Carta 037

11/03/2015 19:15

Continuidade da Carta 034. Em 10/3/2015, Miriam escreveu:

A paz do Senhor, pastor Sólon!

 

O senhor teve uma excelente ideia para estimular a leitura bíblica em sua igreja! Que bom que houve adesão dos membros e que os frutos já começam a aparecer. Eu já tinha visto este tipo de trabalho numa igreja americana Chamada Calvary of Albuquerque, cujo pastor, Skip Heitzig, faz pregação expositiva da Palavra todas as quartas-feiras, livro por livro, versículo por versículo, tudo muito bem explicado; eu assisto os cultos desta igreja regularmente e gosto bastante dos estudos e pregações.

 

Quanto ao livro, interessante saber que a ICC surgiu pela necessidade de por em prática aquilo que o senhor descreveu na teoria. Fico igualmente feliz que a teoria tenha tomado forma e esteja sendo aplicada com bons resultados na vida dos irmãos que compreenderam a proposta.

 

Entendi as razões do senhor quanto à sua postura, digamos, um tanto intransigente em relação ao anonimato e à privacidade. Eu achava que o senhor era "um pouquinho radical", agora, tenho certeza que o senhor é "muito radical". (rsrs). Não concordo, porém, que anonimato e privacidade tenham necessariamente relação com trevas ou pecado, os motivos podem ser diversos, principalmente quando se trata de religião ou ideologia; alguns preferem o anonimato por temerem ser discriminados, ridicularizados e até perseguidos.

 

Posso não concordar com o seu pensamento, mas respeito sua liberdade de expressá-lo, principalmente, porque ao fazê-lo, o senhor é muito honesto e respeitoso.  O que eu admiro na sua conduta, como já disse, é que o senhor não tenta impor sua opinião ou interpretação como a "mais pura inspiração do Espírito Santo", "única e verdadeira", como muitos pastores fazem. Este tipo de apelo traz grande apreensão e medo no coração de quem discorda, mas não tem coragem de examinar as escrituras para formar sua própria opinião.

 

Concordo plenamente quando o senhor fala sobre luz e trevas. De fato, um cristão não deve dar espaço à inclinação de sua natureza, que é para o pecado. As advertências do Mestre foram bem duras e claras a este respeito. Por outro lado, me é muito difícil acreditar que existe alguém neste mundo que nunca peque, ou que não tenha seus pontinhos, ainda que rápidos e passageiros, "de trevas", mesmo aqueles que sinceramente se converteram a Jesus e têm bom testemunho. Faz parte da natureza humana. E mesmo tendo nascido de novo em Cristo, o servo está em constante luta contra a carne e natureza pecaminosa. Não digo com isso que devemos ser coniventes com as obras das trevas, nem que podemos viver pecando. Devemos sim, identificá-los nas nossas vidas e nos esforçar para vencê-los a cada dia. Como disse Deus a Caim: "Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar."(Gn. 4:7).

 

Dito isto, reconhecendo a mim mesma sujeita à queda - como de fato caí - não ouso ser radical em nenhum aspecto, sob pena de atrair sobre mim o peso do julgamento com que julgo os outros. Muitos podem dizer que é uma postura covarde, ou que estou coxeando entre dois pensamentos ou que estou contradizendo o Mestre quanto ao "sim, sim; não, não". Que me importa? O Senhor Jesus mesmo foi várias vezes acusado de transgredir a Lei, sem contudo ter se desviado de qualquer ponto dela, mas obviamente Ele não a praticava conforme o entendimento dos chamados mestres daquela época. Se o próprio filho de Deus foi acusado de ser servo de belial, quem sou eu para me abater com o que os outros pensam de mim? Fico desconfortável em talvez ser taxada de liberal, herege, desviada, ímpia e coisas afim, confesso! Mas prefiro ser honesta comigo mesma e com Deus, que no fim é quem vai me julgar. Eu creio que, no que eu estiver errada, o Espírito Santo há de me corrigir, porquanto sou sincera diante de Deus.

 

Reconhecendo essa minha fraqueza, obviamente, me vejo incapaz de instruir alguém nos caminhos do Senhor, mas nem por isso deixo de falar de Jesus e da mensagem de salvação, quanto ao mais, espero em Deus que eu possa crescer espiritualmente e que jamais permita que o meu testemunho sirva de tropeço para quem quer que seja.

 

Acredito, por fim no amor, na paciência e na misericórdia do Senhor, que não pode compactuar com as trevas, eis que Ele próprio é luz, mas que amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que Nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna. O que me consola é saber que Jesus é meu advogado e  Ele julga segundo a reta justiça e as intenções do coração. Ora, não foi isso que Jesus ensinou aos fariseus quando eles o confrontavam acerca de curar no sábado, o que, segundo a Lei Mosaica, era ilícito? Jesus disse: "Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça". (João 7:24). Estaria Jesus contradizendo o próprio Deus? De maneira nenhuma! Ele estava ensinando que as leis e os mandamentos devem ser praticados com amor e ponderação e que seu julgamento é sempre o mais justo.

