Carta 194

02/07/2013 16:28

DATA DA PUBLICAÇÃO: 17/12/2011

 

 

De: JOÃO

Para: celeiros.df@gmail.com

Data: 30 de novembro de 2011 14:08

Assunto: Informação...

A ICM tem um argumento, de que seus Pastores em seu ministério não são sujeito os dons, e dizem que eles estão acima dos dons, como é que se explica esta situação, quando a palavra diz que em parte conhecemos e em parte profetizamos,a pergunta é existe base bíblica para isto...

 Att... JOÃO

 

De: Site Celeiros

Para: JOÃO

Data: 17 de dezembro de 2011 01:44

Assunto: Re: Informação...

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Talvez eu esteja desatualizado, mas no meu tempo o que aprendi na ICM foi que os dons estavam sujeitos aos ministérios, mais precisamente em referência ao governo da igreja. Então, a aprovação de um dom espiritual obedecia a uma hierarquia da seguinte forma:

1 – Presbitério Espírito Santense (PES), na qualidade de governo máximo da ICM;

2 – Coordenações regionais;

3 – Coordenações de áreas;

4 – Coordenações de pólos;

5 – Pastor local;

6 – demais membros

Nessa linha hierárquica, ainda que um dom espiritual fosse concedido “por Deus” a um coordenador regional, o PES teria o poder de descartá-lo ou de reinterpretá-lo (discernir de outro modo), pois aí estava o governo maior da igreja. O mesmo ocorria nas esferas inferiores.

Assim, um dom espiritual concedido “por Deus” a um membro só teria algum valor e razão de ser obedecido se passasse pela aprovação de toda a hierarquia superior.

Evidentemente, essa construção doutrinária não resiste a uma avaliação inteligente, seja em que nível for. Mesmo um simples membro, se parar para pensar, vai ver que há alguma coisa incoerente aí.

Veja bem, quando falamos de dom espiritual, estamos imaginando o próprio Deus soberano falando ou se manifestando. Mas, que soberania é essa que pode ser desprezada por homens, segundo suas hierarquias? Pior fica quando imaginamos um dom descartado após ter passado pela aprovação do “próprio Deus”, por meio da consulta bíblica.

Admitirmos essa construção doutrinária é o mesmo que reconhecer que Deus não fala com os níveis hierárquicos inferiores ou que só pode falar se não interferir na administração eclesiástica do PES, o ápice da pirâmide hierárquica da ICM.

Vou dar um exemplo prático. No meu tempo, quando queríamos adquirir um terreno para construir um templo ou um imóvel para adaptar ao uso da igreja, preparávamos um processo com fotos do local, preço etc. e submetíamos o pleito à nossa Coordenação. Após a aprovação de Deus, por meio da consulta à palavra, o processo seguia para o PES. Lá, Deus podia rejeitar o pleito ou mandar-nos fazer uma proposta com o preço muito inferior ao que já tínhamos consultado a Deus e negociado com o vendedor.

O mesmo acontecia no processo de levantamento de um ungido. O pastor local reunia uma boa quantidade de dons espirituais (já consultados) confirmando a indicação de um de seus diáconos ao ministério. Esse nome era levado à reunião de pólo, onde era realizada uma nova consulta a Deus. Se Deus aprovasse, esse nome era encaminhado a uma reunião geral da coordenação da área. Nesse momento, Deus poderia mudar de idéia e invalidar todos os dons e consultas anteriores. Caso Deus não mudasse de idéia, o nome era encaminhado à reunião do PES. Mais uma vez Deus poderia mudar de idéia e rejeitar o nome antes aprovado, o que não era incomum.

Ora, em nenhum desses dois exemplos Deus parece ser aquilo que Ele realmente é: onisciente e soberano. Se afirmarmos que, nos exemplos dados, Deus exerce sua soberania somente quando consultado no PES, teremos que admitir que as operações anteriores são desnecessárias ou, se necessárias, não são confiáveis. Outra conclusão a que podemos chegar a partir desses exemplos é que as pessoas se enganam com muita facilidade e freqüência no exercício de dons espirituais e na consulta bíblica, mesmo quando esse processo é realizado pela “nata” dos pastores de cada região.

Sendo assim, dá para confiar em dons nesse ambiente de contradições?

Francamente, no fundo de meu coração, eu sabia que se os homens não quisessem, Deus nada poderia fazer para levantar ao ministério um de seus escolhidos na ICM. Os dons de nada valem nesses casos e são apenas pretextos para que depois se afirme: “foi Deus quem quis assim”. Na prática, eu vi muitos homens condenados ao eterno diaconato na ICM por terem “pisado na bola” em algum momento de suas vidas ou por terem criado algum problema com um pastor influente.

Será que só eu via isso?

Os membros da ICM são servos de grande valor, mas parecem aceitar passivamente regras do jogo (não ditas, mas conhecidas), sem questionar. Por quê?

A meu ver isso acontece porque o medo toma conta de suas vidas em um ambiente que qualquer deslize é punido com rigor e sem que haja misericórdia. Os exemplos são vários.

O fato é que os homens na ICM suportam grandes humilhações e se calam diante de injustiças e desmandos, mas não abrem suas bocas, temendo ser classificados como insubmissos ou rebeldes, pois uma vez recebida essa marca indelével, suas carreiras ficam comprometidas para sempre na ICM. E esses homens, sinceros e tementes a Deus, não querem sair da ICM, porque desde o começo aprenderam que não têm para onde ir e que só a ICM é a “obra do Espírito Santo”.

De igual modo, as mulheres na ICM suportam uma pesada carga, pois elas devem ser apenas uma sombra de seus maridos. Elas não podem pensar e nem reclamar de nada, ainda que vejam seus maridos sendo massacrados. Se abrirem suas bocas, prejudicarão as pretensões eclesiásticas de seus esposos. Ademais, elas sabem que se levantarem suas cabeças, seus maridos serão taxados de “bananas” que não controlam suas mulheres. Evidentemente, elas estão protegendo seus maridos e seus próprios interesses, pois o cargo máximo que uma mulher terá na ICM é o de “esposa do pastor” e coordenadora das senhoras na igreja. Esse é o “sonho de consumo” de muitas mulheres na ICM. Por isso elas suportam muitas coisas e sofrem caladas, como se estivessem felizes e contentes com tudo. No fundo, não estão!

Eu posso estar enganado, mas penso que, em boa medida, os pastores e suas mulheres morrem de medo de prejudicar suas carreiras eclesiásticas. Eles são tementes a Deus, mas temem mais aos homens que podem lançá-los para fora desse mundo religioso (“obra”) que, para eles, é o único que existe.

E os dons? Para que servem nesse contexto? Apenas para a manipulação. Leia o texto que escrevi sobre esse assunto e você verá que muitas de suas questões já estão respondidas lá: https://www.celeiros.com.br/arquivos/Estudos/Dons%20espirituais.pdf

É importante ressaltar que eu creio nos dons do Espírito Santo de Deus, mas apenas naqueles onde Deus se faz soberano.

Também, preciso dizer que não reputo essas incoerências aos membros da ICM e nem mesmo aos seus pastores, mas a um sistema que foi engendrado no passado e que, agora, mesmo dando mostras de suas falhas e incoerências, não tem como ser alterado. Para a ICM, mudar esse sistema seria o mesmo que a igreja católica admitir que os santos não passam de idolatria.

E já que isso não pode ser alterado, só há duas alternativas para os membros da ICM: seguir em frente fechando os olhos para essas coisas ou admiti-las e rejeitá-las, o que implicará num rompimento com o sistema.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pr. Sólon.