Carta 18

02/07/2013 12:16

De: JOÃO

Amado pastor. A paz do Senhor esteja contigo.

Minha pergunta é referente à consulta da palavra. Se um servo do Senhor tem um dom, e se for do Senhor porque é preciso confirmar o que o Próprio Senhor mostrou, seja através de revelação, sonho ou visão?

Obrigado desde já e que o Senhor Jesus abençoe sempre seu ministério em nome de Cristo Jesus. Amém!

 

From: pastor-solon

To: joao@yahoo.com.br

Date: Sun, 1 Mar 2009 01:22:18 -0300

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja contigo.

 O que você me pede é algo difícil, pois você informou que é um membro da ICM. Portanto, espero que você seja maduro o suficiente para entender que o que eu vou dizer é apenas a minha percepção deste assunto que, na ICM, é uma doutrina. Sinta-se à vontade para discordar ou mesmo para colocar sua experiência acima do que eu vou dizer, ok? Eu não quero provar nada sobre este assunto para ninguém, mas vou expressar minha opinião, que é sincera. Futuramente, vou elaborar um texto com fundamentação bíblica para esclarecer melhor meu raciocínio. Por ora, vou apenas lançar meu entendimento sobre a consulta à Bíblia, conhecida na Igreja Cristã Maranata como consulta à palavra de Deus.

 Então, vamos lá:

 O que uma pessoa que abre a bíblia em um texto aleatório, após uma oração, quer? Parece-me que ela quer que Deus fale com ela, ou que lhe responda, com um texto qualquer, sobre alguma situação que ela tenha dúvida. Para que Deus possa direcionar o texto que a pessoa deve ler em resposta à sua indagação, ou mesmo para satisfazer ao seu anseio de ouvi-lo falar, deve haver uma operação sobrenatural, certo? Tudo bem. Vou pular esta parte e seguir, agora, para a questão específica que você colocou: a abertura aleatória da bíblia para saber se um dom espiritual procede do Espírito de Deus.

 A primeira questão que vou trazer para sua consideração é a seguinte: qual a operação espiritual tem mais valor? A operação que concedeu a visão ou a que o fez abrir a bíblia em um determinado texto? Por que você crê que a segunda operação é infalível enquanto crê que a primeira é duvidosa? Por que a primeira operação é questionável e a segunda não, uma vez que as duas operações devem ser igualmente espirituais, ou seja, tanto uma como a outra depende de uma operação sobrenatural de Deus? A resposta é: porque na segunda operação você não deixa alternativa para Deus – “ou Ele fala ou Ele fala”. No caso de uma visão você pode até se convencer de que foi apenas uma imaginação, mas a leitura do texto bíblico não deixa dúvidas – está lá na hora que você abrir a bíblia, bem visível. Quando eu abro a bíblia aleatoriamente, invariavelmente, terá um texto lá para eu ler. Desse modo, Deus não tem como se negar a falar, não é mesmo?. Eu, simplesmente, abro minha bíblia e Deus tem que falar naquele exato momento, seja sim, seja não. Eu me torno Senhor e Deus se torna meu servo – a meu dispor.

 Sobre essa primeira colocação, com todo respeito, creio que é um ato de fuga da ordenança bíblica de provar os espíritos. Deus ordenou que o homem provasse os espíritos, com discernimento, e não disse para que o Espírito provasse os espíritos. O que acontece na consulta à palavra é exatamente isso: espero uma operação sobrenatural para confirmar outra operação sobrenatural.

Eu até entendo que a consulta à palavra é a maneira mais fácil e cômoda de se provar os espíritos, pois tudo o que eu tenho que fazer é julgar se um texto é “bom”  ou “ruim”, se a passagem refere-se a uma circunstância de bênção ou de dificuldade em seu contexto. Isso é muito mais fácil do que ter que exercitar o discernimento de espíritos, pois, para isso, tenho que ser espiritual. Abrindo aleatoriamente a bíblia, ainda que eu não seja espiritual, ou não esteja em comunhão com Deus, tenho como, pela simples avaliação do texto, afirmar que Deus falou que sim ou que não, afastando minha responsabilidade pelo acerto.

O risco disso tudo é: o mesmo espírito que atuou na primeira vez (concedendo o dom) pode atuar na segunda vez (consulta) e ser aprovado sem ser julgado como deveria ser, possibilitando que um dom procedente da mente humana (imaginação) ou mesmo de espíritos malignos seja aprovado sem ser provado. Por exemplo: ouvi a seguinte história contada por um professor do maanaim de Brasília, o Pr. AC(...): uma irmã recebeu uma visita em sua casa de uma pessoa de outra denominação que queria conversar com ela acerca de religião. Esta irmã se retirou por alguns instantes e perguntou a Deus se deveria conversar com a sua visitante, mas “Deus” não permitiu. Assim, ela despediu sua visita dizendo-lhe que elas não poderiam conversar sobre aquele assunto.

 Veja bem, este fato além de anti-social é antibíblico. Quando estamos com a verdade, não devemos temer qualquer enfrentamento, pois é a verdade que liberta (Jo 8:32) e nada podemos contra a verdade, senão pela verdade (2Co 13:8). Ademais, se estamos convictos da verdade bíblica, devemos estar sempre prontos para apresentar as razões da nossa fé.