 

Penso que ao verdadeiro cristão cabe julgar as ações, exortar o pecador e dizer a verdade em amor; a Cristo cabe julgar as pessoas e as intenções de seus corações.

 

Certamente, todo cristão deve ser imitador do Mestre, mas, acredito eu, ser impossível a qualquer homem, enquanto estive neste corpo corruptível, chegar à perfeição da santidade do Senhor. Por isso, entendo que o radicalismo é sempre perigoso. É colocar um fardo maior do que o que o próprio Senhor exigiu. A porta é estreita, sim, é estreita, mas alguns a fazem impossível de ser penetrada. Da mesma forma que meu discurso pode ser interpretado como liberalismo e relativização da Bíblia, o radicalismo pode ser confundido com extremismo e legalismo, anulando a graça que há em Cristo Jesus, e todas essas posturas (liberais ou extremistas) são muito prejudiciais à propagação do Evangelho. A chave então está na sobriedade, no equilíbrio e principalmente no exercício dos dois maiores mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

 

Mesmo que Nicodemos, quando ia ao encontro de Jesus, supostamente, às escondidas, ainda não tivesse nascido de novo, o Senhor já tinha um plano para ele; Nicodemos estava sendo atraído pela luz, o chamado já estava operando. Nicodemos sabia onde encontrar o Mestre e desejava ir ao seu encontro. Certamente algo já estava se transformando dentro dele e o movia a querer ouvir Jesus mais e mais. Pensando assim, será mesmo que ele era ainda um ímpio? Aqui cabe uma pergunta interessante: é a luz que incide sobre o homem, sem que ele dê um passo sequer, e o transforma? Ou é o homem que caminha para a luz e permite a transformação? Ou um vai ao encontro do outro? Sinceramente não tenho resposta para essas perguntas... - e acho que me perdi um pouquinho - (rs).

 

Mas o que quero dizer com tudo isso é que às vezes muitos que estão anonimamente publicando pensamentos e teses, compartilhando informações e lendo seu site e outros, e até mesmo lhe escrevendo cartas, estão buscando apenas um pouco de luz para suas dúvidas, consolo para suas frustrações, ou quem sabe até mesmo convencimento da mensagem do Evangelho, por que não?  Podem até ser agressivos por um instante, mas pode ser que o que os tem movido seja uma inquietação provocada pelo próprio Espírito Santo de Deus. Lembrei-me agora do primeiro encontro de Saulo com o Senhor Jesus, quando o amado mestre lhe disse: "duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões"; Saulo perseguia os crentes e fazia assim por uma inquietação de sua própria alma. Acredito que ele se opunha à mensagem da cruz porque esta desafiava suas próprias convicções e sua auto justificação, das quais ele não queria abrir mão de jeito nenhum, mas o Senhor, que conhecia suas motivações, não só o resgatou, como o usou para uma grande missão. Muitos nesta hora estão recalcitrando contra os aguilhões da verdade que se opõe àquilo que eles achavam até então correto e praticavam com inteireza de coração, achando estar agradando a Deus.

 

É bem verdade que uma boa parte da massa de anônimos é movida pela contenda, a estes não digo que dê crédito. Mas talvez o exercício da tolerância pode transformar  algumas vidas.

 

Não, não acho que o senhor seja mau, de jeito nenhum. Honestidade e franqueza podem não ser bem recebidas num primeiro momento, mas jamais podem fazer mal. E o principal o senhor é: um homem temente a Deus e sincero diante do Senhor, fazendo o melhor que pode para acertar. Isto é uma grande virtude.

 

Fui dizimista regular de 2005 a 2012, não porque eu achasse que o dízimo fosse uma ordenança ou obrigação, mas porque eu via os locais de seminário e a estrutura das igrejas e obviamente sabia que para manter aquilo tudo era preciso algum recurso financeiro. Quado decidi dizimar, o diácono me questionou  se alguém havia me constrangido a fazê-lo, pois este assunto jamais era mencionado nos cultos, nas reuniões de grupo ou nas escolas bíblicas dominicais. Lembro-me de apenas uma única vez, num seminário, ter ouvido sobre esse assunto, mesmo assim de forma bem sutil. Quando vieram à tona os escândalos envolvendo a administração eu fiquei em choque! Jamais pensei viver para ver tal coisa acontecer no seio da igreja. Pior do que o escândalo em si, foi ver o assunto ser ignorado pelos pastores locais, como se nada estivesse acontecendo. Aquilo foi demais pra mim. Não que tenha abalado minha fé, de forma nenhuma, pois nunca tive idolatria pela denominação, mas pôs em cheque a credibilidade dos homens que estavam à frente, eu não confiava mais neles. Simplesmente parei de dizimar e nunca fui cobrada por isso. Certa vez, conversando com o diácono responsável pela igreja que frequento até hoje, me coloquei à disposição para ajudar com o que fosse necessário para a manutenção da igreja local, assistência aos irmãos carentes, mas informei a ele que dado à negligência da liderança em dar uma satisfação mínima aos membros sobre o que estava acontecendo, eu não mais entregaria o dízimo, que eu preferia dar minha oferta de gratidão ao Senhor  aos que realmente necessitavam, estivessem estes dentro ou fora da igreja, e assim tenho feito até os dias de hoje.

