Carta 30

02/07/2013 12:21

De: JOÃO

Em 01/04/2009 07:39,

APDSJ, Pastor Solon.

Primeiramente, devo me apresentar. Sou membro da ICM há 10 anos, sendo que cinco dos quais na condição de obreiro.

Sou casado há 24 anos com a mesma mulher e tenho duas filhas, sendo uma com XX anos, e outra com XX. Moro em CIDADE-ES, uma cidade de aproximadamente XX mil habitantes. Pois bem, tenho lido atentamente seus escritos, dos quais tomei conhecimento através de alguns irmãos da minha congregação. Devo admitir que concordo com muito do que li. Nada obstante os "levantamentos", quando acontecem (na ICM), serem em regra tardios, quero tratar aqui de um aspecto (cruel), o qual nunca é dito abertamente por ninguém, porém me incomoda muito, na verdade, mais que tudo o que o senhor já apontou. Trata-se da predominância absoluta de brancos no ministério da ICM. Serei mais claro ainda. Parece que, como no resto da sociedade, os negros na ICM só têm lugar na base da pirâmide. Qual a sua interpretação sobre esse fato?

Lembrando que essa minha afirmação não se baseia somente no que vejo aqui onde vivo. Basta ir ao Maanaim, onde se reúnem irmãos de todo canto para observar o óbvio.

Por fim, gostaria de dizer que há tempos já me sinto um "outsider" na ICM, não só por ser negro, mas também por causa do poder imperial (ou papal, como queira) dos Doutores de Vila Velha.

Que Deus abençoe e multiplique o seu ministério.

JOÃO

 

De: pastor-solon

Data: 1/4/2009 09:54:44 -0300

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja contigo.

Inicialmente, quero dizer-lhe que nunca deixo de notar o nível das pessoas que se comunicam comigo. Nos e-mails não vejo raça ou condição social, mas observo o modo de pensar e de comunicar das pessoas e chego a algumas conclusões sobre o nível intelectual, cultural e espiritual dos meus interlocutores. Exemplo disso é o nosso responsável pela igreja do Rio de Janeiro. Logo nos primeiros contatos com o irmão Leonardo percebi que se tratava de um homem inteligente, equilibrado e espiritual. (...) Tudo o que percebi nele por e-mail se confirmou pessoalmente.

Fiz essa introdução para que você saiba que já sei com quem estou falando. Sua percepção da realidade é perfeita. Eu até poderia fazer algumas suposições, mas prefiro ficar apenas com os fatos. Aqui em Brasília, embora eu não tenha número percentual preciso, posso afirmar que a maioria esmagadora de pastores e ungidos são brancos. Isso é um fato.

Se você me perguntar se eu já tinha pensado em escrever algo a esse respeito, devo lhe confessar, com sinceridade, que não. Na verdade, minhas preocupações iniciais eram apenas duas: estender a mão aos renegados pela ICM e promover a reflexão sobre o sectarismo, com o fim de tentar alterar esse quadro de isolamento dos nossos irmãos da ICM, que creio estão sendo privados de uma importante bênção disponível a todo crente em Jesus - a comunhão com o corpo de Cristo.

Eu sei que é difícil de acreditar, mas eu não tenho a intenção de "detonar" a ICM, pois sei bem que cada igreja tem o seu valor e importância. Sei, também, que na ICM existem pessoas que não encontramos em qualquer lugar: servos abnegados, fiéis e que amam o Senhor com todo o coração. Por que eu iria querer atingir a fé dessas pessoas? Qual seria o meu prazer em ver aquela estrutura ruir?

Vou lhe contar um segredo: não toquei nos assuntos que toquei até aqui por vontade própria, mas por revelação de Deus. Tive um sonho por meio do qual o Senhor me orientou os primeiros passos. O sonho que tive vem se cumprindo. Tive, inclusive, a oportunidade de avisar ao Presbitério aqui de Brasília, com antecedência, sobre um fato que ocorreria no Estado do Paraná. Como eles não foram habilidosos para evitar o previsível, já aconteceu. Agora o Presbitério está apenas remediando a situação.

Amado irmão JOÃO, o assunto que você abordou é do meu conhecimento. Recentemente, tive um sonho onde o Senhor me mostrou que espera mais de mim. O seu e-mail me faz pensar sobre o sonho que eu tive, pois diz respeito a assuntos que eu deveria tratar, mas tenho me omitido simplesmente para evitar um maior desgaste da nossa já abalada relação. Eu sei que tenho que me encher de ânimo e coragem para fazer aquilo que deve ser feito, mas sei o quanto isso me custará.

Vou incluir a sua preocupação na minha lista de assuntos a serem abordados nos textos que estarei publicando futuramente. Desde já, peço que o irmão ore para que Deus nos dê sabedoria para tratar a questão.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

 

 

De: JOÃO  

Para:Pr. Solon  

Data: 01/04/2009 14:39

Caro Irmão Solon, muito obrigado pela presteza da resposta. Pelo cuidado que tem caracterizado suas abordagens, suponho que meu questionamento causou-lhe um certo desconforto. Tudo bem, era esperado. O poeta (Caetano Veloso) já dizia: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". É importante ressaltar que tenho a exata dimensão de que o seu testemunho não se trata de uma mera "vendetta", mas de uma incumbência, da qual imagino que o Sr. não teve como fugir. Pois bem, levantei esse assunto tão espinhoso, no intuito de trazer à luz essa coisa tão insidiosa e nefasta que é a discriminação racial (camuflada) que há no nosso meio (Não é exclusividade da ICM). Desde já autorizo a publicação do presente e-mail, eis que eu não tenho medo de mostrar a minha cara (negra com muito orgulho). Sinceramente, desde o dia em que a Casa Branca recebeu aquela família que hoje lá habita, já é hora desse assunto ser tratado aqui no Brasil com mais clareza e coragem. Como se diz no meio pentecostal: "A oportunidade está com o Irmão Solon".

APDSJ irmão.

 

De:pastor-solon   

Para: JOÃO  

Data:01/04/2009 16:16

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor seja contigo.

Agradeço sua compreensão. Eu não iria publicar a sua mensagem, já que você é membro e obreiro da ICM, mas, pensando bem, vejo que você tem toda razão. A publicação de seu e-mail já é um bom começo. Algo que poderá gerar a reflexão de nossos irmãos, da ICM ou não. Mesmo entendendo que você não tem qualquer receio de se apresentar ("mostrar sua cara"), vou suprimir seu nome e outras informações capazes de identificá-lo, como sempre faço, para evitar que você sofra algum tipo de represália, pois isso já aconteceu com um de meus correspondentes.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.