 “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,” (1 Pedro 3:15 RA)

 Quando Paulo ensina à Timóteo a se esquivar de discussões, refere-se a “discussões insensatas”, tais como genealogias e debates fúteis sobre a lei.

 “nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.” (1 Timóteo 1:4 RA)

 “Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis.” (Tito 3:9 RA)

 Mas, quando o assunto é a verdade do evangelho, a coisa é bem diferente:

 “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” (2 Timóteo 4:2 RA)

 Portanto, não posso deixar de entender que Deus jamais recomendaria que alguém não defendesse a verdade bíblica do evangelho. Se a mulher do exemplo estivesse convicta da “sua verdade”, não buscaria se esquivar de defendê-la e, até mesmo, de mostrar à visitante o seu engano. Fugir de uma discussão é próprio de quem não tem argumentos válidos e convincentes. Por isso, entendi que não foi o Espírito Santo de Deus que agiu naquela consulta. Mas, então, que espírito agiu? Certamente o espírito que queria que aquela mulher continuasse com a visão que ela tinha.

O segundo ponto é: seria razoável nós obrigarmos Deus a falar na hora que nós queremos? Nós podemos forçar Deus a falar conosco quando bem entendemos? (abrindo a bíblia). Para eu crer nisso eu devo crer, também, que eu posso fazer com que Deus me conceda um sonho na hora que eu quiser. Ora, se o espírito que irá operar tanto em uma situação como em outra situação  é o mesmo, por que eu não posso forçar um sonho enquanto durmo? Por que eu não posso exigir que Deus me conceda um sonho nesta noite, mas posso forçar uma resposta neste instante? Veja que, na segunda hipótese, Deus não tem alternativa. Quando eu abrir a bíblia, “Ele tem que dizer algo”. E invariavelmente fica-se com essa impressão – que “Deus falou”. Quando eu abro a bíblia, lá estará um texto para eu ler e depois dizer: “Deus falou”.

Até mesmo se eu abrir na página em branco que fica entre os dois testamentos, chegarei a uma conclusão acerca da vontade de Deus naquele momento - Deus não quer falar acerca deste assunto, levando-me a interpretar isso como uma forma negativa de expressão de Deus, demonstrando sua indisposição sobre o assunto. É claro que há aqueles que, neste caso, não se conformam e abrem a bíblia até alcançarem a resposta que lhes satisfaça. 

 A conclusão que eu chego neste segundo ponto é: se eu não consigo fazer Deus me conceder um sonho ou uma visão (de verdade) na hora que eu quero, então também não posso acreditar que Deus falará comigo pela abertura aleatória da Bíblia, na hora que eu quiser. Invariavelmente terei um texto para ler quando eu abrir a bíblia, mas isso não significa que houve naquele momento uma operação sobrenatural. Seria muita presunção nossa crer que Deus tem que falar conosco todas as vezes que abrirmos aleatoriamente a bíblia e quisermos saber algo específico Dele.

 Eu até creio que Deus possa falar por meio de uma abertura aleatória da bíblia, mas isso deve ocorrer quando Deus quiser e não quando eu determinar. Pessoalmente, só faço isso se o mesmo Espírito de Deus que falará pela palavra antes mover meu espírito a fazer isso. Assim, se no meu espírito eu receber uma ordem de Deus para abrir a bíblia, julgarei esta ação espiritual e, dependendo da resposta desse julgamento, obedeço, certo de que Deus falará de modo sobrenatural do mesmo modo que operou no primeiro momento. Caso contrário, é forçar Deus a falar segundo nossas prioridades. Deus não é assim, Ele é quem decide quando e como falar, ainda que seja pela sorte bíblica.

 Veja bem, não estou dizendo que Deus não pode falar por meio da bíblia. Deus pode falar da maneira que quiser, quando quiser, com quem quiser. Certa vez abriu a boca de uma mula e por meio desta operação, livrou Balaão da morte.

 Por fim, devo dizer que tenho muitas outras considerações sobre a consulta à palavra, mas vou me limitar a este ponto que você colocou, afirmando que creio que o único modo de não sermos enganados é conferindo o espiritual (dons e experiências sobrenaturais) com a palavra de Deus. Se uma coisa se encaixar na outra, então é de Deus!

 Irmão, espero ter respondido seu questionamento e coloco-me à sua disposição para esclarecer qualquer dúvida que tenha remanescido. Aproveito, também, a oportunidade para solicitar sua autorização para divulgar sua carta, uma vez que sua indagação pode aproveitar a outras pessoas que tenham a mesma dúvida que você.

 O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

De: JOÃO

Data: 2/3/2009 8:29

A paz do Senhor esteja contigo amado!

Te agradeço por sua atenção e como diz a palavra de Deus devo sempre defender a verdade.

Autorizo sem dúvidas a divulgação da pergunta que fiz. Que o Espírito Santo de Deus possa operar na vida de tantos irmãos que tem aceitado a voz dos homens ao invés da voz de Deus.

Que o Senhor continue sempre, através do Espírito Santo te concedendo sabedoria e te mostrando a verdade.

Forte abraço!