 

Quanto a pensar fora da caixa, mas permanecer dentro dentro dela, não é bem assim que eu me vejo. Eu tenho muita dificuldade com essas questões de separação por denominação ou liderança religiosa. Eu enxergo a igreja, corpo de Cristo, como o conjunto universal dos crentes, independente de localização geográfica ou placa denominacional, e é dela que quero fazer parte. Por isso, hoje, não faço questão de ser membro de nenhuma instituição religiosa. Seguindo o conselho bíblico de congregar, frequento os cultos da ICM até hoje porque sei que apesar dos muitos equívocos, principalmente da liderança, lá estão pessoas que buscam ao Senhor com sinceridade e que se reúnem com o intuito de adorar ao Senhor. Quanto ao conhecimento da Palavra, faço minhas pesquisas, examino as escrituras, há cerca de 3 anos tenho acompanhado os estudos do pastor Skip Heitzig, também gosto muito de ouvir os quadros da Rádio Trombetas (rádio online com sede em Vitória/ES), do pastor Samuel França. Quanto o serviço aos santos e o exercício da piedade, contribuo da forma que posso com os necessitados dentro e fora da igreja. Quanto à estar subordinada a uma liderança espiritual humana, não acho que seja essencial para o exercício da minha fé, nem tampouco para minha salvação. Sei que a figura do pastor é bíblica, necessária para as congregações e tem honra dobrada diante de Deus, mas vejo a subordinação pregada nas igrejas um pouco desvirtuada do que realmente é a vontade do Senhor. Respeito todos os pastores com quem já congreguei e a autoridade deles sobre a igreja, no limite do que realmente faz parte da função ministerial.

 

No mais, sigo a paz com todos, sem rebeldia ou dissenções. Se concordo, concordo; se não concordo, exponho minhas razões para quem de direito e me depois me calo. Não procuro uma denominação perfeita, porque tenho para mim que esta não existe. Tampouco acredito que exista uma denominação com a qual eu possa alinhar 100% dos meus pensamentos; se assim pretendesse, teria que fundar minha própria igreja. Sempre que me vejo cobrada pela minha postura, digamos, independente, me lembro das palavras de Paulo aos Coríntios: "Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens." 1 Co 7:23

 

Prefiro arcar com o ônus das minhas convicções, a ter que me sujeitar a imposições que não fazem nenhum sentido para mim.

 

A essa altura, o senhor deve estar escandalizado comigo, não é mesmo? Se for o caso, lamento decepcioná-lo; posso estar errada, mas hoje, é assim que eu penso.

 

Em relação aos temas sugeridos, a ideia me veio depois de ler seu artigo sobre a tradição do casamento. A propósito, entendi seu ponto de vista a respeito das bases sólidas para um casamento que agrada a Deus, mas não ficou muito claro para mim se o senhor defende ou não que as formalidades sociais e civis (cerimônia, celebração religiosa e registro em cartório) devem ser obrigatoriamente observadas pelos cristãos.

 

Obrigada pela preocupação comigo, pastor. Realmente preciso muitíssimo de suas orações, por motivos que não seria prudente expor por carta. Só posso dizer que por falta de vigilância e inflada pela minha auto justificação e meu orgulho religioso, escolhi a porta larga e atraí sobre a minha vida uma dificuldade muito grande. Agora estou me esforçando para voltar ao caminho estreito; está sendo difícil, mas espero no Senhor, como Jonas esperou no ventre do grande peixe.

 

Eu costumo me referir aos demais servos como irmãos, mas sei que não sou (e talvez nem possa ser) considerada irmã por eles. Estou como aquela mulher que teve um encontro com Jesus, à qual o Senhor testou a fé dizendo que não lhe era dado o direito de se beneficiar daquilo que estava reservado aos da casa de Israel, ao que ela humildemente respondeu que até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Ou ainda como o filho pródigo fazendo o caminho de volta à casa do Pai, ainda com seus trajes imundos e devastado pela miséria, mas esperançoso de que o pai o acolheria como a um de seus empregados.

