Carta 212

02/07/2013 16:43

DATA DA PUBLICAÇÃO: 7/2/2012

 

De: JOÃO

Data: 7 de fevereiro de 2012 11:14

Para: Pr. Sólon

Assunto: JOÃO

 

Olá Pr.Solon, tudo na paz?!

 

Meu pai está melhorando, os remédios estão começando a agir, graças a Deus.

 

Acho que você está sabendo de tudo o que está acontecendo na ICM, né?! Os escândalos de desvio de dízimos, etc.

 

O repórter da TV Gazeta e do jornal entrou em contato comigo ontem, ele quer fazer uma reportagem especial sobre ex-maranatas, especialmente sobre ex-pastores de lá que agora estão fora da instituição. Ele me pediu ajuda: pensei em você e no meu pai. Mas não divulguei e nem passei dados nenhum de vocês dois.

 

Não sei se vocês querem se envolver nisso. De todo modo, se o Sr. tiver interesse, estou aqui à disposição.

 

Um abraço, JOÃO.

 

De: Pr. Sólon

Data: 7 de fevereiro de 2012 15:27

Para: JOÃO

Assunto: Re: JOÃO

 

Prezado JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Fico feliz em saber que seu pai está melhor e, como já lhe disse, pode contar comigo quando precisar.

Quanto à proposta da TV Gazeta, gostaria de fazer algumas considerações para lhe explicar as razões da minha recusa.

Você, melhor que ninguém, sabe dos malefícios que atitudes autoritárias, soberbas e sem misericórdia causaram a muitas ovelhas do Senhor Jesus. Também, é notório o prejuízo causado a muitas famílias cujos pais e maridos estiveram a serviço da ICM e sem tempo para serem pais e maridos segundo os padrões bíblicos. Não podemos deixar de notar, ainda, que até hoje temos famílias separadas pela igreja que divide crentes, ao invés de uni-los.

 Isso são fatos. Para constatá-los, além de nossas experiências pessoais, basta que se vejam as cartas que já recebi e publiquei no site celeiros, bem como as expressões revoltadas e ressentidas de muitos irmãos que, diariamente, manifestam-se nas redes sociais.

 

Eu lamento que a igreja do Senhor Jesus tenha tanta dificuldade em relação ao perdão.

 Há, inclusive, quem defenda que só devemos perdoar se o nosso ofensor se arrepender e nos dirigir um solene pedido de perdão. Eu sei de onde tiraram esse entendimento:

 “3 Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4  Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.” (Lucas 17:3-4 RA)

Mas, observe que, embora Jesus tenha dito que devemos perdoar o arrependido quantas vezes forem necessárias, não disse que essa era a condição "sine qua non" para se perdoar. Ao contrário, com suas próprias ações posteriores, Jesus, mostrou-nos que o perdão pode (e deve, para o nosso próprio bem) ser liberado, mesmo quando nossos ofensores não se arrependem e não nos pedem perdão. Se perdoar nessas condições não fosse o certo, Jesus não faria assim. Ele é o nosso exemplo e a quem, em última instância, devemos imitar, assim como Paulo nos ensinou:

 “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1 Coríntios 11:1 RA)

Jesus, depois de tudo sofrer pelo homem, recebeu em troca açoites, coroa de espinhos, tapas, socos, cuspes, xingamentos, uma cruz pesada para carregar e pregos nas mãos e pés, mas mesmo tendo todo motivo para odiar e desejar um juízo sobre os seus escarnecedores e algozes, ele preferiu perdoar e ainda pedir ao Pai que os perdoassem. E veja que, naquele momento, não havia qualquer arrependimento da parte dos que o ofendiam e o feriam.

 Mesmo assim, sem que houvesse qualquer arrependimento ou pedido de perdão daqueles homens, Jesus pediu ao Pai pela vida deles, suplicando pelo perdão.

 “Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes.” (Lucas 23:34 RA)

Somente um homem que sabe perdoar é capaz de pedir que Deus perdoe seus ofensores. Ora, racionalmente, eles sabiam o que estavam fazendo, mas Jesus compreendia que eles não entendiam, na essência, o que os seus atos representavam.

