Carta 191
DATA DA PUBLICAÇÃO: 14/12/2011
De: JOÃO
Para: Site Celeiros
Data: 12 de dezembro de 2011 00:01
Assunto: Duvida
Olá Pastor Solon, li alguns de seus artigos no site e me identifiquei muito com o que tem dito em todos eles.
Atualmente passo por uma situação um pouco fora do comum para mim, nasci e sempre freqüentei igrejas batistas e hoje eu namoro uma cristã da maranata. Desde o inicio só são provas, pessoas com calúnias contra a gente, ela não se sente a vontade de sair na rua comigo, o avô dela que é pastor da ICM e que mora junto com ela, nos recrimina muito, as vezes como forma de proteção a ela, mas eu vejo que tem algo a mais, é um medo que ele tem de que algum escândalo possa acontecer com a gente e ele perca o cargo de pastor por ela ser da família dele.
Já se faz quase 2 anos que sai da Batista Betel e fui para a ICM por iniciar o namoro com ela. De inicio ela já foi perdendo o cargo de instrumentista, pensei até em terminar o namoro nesta época, já que sou muito temente a Deus, e percebi que estaria atrapalhando a vida dela, mas resistimos a este primeiro problema e estamos até hoje com nosso namoro firme. Eu penso em casar com ela, mas temo por minha vida espiritual. Não consigo me sentir a vontade dentro da ICM, já que também não concordo com muitas das coisas que você citou em seu texto e que a maranata tenta empurrar goela abaixo em todos os seus membros.
O motivo de estar escrevendo este e-mail é para pedir ao senhor, pastor, uma orientação, penso muito em dizer tudo que penso a ela, mas novamente temo em influenciar ela a sair da igreja dela para irmos para outra e algo der errado nesta transição. Eu tenho certeza de que ela será muito recriminada caso faça isso, mas eu também não posso permanecer em uma igreja que não me aviva espiritualmente, nossa carne é fraca e se não estamos avivados, caímos facilmente no primeiro pecado que nos aparece. Eu sempre senti uma vontade grande de servir a Deus com tudo que ele me deu, mas vejo uma lacuna na ICM terrível que não conseguiria me habituar jamais, eles não tem amor ao próximo, e não se importam com os doentes, pregam apenas a volta de Cristo, para saciar o próprio ego deles. Afim de querer um futuro melhor para mim e para minha futura esposa, eu devo influenciá-la a sair da maranata ? Desde já agradeço a sua atenção.
Att. JOÃO
De: Site Celeiros
Para: JOÃO
Data: 14 de dezembro de 2011 14:36
Assunto: Re: Duvida
Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.
Quem bom que o conteúdo do site lhe tem sido útil!
Sobre relato que você apresentou, creio que já falei sobre questões semelhantes em outras oportunidades, mas como eu não me lembro exatamente quando e onde, vou respondê-lo dentro da liberdade que você me deu para expressar minha opinião.
Honestamente, penso que você estava melhor antes. Sair de sua igreja foi uma escolha precipitada. No meu entendimento, a mulher deve acompanhar o homem e não o contrário. Leia a carta 178, pois nela tem algumas informações adicionais sobre esse assunto.
Veja você mesmo o quanto sua decisão lhe tem trazido transtornos. Eu nem consigo imaginar um relacionamento baseado na palavra de Deus, com vistas ao casamento, onde o casal não possa sair na rua.
Calúnias? Por que? Que ambiente é esse em que você está? Olhe ao seu redor e repare na formação da família de sua namorada. Quem vive com quem? Os avós vivem com os filhos e netos ou os filhos e netos vivem com os avós? Por que um avô está interferindo dessa maneira, se a moça tem pai e mãe? Qual o conceito de “família” reinante nessa casa? Os pais de sua namorada não “deixaram pai e mãe?” Os pais de sua namorada são omissos? Os pais de sua namorada não são responsáveis o suficiente para cuidar de sua filha? Os pais de sua namorada não se firmaram financeiramente? Quem é a cobertura espiritual de sua namorada?
Ora, querido, alguma coisa não me parece certo nessa formação familiar. Creio que todos precisavam frequentar uma igreja que saiba o que é “família” e quais as responsabilidades e limites dessa constituição. Se sua namorada acha que isso é normal, é nesse ambiente que você viverá no futuro. É isso que você quer?