 

Foi um prazer muito grande ler suas cartas e receber sua atenção. Muito obrigada. De maneira nenhuma me aborreci ou me perturbei com as suas firmes convicções. Como pode ver, eu também tenho as minhas. Falta-me, porém, a facilidade de articular e fundamentar meus conceitos como o senhor faz. Mas tenho aprendido bastante com o seu trabalho ministerial.

 

Que o Senhor Jesus continue te aperfeiçoando na instrução e na pregação do evangelho, te conceda o justo galardão e, por fim, a coroa da justiça.

Abraço fraternal,

Miriam

 

Resposta em 11/3/2015:

 

Prezada Miriam, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

 

Estou muito bem impressionado com sua argumentação. Vou deixar-lhe um desafio. Escreva alguns artigos abordando esses pontos que sustentam sua opção de fé e vamos publicar! A publicação por meio de cartas fica um pouco escondida e, na maioria das vezes, não aponta adequadamente as questões que estão sendo tratadas. Assim, mesmo não concordando com quase todos os seus argumentos, acho que seria muito interessante termos esse contraponto para que os leitores do site conheçam os dois lados da moeda. Como você mesmo notou, sou bastante radical em certos conceitos, mas não prendo e nem forço ninguém a seguir-me. Também, não gosto de ocultar as opções para que cada pessoa escolha a que lhe parecer melhor. Creio que a nossa própria vida se encarrega de dizer se escolhemos o caminho mais adequado ou não. Então, o que você me diz?

 

Bom, ao ler sua correspondência, percebi que você já está bem firmada em seus conceitos e que não precisa ser convencida de nada mais. Entretanto, peço que me escute por um pouco, como uma filha escuta seu pai, às vezes até contrariada. Como já lhe disse, nossa energia é melhor aproveitada quando é deslocada em favor daqueles que pedem ajuda, embora seu pedido de socorro não tenha sido declarado. Tive que perceber isso por trás do seu escudo protetor, de seus argumentos bem construídos para protegê-la de ser ferida novamente. Agora, vejo que você não chegou aqui por acaso e que valerá a pena gastar mais tempo com você. Então, seja paciente comigo, ok?

 

Vou começar pelas questões menos importantes da sua mensagem e deixarei o mais importante para os últimos parágrafos.

 

Fui bastante sincero sobre o anonimato e já escrevi um texto sobre isso (https://www.celeiros.com.br/products/anonimato-e-internet/). Minha experiência pessoal permite-me afirmar que a transparência sempre me foi a melhor opção. É bom lembrar que eu já estive na situação que muitos estão hoje e não tive medo de me expor. Quando me manifestei pela primeira vez o sacrilégio era muito maior do que é hoje. A força religiosa contrária era muito mais intensa, pois eu estava me levantando contra uma “igreja perfeita”. Hoje, a situação é bem mais amena e o “rebelde” logo encontra um grande grupo de dissidentes para apoiá-lo, o que praticamente não existia no meu tempo. Lembro que, além das reuniões que foram feitas para me denegrir em vários lugares do Brasil, no tempo em que eu me apresentei de cara limpa para mostrar o que eu tinha percebido, também fui alvo dos piores ataques e difamações por parte de anônimos (crentes?). Cheguei a ver um vídeo no youtube com dois bêbados rolando na lama e a legenda dizia que eu era um deles. O que eu posso dizer hoje? Deus me honrou sobremaneira. Fui preservado íntegro e ando por todos os lugares sem ter nada de que me envergonhe. Como, então, eu poderia dizer que o anonimato é uma opção para quem crê em um Deus fiel e justo? Por isso, decidi crer em algumas palavras radicais de Jesus e crer que, no fim, seremos honrados:

 

"25 Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará." (João 12:25-26)

 

Sim, querida, não há quem não peque. O problema não está em pecar “por acidente”, mas em não se arrepender mesmo quando somos advertidos. Certamente, eu poderia abandonar meu ofício de pastor se começasse a concordar que viver pecando, com pontinhos obscuros, é algo natural e que não temos que lutar contra isso. Tudo o que um pecador que não quer se arrepender precisa para continuar como está é de um pastor que seja compreensivo e não lhe confronte para fazê-lo sair do comodismo de seu pecado. Creio que essa é uma das razões de vermos hoje tanta permissividade na igreja e arrogância dos crentes que não querem que se questione o modo liberal como vivem. Para não serem incomodados, logo dizem: você está me julgando? Ora, pretendendo afastar essa artimanha da vida das ovelhas que eu pastoreio, incluí em um de nossos seminários uma palestra inteira somente sobre essa questão. Ao final, cada um escolhe como quer viver, mas não podem dizer que não foram advertidos sobre a possibilidade de estarem errados à luz da palavra de Deus.