Assim, também, são as pessoas que, muitas vezes, nos agridem. Elas querem nos agredir, mas não têm consciência plena do pecado que estão cometendo e a quem estão servindo. Por isso, Paulo nos disse que a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os espíritos das trevas:

"porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes." (Efésios 6:12 RA)

 Uma coisa que deveria nos incomodar profundamente é saber que não somos perdoados por Deus se não perdoarmos os homens, independentemente das atitudes deles em relação a nós. A oração que Jesus nos deixou como exemplo é bastante clara em relação a isso, senão vejamos:

“12  e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 13  e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! 14  Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; 15  se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.” (Mateus 6:12-15 RA)

Também, todo crente deveria saber que a causa de muitas mazelas que ele vive em sua alma (depressão, angústias, ódio e doenças) decorrem exatamente do fato de não terem aprendido a perdoar as pessoas que lhe fizeram algum mal em determinado momento de suas vidas. Se ouvissem a Jesus, saberiam disso. Veja que o mestre nos deu um exemplo muito claro para nos mostrar que nossas almas podem ser afligidas por muitos males, a exemplo dos verdugos (torturadores) ao qual um homem foi entregue para ser atormentado porque não perdoou uma dívida pequena em comparação à grande dívida que lhe foi perdoada, senão vejamos:

“32 Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; 33  não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? 34  E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. 35  Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.” (Mateus 18:32-35 RA)

Ora, diante desse contexto bíblico, será muito difícil levarmos a Deus qualquer argumento da nossa justiça própria para justificarmos a falta do nosso perdão a quem nos ofendeu, quando nós mesmos fomos perdoados de uma dívida muito maior – a dívida da nossa própria vida.

Será que os crentes não conseguem perceber isso? Será que não conseguem enxergar que foram perdoados, em Jesus, de uma enorme dívida que tinham para com Deus em razão de seus pecados? Será que não conseguem entender que deveriam fazer o mesmo em relação às dívidas que outras pessoas com eles.

As atitudes dos homens revelam o que está em seus corações, assim como a boca fala do que está cheio o coração, senão vejamos:

“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas 6:45 RA)

Observando as atitudes dos crentes que torcem pela desgraça da ICM percebo que muitos não param de cobrar suas dívidas. Parece que só se satisfarão se verem seus ofensores pagarem cada centavo pelo mal que lhe fizeram. Assim, se tornam escravos dos ofensores, como o devedor perdoado que, por não perdoar foi lançado na prisão e lá permaneceu na mão dos verdugos. Ora, o instrumento de tortura dos verdugos hoje são mágoas, angústias, frustrações constantes, fobias, medos, depressão etc.. O fato é que, ante esses sentimentos latentes, os ex-ICMs não conseguem desviar suas mentes de um passado negro ou de um presente cheio de reflexos da influência negativa que sofreram no passado – estão presos à ICM, mesmo que já a tenham deixado fisicamente.

Quanto sofrimento desnecessário!

Quem resiste ao mandamento de Jesus, não perdoando, resiste a Deus e torna-se um rebelde em luta contra Ele. Ora, lutar contra Deus é uma grande tolice.

Por outro lado, querido, como crentes que somos, mesmo sabendo que nossos irmãos devem nos perdoar, independentemente do nosso arrependimento, não podemos ser homens de corações que não se quebrantam e não se arrependem diante da noção do nosso pecado e das ofensas que dirigimos aos nossos semelhantes.

Se alguém se sentiu ofendido por nossas ações, ainda que não tivéssemos a intenção de ferir, devemos pedir perdão. Essa é uma atitude que agrada a Deus, revela humildade, sabedoria, nobreza e amor. Era isso que eu faria se fosse um líder na ICM. Acredito que isso apagaria um grande incêndio, apesar do fogo já ter queimado bastante coisa.

Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” (Tiago 5:16 RA)

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.” (Colossenses 3:12 RA)

“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.” (1 Pedro 5:5 RA)

Meu irmão JOÃO, perdoe-me por ter estendido a minha resposta, mas vou explicar-lhe a razão disso.

Pessoalmente, eu não tenho qualquer mágoa, rancor, ódio ou ressentimento da ICM, mas sei que muitas pessoas têm, inclusive, um inconfesso desejo de vingança, fruto desses tipos de sentimentos. Não é o meu caso e sei que não é o seu. Mas, infelizmente nem todos tiveram as mesmas oportunidades que nós tivemos. Sei que você continua tentando ajudar as pessoas a se libertarem. Eu também, na medida de minhas possibilidades, tenho conduzido muitas pessoas a um seminário onde trabalhamos a cura interior. Os resultados têm sido maravilhosos. Até doenças saem instantaneamente quando somos curados na alma.

