Carta 098

02/07/2013 14:50

De: MARIA

Enviada em: qui 05/08/2010 19:39

Para: Pastor Sólon

Prezado Pastor, que a paz do Senhor Jesus seja com sua família.

 Como vai? Outro dia, o senhor me tirou uma dúvida em relação à aliança e contrato. Foi de grande ajuda. Gostaria que me ajudasse a esclarecer outras dúvidas.

Houve quebra de aliança do povo de Deus na passagem bíblica de Esdras 10.

A palavra de Deus em Malaquias diz que o Senhor odeia o divórcio. Creio que nos casos de adultério,é permitido um novo casamento,a não ser que a parte ofendida resolva perdoar.Estou certa em pensar assim? Na passagem de  I Coríntios 7:15 o apóstolo Paulo recomenda  que em um casamento onde o descrente resolve apartar-se,não fica sujeito à servidão.Neste caso, o cônjuge que ficou sozinho fica preso ao pacto matrimonial e pode casar-se novamente? O que seria essa "servidão"? E a expressão "Deus vós tem chamado à paz"?

Grande abraço,

MARIA

 

From: Pastor Sólon

To: maria@hotmail.com

Date: qui 05/08/2010 19:39

Prezada irmã MARIA, que a paz do Senhor Jesus seja com todos vocês.

Espero conseguir esclarecer suas dúvidas.

Sobre a passagem de Esdras 10, preciso contextualizar antes de responder objetivamente sua pergunta.

O povo de Deus estava vivendo um momento de recomeço, após um longo período de exílio em terra estrangeira. Naquela oportunidade, tudo estava em reconstrução. Não apenas o templo, mas a organização do Estado de Israel, tanto sob o aspecto religioso como sob os aspectos político, social e cultural.

É bom lembrar que no período de dominação estrangeira, primeiramente Babilônica, e depois Persa, o povo judeu enfrentou uma séria crise social, política, religiosa e moral. Imagine com estava o homem daquele período, após perder o governo de seu Estado, ver seu templo religioso destruído, ver seus profetas e líderes humilhados, ver seus bens tomados e ver sua liberdade restringida. A moral daquele povo estava em baixa. A única coisa que eles poderiam preservar seria a fé em Deus, apesar de tudo. O que Deus havia imprimido em seus corações era, então, a única riqueza que eles possuíam – e isso não lhes seria roubado. E se isso não tivesse sido preservado, ninguém se animaria a voltar a Jerusalém para começar tudo de novo.

Um recomeço implica grande esforço, pois tudo começa na base. Se as bases não forem postas adequadamente, todo o trabalho daí em diante fica comprometido. Os alicerces precisam ser firmes e confiáveis – devem alcançar a rocha. Ora, os fundamentos da nação de Israel estavam todos nas escrituras sagradas – a palavra de Deus. Nela estavam os princípios para a organização política, social, econômica e para toda a atividade religiosa. Nas escrituras, Deus firma seus valores eternos para o homem, a fim de que ele seja completo em todas as áreas de sua vida.

Assim, no momento de lançar as bases, o rigor deve ser maior, para que não haja grandes prejuízos futuros. Você se lembra do que aconteceu quando a igreja estava dando seus passos iniciais? Ananias e Safira foram eliminados porque mentiram ao Espírito Santo (At 5). Ora, naquele momento em que as bases da igreja estavam sendo lançadas, Deus fez questão de deixar bastante claro que a mentira não poderia ser tolerada. A igreja deveria nascer com o firme compromisso de levar a verdade e, por isso, um recado foi transmitido a todos – a mentira, o engano, a dissimulação e o conluio levam à morte. Pode até parecer radical, mas esse fato levou a igreja a temer brincar com o Espírito Santo de Deus. No capítulo 10 de Esdras, a história mostra o mesmo.

A nação livre estava renascendo e as bases deveriam ser postas. A lei de Deus deveria ser levada a sério, se aquele povo quisesse ser reedificado. Havia uma questão de  obediência às escrituras e de identidade a ser ajustadas. O povo deveria ter uma identidade bem definida (Israel de Deus), razão pela qual a miscigenação foi proibida pela lei de Moisés. Sem o apoio da lei, o povo judeu corria o risco de se perder na busca dos valores daqueles que não têm o Senhor como Deus. De certo, adotariam os costumes que aprenderam no exílio, deixando-se levar pela luta de irmãos contra irmãos, abandono dos menos favorecidos, exploração econômica, culto formal misturado com a idolatria etc. Tudo o que eles viram durante anos em terra estrangeira e que vai de encontro aos princípios de Deus para o seu povo.