Olhe ao seu redor e veja qual a maior influência sobre os relacionamentos nesse ambiente. As pessoas estão fazendo ou deixando de fazer algo para não perder cargos na igreja? Meu amado, neste momento vocês precisam de discipulado e não de igreja. Primeiro vocês precisam aprender mais sobre o caráter cristão, sobre a razão de vocês serem crentes, sobre as responsabilidades do homem e da mulher no casamento, sobre autoridade espiritual no casamento, sobre criação de filhos etc. Neste momento, vocês não precisam aprender a ser bons servidores da igreja, mas a ser bons crentes, especialmente fora do templo religioso. O seu líder não ensina essas coisas a vocês?
Perceba! Se o avô de sua namorada tem medo de perder o ministério por causa do comportamento de uma neta, ele está preocupado com ele mesmo e não com ela. É o egoísmo que vocês estão absorvendo nesse contexto religioso. Cada um pensando em si mesmo, em seus cargos eclesiásticos e não nas pessoas. Esse é um ambiente perfeito para se formar covardes e egoístas. É isso que você quer para si?
Outra coisa: sua namorada perdeu os cargos na igreja porque começou a namorar com você, um crente? Afinal, você é crente ou não é? O comportamento de vocês condizia com a santidade esperada de um crente? Se sim, por que sua namorada perdeu o cargo de instrumentista? Seja bem sincero consigo mesmo: vocês estavam com suas consciências pesadas e, por isso, admitiram a disciplina passivamente? Se não, por que vocês se submeteram sem questionar? Vocês aceitam bem uma liderança que diz que “tudo é revelado por Deus”, mas cometem injustiças em nome de Deus? Se sim, não há do que reclamar.
Você disse que é temente a Deus. Ótimo! Então você deve saber o que isso representa. Segundo entendo, isso implica em submissão à vontade de Deus, sem covardia na hora de defender a verdade, ainda que ela contrarie nossos interesses pessoais ou nos traga desconforto. Há muitas pessoas que se dizem tementes a Deus, mas vivem acovardados em suas conveniências.
Pois bem, creio que está na hora de você tomar algumas decisões em sua vida. O seu futuro está em suas mãos. Deus não decidirá por você. Se Deus quisesse decidir tudo pelas pessoas, que sentido faria o livre arbítrio? Por que Deus daria inteligência, raciocínio e poder de decisão ao homem, se Ele desejasse decidir tudo por ele?
Note que Adão já tinha uma ordem de Deus expressa sobre o que deveria fazer (Gn 1:28-30; 2:15-16) e também sobre o que lhe era proibido (Gn 3:3). Adão não precisava consultar a Deus para saber se ele poderia tomar banho em uma corredeira de águas perigosas. Também, não precisava consultar a Deus para saber se ele podia comer manga verde. Tudo o que não estava proibido era permitido, mas isso não significa que ele não tivesse que evitar aquilo que lhe parecesse perigoso.
De igual modo, em linhas gerais, já conhecemos a vontade de Deus (verdade, santidade, honestidade, amor, domínio próprio etc.) e também já sabemos o que ele repudia (vaidade, soberba, mentira, ódio, vingança, avareza, idolatria, jugo desigual etc.). Se somos cuidadosos com o que Deus quer e com o que Deus proíbe, já temos o que precisamos para fazer as escolhas certas e assumir nossas responsabilidades. Inevitavelmente, colhemos o que plantamos. Neste último domingo, aproximadamente na hora do culto, um ex-diácono morreu assassinado em um bar aqui em Brasília. Ele escolheu o lugar em que queria estar, estando diante dele as mesmas opções disponíveis a nós.
Eu não estou descartando a possibilidade de Deus falar conosco adicionalmente, por de dons verdadeiros, mensagens dadas a seus ministros ou por meio de outros sinais, ajudando-nos na hora de dúvida, mas Deus é soberano e não está obrigado a falar o que já deveríamos saber. Afinal, pela sua santa palavra, já temos uma direção a seguir, um norte para nossas escolhas.