Todo o mal que me fizeram eu já perdoei há muito tempo e as lembranças não doem mais. Por outro lado, quando alguém diz que se sentiu ofendido por minhas palavras eu me apresso em pedir perdão, mesmo sabendo que o que fiz não foi visando o mal de ninguém.

Eu sei que posso parecer indiferente quanto ao que está acontecendo na ICM, mas o fato é que eu não posso fazer nada para ajudar. E se eu não posso ajudar, também não quero aproveitar a oportunidade para criar mais problemas para eles. Os que erraram não precisam de mim para fazer com que se sintam piores do que estão. Também, não precisam de mim para experimentar ou ampliar a dor e as demais consequências do pecado e do escândalo que causaram:

“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo!” (Mateus 18:7 RA)

Se Deus quiser me usar, espero que seja para socorrer e não para “chutar o cachorro morto”. Digo isso com respeito a todos os que, arrependidos, não têm a quem recorrer para pedir ajuda para suportar as consequências do seu pecado. Devemos lembrar que Deus perdoa até mesmo o mais vil pecado, desde que o pecador se arrependa, sinceramente, confesse seu pecado e tenha plena disposição em deixá-lo.

Veja bem, qual seria a intenção da Gazeta em entrevistar ex-membros e ex-pastores da ICM? O que eles querem? Posso estar errado, julgue você mesmo, mas independentemente do que tenha acontecido no âmbito da ICM, eu não quero ser um instrumento para a divulgação de uma vitória de Satanás.

Afinal, o Diabo quer atingir a igreja de Cristo e não a ICM. A Igreja Maranata não é nada em si mesma, mas a igreja de Cristo é a sua noiva amada. Todo o meu trabalho em alertar os cristãos quanto a heresias é apenas por desejo de preservar a igreja de Cristo e não para envergonhar uma denominação que, como qualquer outra, tem trigo e joio.

Enfim, acredite, eu não estou feliz com o que está acontecendo. Não quero aproveitar a situação para ganhar destaque, ou para mostrar que eu estava certo, ou mesmo para lançar mão de despojos de uma guerra onde eu também saí perdendo.

É assim que eu penso.

Creio que todo crente em Jesus saiu perdendo com esses fatos que envergonharam o evangelho do Senhor Jesus. Creio que somente os ateus, os neo-ateus, os agnósticos, os servos de Satanás e os crentes loucos é que estão felizes com os fatos que sucederam à ICM. Quem ganhou essa batalha (não a guerra) foi o Diabo e eu sei muito bem de que lado estou.

“1 E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus 2  (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação); 3  não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado. 4  Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, 5  nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, 6  na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, 7  na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas; 8  por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; 9  como desconhecidos e, entretanto, bem conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém não mortos; 10  entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo.” (2 Coríntios 6:1-10 RA)

Só mais uma coisa. Eu posso ter um desentendimento com minha irmã de sangue e até podemos ser irredutíveis em nossos posicionamentos, mas se uma terceira pessoa quiser fazer mal a ela comprará uma briga comigo. Não é porque eu tenho divergências com a minha irmã que ela deixará de ser minha irmã amada. Estarei ao lado dela, independentemente das nossas divergências. Não tenho prazer na derrota de nenhum crente em Jesus.

Querido, você sabe a consideração e respeito que tenho por seu pai. Há muito tempo que não o vejo, mas sei que ele terá uma palavra melhor do que a minha para você.

Por fim, minha oração, agora, é para que Deus lhe dê sabedoria para tomar as decisões certas.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

 

De: JOÃO

Para: "Pr. Sólon"

Data: 7 de fevereiro de 2012 16:09

Assunto: JOÃO

Amém pastor, obrigado pela resposta. Mas eu já imaginava que esta seria a sua posição, bem como provavelmente será a do meu pai. E com certeza aprendi com você hoje lendo o seu e-mail. De fato o perdão apaga multidões de pecados. Vamos orar pra que tudo isso reflita neles algo melhor de Deus àquele povo, né?! Obrigado pelo carinho, desejo um caminho de muita paz nos trilhos por onde Deus tem levado a sua vida.

Um abraço, com carinho,

JOÃO

 

celeiros.df@gmail.com