Em resumo: quando Esdras aplica a lei, mesmo diante de alguma resistência (Ed 10:15), tinha a intenção de manter a identidade judaica contra uma visível mistura/confusão religiosa (sincretismo) e civil com os povos vizinhos.

Por isso, a lei deveria ser aplicada e todos aderiram àquele propósito. Um conselho foi eleito para fazer um levantamento de quantos casos de casamentos mistos havia entre aqueles que retornaram do exílio, que se supõe ser o que havia de melhor, em termos de desejo de realizar o projeto de Deus, pois aqueles que se acomodaram na Babilônia lá ficaram.

Após três meses de levantamentos, no dia 27 de março de 457 a.C., descobriram mais de cem transgressores, inclusive 27 sacerdotes, levitas, cantores do templo e porteiros – indivíduos dos quais se esperava uma obediência exemplar.

Quando os líderes espirituais (pastores, cantores e pessoas influentes) começam a pecar, logo o povo está seguindo pelo mesmo caminho, por isso é necessário cortar o mal pela raiz. Nos dias de hoje observamos coisas semelhantes: líderes arrogantes, soberbos, egoístas e que se separam de suas esposas, produzem o mesmo no rebanho. Já viu isso?

Agora você entende porque Deus tratou imediatamente aquela questão, mesmo que isso pareça radical aos nossos olhos?

Pois bem, aqueles homens que se uniram a mulheres estrangeiras, especialmente os da liderança, haviam quebrado, sim, uma aliança com Deus – quebraram a aliança posta na lei de Moisés. E como todo pecado traz conseqüências, o daqueles homens não seria diferente - sofreram com a correção daquela situação.

O livro de Esdras termina com uma lista de pecadores que desobedeceram a Deus, mas colocaram a vida em ordem com o Senhor e com o povo publicamente. Porém, “colocar as coisas em ordem” não curou, automaticamente, todas as feridas nem aliviou toda dor, pois a mulheres em questão tiveram de deixar a comunidade e de voltar a seus respectivos povos, levando consigo todas as crianças que haviam nascido de sua união com judeus. É fácil remover os pregos de uma tábua, mas é impossível arrancar os buracos que deixam para trás.

Sabendo disso, melhor mesmo é preservar a lei de Deus (sua aliança) em nossos corações para não pecarmos contra o Senhor.

Sobre a questão do divórcio vou arriscar algumas colocações. Para mim, não resta dúvida quanto ao projeto de Deus em aliançar um casal, a ponto de fazer com que os dois se tornem uma só pessoa – é uma fusão e não uma simples união duas partes removíveis. Não há como fazer uma separação deixando as partes intactas. Um sempre levará consigo um pedaço do outro.

Segundo nos ensinou Jesus, Deus, desde o princípio, fez o homem para se unir a uma só mulher, embora situações outras tenham sido toleradas e disciplinadas por Deus na lei de Moisés, haja vista a dureza do coração dos homens, senão vejamos:

32 Eu [Jesus], porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério. (Mt 5:32)

6 De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. 7 Replicaram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? 8 Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. 9 Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério [e o que casar com a repudiada comete adultério]. (MT 19:6-9)

Pois bem, a separação conjugal não é algo que está no coração e nos planos de Deus, mas já que até hoje há corações endurecidos, devemos enfrentar essa questão com maturidade, à luz dos permissivos de Deus, sem extrapolar, para não lançarmos falsos fundamentos que só servirão de tropeço para aqueles que estão começando uma nova vida em Cristo ou para aqueles que desejam reconstruir suas vidas com as bases da palavra de Deus.

 Assim, é necessário, primeiramente, observar que a proibição de repúdio, divórcio e de novo casamento foi orientada aos crentes e não aos ímpios, pois estes últimos seguem a lei do pecado (Rm 8:2). Devemos lembrar que a bíblia foi inteiramente escrita para o povo de Deus (Israel, no VT e igreja no NT) e que Paulo quando trata deste assunto em 1Cor 7 faz distinção entre a mulher (e o homem) crentes e a mulher (e o homem) incrédulos. Ao entendemos isso, podemos afirmar que Deus não admite que um casal crente se separe, em hipótese nenhuma, exceto, é claro, ante a infelicidade do adultério ou da prática de violência.