 

É claro que eu também não sou perfeito e nem quero afirmar que estou em melhores condições do que qualquer outra pessoa. Mas, minha meta é sempre fazer o melhor possível. Quando eu fiz o projeto da minha casa, fiz para ser perfeito, mas tive que contornar várias falhas ao longo da construção – situações imprevistas – tive que corrigi-las. O fato de eu estar preparado para contornar eventuais falhas não implica admiti-las previamente. Ora, se eu já soubesse onde estariam os erros do projeto, por que eu não os corrigiria antes de iniciar a construção? Assim, creio que o pecado é algo que não consta do planejamento de vida do crente, mas um imprevisto, um acidente, uma falha indesejada. Do modo como as pessoas hoje admitem o pecado, previamente, parece que elas já o conhecem e não o querem deixar ou que elas já sabem que irão cometê-lo um dia e não querem que ninguém se espante com isso.

 

Sim, eu reconheço que somos sujeitos à queda, mas não estou me preparando para ela. Estou me preparando para fazer a vontade de Deus e habitar com o meu Senhor. Ao mesmo tempo que o Senhor nos fala sobre os riscos da queda na caminhada, no diz que não há tentação que não possamos suportar. Por isso, não acho que seja um exagero apresentar as advertências com relação ao pecado, mesmo os mais comuns e aceitáveis por toda a população de crentes. Todo crente de verdade tem condições de vencer a tentação, assim como faz Jesus no deserto. Com um pouco de esforço, consagração e envolvimento com as coisas eternas, todos têm condições de suportar as tentações deste século. Se Paulo disse isso, eu não poderia dizer outra coisa.

 

"11 Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. 12 Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia. 13 Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. " (1 Coríntios 10:11-13)

 

"1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? 2 De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?" (Romanos 6:1-2)

 

Um pouco mais adiante, Paulo admite sua própria luta contra o pecado (Rm 7), afirmando haver uma lei do pecado (natureza humana) guerreando todo o tempo contra a lei do Espírito, mas conclui deixando bem claro que, por meio de Jesus, que condenou em sua própria carne o pecado, todos têm condições de seguir a Lei do Espírito, apesar da lei da carne que habita em seus corpos.

 

"14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. 15 Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. (...) 22 Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; 23 mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. 24 Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. 1 Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. 2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. 3 Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, 4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. 5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito." (Romanos 7:14-8:5)

 

Evidentemente, fui bastante simplório, porque sei que não preciso convencê-la disso, até porque você compreendeu bem o que Deus disse a Caim. É nesse sentido que em nosso seminário faço uma grande “ginástica” para que todos reflitam e se arrependam de seus pecados e se encham de ânimo para vencer toda e qualquer tentação. Sei que se eu deixar esse assunto de lado, cada pessoa se acomodará e a salvação que buscamos pode ficar comprometida. Assim, mesmo com todos os riscos e acusações sobre meu radicalismo, creio que é isso que as ovelhas do meu pastoreio esperam de mim, que eu as estimule sempre, de modo franco, direto e insistente para que vençam toda sorte de tentação, das maiores às menores.

 

Miriam, querida, eu não faço ideia do que lhe ocorreu, mas sei o que aconteceu com Pedro e com Judas. O primeiro se arrependeu e passou a defender os ensinamentos de Jesus com mais coragem e ênfase do que antes de negá-lo. O segundo deixou-se dominar por remorso e não pelo arrependimento e o Diabo o silenciou definitivamente. Isso tem acontecido com muitas pessoas, especialmente aquelas que ocuparam posições de liderança. Elas erram e depois, envergonhadas, preferem esconder-se porque têm medo de serem apontadas e julgadas pelos outros.

 

Por isso, um dos propósitos do seminário “Recomeçar” é exatamente encorajar as pessoas não só a deixarem o pecado, mas a se levantarem contra ele de modo mais radical, sem medo de acusações. Trato isso no contexto da mulher samaritana e, novamente, faço uma “ginástica” para recuperar o vigor e a confiança dos que um dia caíram. Meu esforço é pela recuperação completa, e não parcial, dos que um dia caíram.