Deus até pode falar com você algo que já está escrito na bíblia, mas se Ele não fizer isso... já está escrito na bíblia. Aprenda a viver pela palavra de Deus e você estará seguro.
Pois bem, disse isso para que você se lembre que algumas coisas você já deveria saber.
Considere o que nos ensina a palavra de Deus: colocar-se em jugo desigual exigirá que alguém carregue mais peso e se subjugue. Eu creio que o jugo desigual referido na palavra de Deus se aplica também aos casos onde as pessoas não se encontram com um mesmo sentimento, equilíbrio de condições e fé. Pense a respeito do conceito de “uma só carne”. Sua mulher não pensará exatamente como você, mas é importante que o casal esteja em acordo em relação às questões essenciais que podem desuni-los.
“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” (Amós 3:3 RA)
Amado, a paixão impede a visão de coisas muito claras. O que parece simples agora pode gerar intermináveis discussões futuras. Eu recebo muitas cartas de homens e mulheres que vivem angustiados porque seus cônjuges colocaram a igreja (instituição) acima do bem-estar de suas famílias.
Você fará um bem a si mesmo e à sua namorada se firmar o consenso agora. Seja sincero, verdadeiro e honesto com ela. Diga-lhe tudo o que você sente e o que você pretende. Se vocês não chegarem a um consenso agora, muito menos depois. Sejam racionais e não deixem a paixão conduzir esse acordo. Veja que eu estou considerando que vocês estão em um relacionamento preparatório para o casamento. Não existe casamento saudável sem diálogo sincero e acordo.
Agora, vou lhe falar um pouco acerca das dificuldades que você pode encontrar, caso a sua namorada seja uma “maranata convicta”. Normalmente, essas pessoas não cedem, pois “a obra” está na mesma posição de Deus. E lá eles aprenderam que é melhor morrer do que renunciar à “Obra” (filho único), pois isso seria renunciar o próprio Deus ou a Jesus.
Por isso, você precisa saber em que terreno está pisando.
A minha experiência diz que somente uma conversão pode fazer que um membro da ICM seja livre. Isso mesmo! Deve haver uma mudança de mentalidade, de conceitos, de valores, de práticas e de comportamento. É radical! Não pense que isso é fácil de alcançar.
Se não houver uma conversão, deixar a ICM é apenas um passeio por outros lugares para depois voltar. Eu conheço um pastor que saiu e voltou. Certamente, a razão da saída dele não foi a mesma da minha.
Ora, não adianta sair da ICM por causa de uma decepção de cunho administrativo; não adianta sair da ICM por causa de uma disciplina; não adianta sair da ICM por causa de insatisfações e descontentamentos pessoais... não adianta sair da ICM por causa de namorado.
A única forma de se sair, de verdade, da ICM é com mudança de mentalidade. De outro modo, o corpo sai e a mente fica.
Observe, querido, que já estamos assistindo pastores saindo da ICM por insatisfação administrativa e outras questões, a meu ver, periféricas, mas continuam acreditando que a doutrina da ICM está perfeita. Muitos outros, já sabemos, estão pensando em dividir a igreja, ou seja, estabelecer outra denominação com toda a estrutura humana e doutrinária da ICM, deixando para trás apenas a estrutura física e alguns procedimentos que condenam. Essa tentativa de colocar “remendo de pano novo em vestido velho”, no meu entendimento, mostra claramente o quanto é difícil mudar uma mente já formatada. Você deve estar consciente disso. Lembre-se: sua namorada é uma maranata!
Cabe a você decidir se deseja entrar em um casamento sem unidade de fé com sua esposa. Se essa for sua escolha, você deve estar preparado para suportar um peso extra ou colocá-lo sobre ela.
Você gostaria de formar uma família já sabendo que a igreja será motivo de desunião, de discussão e de confusão? Se sim, assuma o risco de viver com alguém que estará religiosamente insatisfeita ao seu lado ou que o forçará a viver frustrado por estar em uma igreja com a qual você não comunga completamente.
É isso que você quer?
Amado, eu não pretendo ser conselheiro daqueles que não participam de meu discipulado, mas como você pediu minha opinião eu fui sincero como seria com um filho meu. Lamento se não falei o que você queria ouvir.
O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz.
Grande abraço,
Pr. Sólon.