igreja ".

Minha esposa já congregava na (...), e resolvi acompanhá-la.

Deixei bem claro para ela e para o pastor que, se ficasse, seria por mim e não por ela.

Observei a (...) por cinco meses e filiei-me.

Estou muito bem: a (...) não coloca cargas sobre o seu povo (sei que o Sr. me entende) e todos louvam a Deus com alegria.

Problemas e dificuldades estão em toda parte, até na CEEN, não é mesmo ?

O Sr. pode me passar algum endereço da CEEN aqui no (...), capital?

Gostaria de fazer uma visita.

Graça e Paz em Cristo

JOÃO

 

RESPOSTA, em 13/5/2014:

 

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

 

Independentemente da função que você exerça atualmente, a nossa missão é a mesma, "pregar o evangelho", não é mesmo?

 

Renovo meus parabéns por sua disposição em investigar, conhecer e questionar. Penso que essa atitude prudente é uma virtude.

 

Quanto à dificuldades que todas a igrejas enfrentam, é verdade, você tem razão. Qualquer instituição composta por pessoas jamais será perfeita, uma vez que o homem é imperfeito. A soma de peças imperfeitas não pode resultar em um conjunto perfeito.

 

Mas, apesar disso, podemos fixar valores e princípios bíblicos como parâmetros de nossa conduta. Isso fará toda a diferença. Por exemplo, se tivermos como parâmetro o princípio da humildade, evitaremos a soberba a todo custo. E quando percebermos que estamos falhando nisso, podemos nos arrepender e fazer as correções necessárias para voltarmos ao padrão esperado pelo nosso Senhor Jesus.

 

Vou copiar este e-mail ao Pr. Ademir, Presidente da CEEN, pois ele poderá orientá-lo quando à localização de igrejas da CEEN.

 

Foi um prazer conhecê-lo.

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

 

Grande abraço,

Pastor Sólon