 

"Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro." (Is 43:25)

"E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados." (Jr 31:34)

"33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica." (Romanos 8:33)

 

Também, é bom lembrar que nosso radicalismo é contra o pecado e não contra o pecador. O pecador precisa de ajuda, de uma mão estendida, de força para sair do erro. Nossa ação contra o pecado nunca será efetiva se “passarmos a mão na cabeça do pecador” e procurarmos diminuir sua responsabilidade. Afinal, para que servirá crermos que Deus amou o mundo de tal maneira que enviou seu filho, se não levarmos as pessoas ao arrependimento? O amor de Deus está em enviar Jesus, mas isso não afasta o dever do homem de se arrepender de seus pecados e deixá-los. Se o homem não se arrepender, não experimentará esse amor. Se não se render, nem Jesus nem Deus poderá fazer nada por ele. Não há advogado que possa defender essa causa. O nosso advogado bíblico, Jesus, só nos defenderá se houver arrependimento de nossa parte. Somente assim Jesus se apresenta para nos justificar. Toda a nossa justiça própria de nada valerá diante do Juiz. De nada valerá o que a boa e sincera intenção do nosso coração acredita ser certo, mas o que Jesus disse ser certo. Ao eterno julgador só interessa saber se nós andamos segundo o evangelho do reino e não segundo a nossa própria consciência sobre o certo e o errado.

 

"6 Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam." (Isaías 64:6)

"16 Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; 17 visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. " (Romanos 1:16-17)

 

Ademais, há uma grande confusão a respeito do amor de Deus, como se fosse um sentimento carinhoso capaz de anular o próprio sacrifício de Cristo em favor do pecador que viveu como bem quis. Por isso, também tenho uma vasta explicação sobre esse assunto, que apresento no Seminário de Princípios. Enfrento, inclusive a questão da aparência, que julgo muito mal compreendida atualmente. Digo isso, para que você me entenda. Já tive que refletir muito sobre todas essas questões e acho que conheço os principais argumentos contrários. Creio que você também já fez isso e, portanto, não é necessário que eu lhe faça essa exposição.

 

Como já lhe falei, não quero aconselhar a quem Deus não colocou em meu caminho, mas a todos os que o Senhor me entregou, faço um esforço contínuo para apresentar o evangelho do reino com todas as correntes de pensamento que sobre ele incidem. Bom, hoje Deus a colocou em meu caminho e, por isso, estou fazendo com você o que faria a uma ovelha sob meus cuidados.

 

Não posso negar que gostei muito da sua inteligência ao expor a passagem de Nicodemos, embora devo discordar da conclusão que você chegou. Considerando sua intepretação, o jovem rico também já deveria ter deixado de ser ímpio quando procurou Jesus. Ele se aproximou com o mesmo interesse que Nicodemos. A diferença entre os dois é que Nicodemos decidiu fazer o que Jesus sugeriu, enquanto o jovem rico, não. Permita-me ser radical mais uma vez: boas intenções não santificam e nem salvam ninguém. Há um abismo entre o “antes do arrependimento” e o “depois do arrependimento”. É bom lembrar que se arrepender não significa apenas ter consciência do erro, mas implica mudança de atitude. Conheço muitas pessoas de bom coração que creem em Jesus e frequentam igreja, mas não mudam de atitude em relação ao pecado. Continuam fornicando, adulterando, mentindo a respeito de si mesmos e agindo com desonestidade. Pelo seu modo de ver, estes não são ímpios. Será?

 

"25 Quando o dono da casa se tiver levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta, ele vos responderá: Não sei donde sois. 26 Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. 27 Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades." (Lucas 13:25-27)

 

Míriam, querida, será que é melhor errarmos pelo excesso ou pela falta. Se formos rigorosos e nossos ouvintes nos atenderem, eles serão salvos e nós podemos ser julgados por nosso rigor excessivo. Mas, se formos faltosos (liberais demais), tanto nós como nossos seguidores estaremos perdidos. Será que alguém deixará de entrar no céu, caso tenha mostrado sua identidade na internet e sofrido com isso? Agora, imagine a hipótese de Deus realmente repudiar a máscara anônima que um cristão coloca para evitar que saibam quem ele é de fato. Honestamente, penso que quem faz isso, faz coisas piores. Perdoe-me pela minha intransigência.

 

Adorei a história da luz. Mas, como você mesma não tem resposta, nem vou tentar procurar fundamentos bíblicos para essa questão filosófica. Aliás, você é uma ótima expositora de seus motivos. Seria uma excelente professora de escola bíblia!

 

Entretanto, continuo sem entender as razões para o anonimato. Por que uma pessoa interessada na verdade e na luz não pode se apresentar? Tem medo de quê? Se houver retaliação religiosa, isso lhe será um grande favor, pois lhe revelará a quem realmente estão servindo. Logo, só vejo coisas boas em nos identificarmos. E, se alguém está desesperado por socorro, deve fazer como Jairo (chefe da Sinagoga): deixar de lado o medo, o preconceito e o receito do que vão pensar dele e se lançar aos pés de Jesus para pedir ajuda (Lc 8:41).

 

Quanto a Saulo, perdoe-me por não concordar com você. Parece-me que as motivações dele eram erradas e que ele só reconheceu isso depois que o Senhor Jesus o lançou ao chão. Mas, não entendi exatamente o que esse fato tem a ver com os perseguidores anônimos, até porque Saulo era bem conhecido e não atacava os cristãos de modo dissimulado, mas aberto (At 9:13-14).