Ao observarmos o trecho de 1Cor. 7:10-16, observamos que os versos 10 e 11 são dirigidos ao casal de crentes. Já os versos 12 a 16 se referem aos casamentos em que apenas um dos cônjuges serve a Deus. No primeiro caso, a ORDEM DE DEUS é expressa: “NÃO SE SEPARE”. Apenas para a mulher foi aberta uma exceção: se ela vier a se apartar do seu marido, que “NÃO SE CASE NOVAMENTE”. Quanto ao marido, não há essa opção. A ordem para o marido crente é “que não se aparte de sua mulher”. Não há, no caso do homem, a opção de se separar (deixar sua mulher) para viver sozinho. Creio que a exceção aberta para as mulheres é para os casos de maus tratos, violência doméstica ou outras situações que possam colocar a mulher e os filhos em perigo. Nesses casos, creio que a mulher deve se separar, pois como diz o ditado: “antes só do que mal acompanhado”. Como há a possibilidade de haver arrependimento, perdão e mudança de atitude do marido violento, a ordem é que a mulher fique sozinha, orando, para que Deus realize um milagre e haja oportunidade de restauração.

No segundo caso (versos 12 a 16), vemos que se trata de um relacionamento em que apenas um dos cônjuges é crente. Se o cônjuge crente é bem tratado pelo incrédulo e este deseja manter em honra e respeito o relacionamento, a ordem de Deus é “NÃO A ABANDONE” e “NÃO DEIXE O MARIDO”. Mas, nesses casos, há exceção: “se o incrédulo quiser se apartar, que se aparte”. Veja que a iniciativa da separação não deve ser do crente, mas do incrédulo. E, se o incrédulo se apartar, o cônjuge crente não fica sujeito à servidão, ou seja, fica LIVRE. Creio que mesmo nesse caso, o cônjuge crente que ficou livre deve aguardar enquanto aquele que se apartou não iniciar outro relacionamento, pois enquanto houver possibilidade de restauração, o crente deve orar pela restauração de seu lar e esperar em Deus.

Como visto, a separação é algo que não deve ser cogitada por um crente, exceto na hipótese de maus tratos, violência doméstica ou outro tipo de perigo iminente. No caso de adultério, se ambos são, de fato, crentes, devem saber muita coisa sobre arrependimento e perdão. Nessas bases, creio absolutamente no poder de Deus para restaurar a aliança que um dia foi afetada.

Entretanto, em casos que não se consiga superar esse infortúnio e houver a dissolução conjugal, entendo que a parte ofendida fica livre para se casar novamente. O que me faz pensar assim é a análise do contexto do capítulo 7 da primeira carta de Paulo aos Coríntios.

Afinal, quando seria então possível um novo casamento?

No meu entender, apenas em caso de morte: física ou espiritual. Paulo disse que a viúva está LIVRE para se casar novamente com quem quiser, sem que isso seja pecado (1Cor 7:39 – Rm 7:1-3). Como já vimos, no mesmo capítulo, o texto de 1Cor 7:15 diz que a mulher, ou o homem, que ficar só por ter sido abandonada(o) pelo cônjuge incrédulo, não está sujeita(o) à servidão? Ora o que significa dizer “não está sujeito à servidão? Significa que está LIVRE. Por isso, entendo que a liberdade da viúva, cujo marido (morto físico) a deixou, é a mesma liberdade do cônjuge abandonado pelo incrédulo (morto espiritual) que a abandonou e já está em outro relacionamento conjugal. Se está livre, pode casar-se novamente.

E o que significa: Deus vos tem chamado à paz?

Significa que Deus nos tem chamado a uma vida sem rebelião contra Ele. Ou seja, Deus nos tem chamado para uma vida de santificação, livre do pecado e da desobediência à sua palavra, pois nessa condição somos rebeldes e estaremos em luta contra Deus. E se estamos em guerra, não há que se falar em paz. O texto é bem colocado no contexto da união conjugal, porque Deus sabe que muitos têm preferido ignorar a sua ordem e assumir a rebelião, vivendo em pecado. Alguns, inclusive, na condição de líderes evangélicos, induzindo o povo ao pecado, deixando o povo sem paz com Deus.

18 Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, (Fp 3:18)

21 Não há paz para os perversos, diz o meu Deus. (Is 57:21)

10 Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. (Rm 5:10)

1 TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; (Rm 5:1)

Amada irmã, espero ter conseguido ajudar.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 



5.32 Relações sexuais ilícitas: Provavelmente, esta palavra designe, tanto aqui como em Mt 19.9 e em At 15.20,29; 21.25, o caso dos matrimônios proibidos pela Lei (cf. Lv 18.6-18; Nm 25.1). Também tem sido interpretada como equivalente a adultério. Ver At 15.20.