 

Sobre sua postura quanto ao dízimo, parece-me que você só não está sendo questionada porque, de certo modo, a liderança de sua igreja está com o mesmo problema que lhe falei antes. Perderam a coragem para exercitar o que acreditam em razão de um erro do passado. No fundo, eles acreditam que o dízimo neotestamentário é devido, mas ficam “sem graça” de falar sobre isso porque temem os questionamentos que podem surgir em relação ao trauma que viveram. Mas, se as coisas ainda são como eu as conheci, provavelmente Deus não revelará para você participar dos principais serviços da igreja enquanto você não se ajustar ao entendimento da liderança da igreja.

 

Miriam, fico triste em ver que você é mais uma pessoa que caminha para o desmembramento. Parece-me que você está a poucos passos de se tornar mais uma sem-igreja, ou desigrejada. Sei que parecerei seminariólatra, mas o fato é que no seminário “Recomeçar” preparei uma palestra exatamente para confrontar a corrente dos sem-igreja e dos que desconsideram a autoridade espiritual que está nas lideranças que Deus levanta. Eu sei que muitos estão traumatizados e não confiam mais em ninguém e que, por isso, a palavra obedecer é quase um insulto para essas pessoas, mas penso que Satanás está muito feliz com isso. Espero, de coração, que você reflita sobre esse seu entendimento, já que você parece não mais se importar com o que sua liderança orienta e que não faz questão de ser membro de nenhuma instituição religiosa.

 

Querida, pastor não é só uma pessoa que merece respeito, mas alguém que deveria interferir positivamente em sua caminhada. Se seu pastor não faz isso, talvez ele tenha abdicado de sua missão ou é porque já percebeu que você não é “ensinável”. Assim, vocês vão prosseguindo: ele finge que se importa com você e você finge que se importa com ele. Mas, no fundo nem ele se importa com você e nem você se importa com ele. Talvez você o ache desprezível, mas pode se surpreender no dia que perceber que ele pensa o mesmo sobre você. Perdoe-me, querida, não quero dizer que você seja isso ou aquilo, mas estou dizendo que é comum recebermos a mesma coisa que estamos dando.

 

Sim, você foi comprada por bom preço e não deve ser escrava de homens, mas preste muita atenção no contexto do versículo que você citou. Veja que o próprio Paulo estava naquele exato texto instruindo e doutrinando a igreja como um pastor, um comissionado de Deus (“É assim que ordeno em todas as igrejas...” – 1Co 7:17). Note que ele não estava se referindo a autoridade espiritual de um pastor, mas a uma questão real de escravidão. Em sua mensagem, Paulo define o seguinte princípio: apesar de os cristãos serem um em Cristo, cada um deveria permanecer na vocação em que se encontrava quando foi salvo. Os judeus não deveriam se tornar gentios e nem os gentios se tornarem judeus (pela circuncisão). Os casados não deveriam se separar e os escravos não deveriam exigir a liberdade de seus senhores cristãos em função de sua igualdade diante de Deus. Entretanto, Paulo aconselha os escravos cristãos a comprarem sua liberdade, provavelmente pela alforria, e que nenhum cristão se oferecesse mais como escravo por ocasião, talvez, de suas dívidas. Em Roma, por exemplo, um estrangeiro podia tornar-se escravo por dívida, por ter sido capturado como prisioneiro de guerra, por atos de pirataria ou por mau comportamento cívico. Seja como for, acho que não é difícil perceber que Paulo não está se referindo à autoridade de um pastor sobre a igreja, até porque ele seria incoerente naquele momento em que estava dando ordens aos escravos de Cristo.

 

"17 Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas." (1 Coríntios 7:17)

 

Por isso, Miriam, oro para que Deus ilumine seus olhos e que você pense com carinho sobre essas questões, até porque certamente você irá arcar com o ônus das suas convicções. Se você está recebendo orientações que não fazem o menor sentido, antes de generalizar, veja se você não está no lugar errado.

 

Não, não estou escandalizado. Quando recebi seu e-mail pensei apenas em dizer “amém, Miriam, siga suas convicções”, mas quando fui refletir sobre o que poderia estar por trás de sua correspondência, pensei que valeria a pena gastar um pouco mais de tempo com você. Acho que fiquei admirado com sua desenvoltura e pensei no quanto seu talento pode estar sendo desperdiçado, talvez, por você ter adotado o pensamento dos desigrejados, feridos e desencorajados da luta pelo ideal da igreja.

 

Quanto à questão do casamento, acho que a nossa tradição é benéfica (civil e religiosa), embora não seja isso que estabelecerá o ato em si segundo a visão de Deus. Quando sou convidado para conduzir a cerimônia, dou a maior importância, pois sei que se trata de uma grande oportunidade de se expressar valores cristãos, além, é claro, de ser um momento único na vida dos noivos.

 

Miram, minha irmã, o seu passado não me interessa, mas estou bastante interessado no seu futuro. Espero que você alcance o renovo que precisa e seja uma brilhante professora de escola bíblica ou, quem sabe, uma missionária como a samaritana, cheia de graça, de sabedoria e de autoridade espiritual para falar das misericórdias do Senhor e da sua salvação. Lembre-se que a Miriam do êxodo ensoberbeceu-se, criticou as atitudes de Moisés e se levantou contra sua autoridade. Com essa postura, acabou doente, isolada com grande culpa e pesar, mas alcançou misericórdia, foi restaurada e reinserida no convívio do povo de Deus.

 

"7 Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. 8 Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, 9 ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova." (Jó 14:7-9)

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Do seu amigo radical,

Pastor Sólon.

 

Em 14/3/2015, Miriam escreveu:

Olá, querido pastor.

O senhor nem imagina o quanto receber sua última carta me alegrou!!! Eu tinha certeza que não receberia mais nenhuma mensagem e, na melhor das hipóteses, se o senhor respondesse, seria simples assim: "“amém, Miriam, siga suas convicções”. 

Fico honrada com o desafio proposto, mas nem em sonho eu poderia aceitá-lo. Como lhe falei, eu não me sinto capaz de instruir ninguém nas coisas do Senhor, primeiro, pela minha própria condição espiritual, segundo, como o senhor pode perceber, eu não tenho conhecimento teológico e nem a ortodoxia necessários para fundamentar solidamente as minhas afirmações. Tudo que expresso, todas as minhas opiniões foram formadas a partir de meditações pessoais primeiramente dos textos sagrados e, depois, de literaturas adicionais. Posso me definir como auto-didata, mas me faltam a técnica e o método científico de pesquisa. Estou longe de ter a qualificação exigida para versar sobre assuntos tão sérios de maneira a influenciar outros. A responsabilidade é muito grande. Que o Senhor Deus me livre de levar alguém a tropeçar! Confesso também que receio ser ridicularizada - penso eu, como muitos anônimos que lhe escrevem - por isso não me exporia de tal maneira. Prefiro trocar as minhas ideias de um modo mais restrito, como estamos fazendo agora, pelo fato de saber que o senhor não vai debochar ou me discriminar, nem me tratar com desamor. O meu intuito principal é crescer em conhecimento e partilhar a minha compreensão das coisas espirituais, a fim de verificar e corrigir alguma possível distorção no meu ponto de vista.

Talvez o senhor já tenha percebido o que vou dizer agora, mas gostaria de esclarecer que de forma alguma eu pretendia questionar gratuitamente ou criticar negativamente as suas opiniões a respeito do anonimato. Minha única intenção foi expressar o que penso, que por acaso é contrário a sua opinião, e, sim, insistir que a tolerância é uma via possível e benéfica.

Não, a impressão que o senhor teve a respeito das minhas convicções não foi correta. Elas são  firmes, porém não inarredáveis. Tenho minha mente e o meu coração abertos para ouvir sempre, comparar com as escrituras, refletir e reter o que é bom. Mudar de opinião também, se for o caso. Não me envergonho. Estou em busca de crescimento, sempre! Se o senhor notar bem, nas minhas cartas sempre vai encontrar expressões do tipo:  "hoje, é assim que eu penso". Tenha a certeza de que estou te ouvindo como uma filha escuta seu pai. Eu sabia que nenhum pedido de socorro era necessário, pois um verdadeiro servo de Deus que se dispõe a cuidar de almas necessitadas sabe identificar uma (o senhor passou no teste rsrs). Saiba, porém, que a ti será necessária também muita paciência para lidar com esta alma que vos fala! E de  antemão me desculpo se estou tomando seu precioso tempo; que o Senhor te retribua!

O senhor foi mesmo muito corajoso ao se opor à denominação e seus dogmas daquela maneira, se expondo e expondo a sua família. Sei que o senhor não se arrepende, mas, tenho certeza que foi uma provação muito grande para vocês e que, se pudesse, o senhor preferiria não ter passado por isso, não é mesmo? Obviamente, Deus honrou a sua intrepidez. Seu exemplo é forte. Mas nem todos têm a mesma força para suportar as perseguições e afrontas; não somos todos iguais. E o Senhor Deus considera essas coisas.

Ao longo da história, a igreja sempre teve mártires que enfrentaram o fio da espada e morreram pelo que acreditavam, mas também havia aqueles que deixavam suas cidades, se reuniam às escondidas para fugir da perseguição  e mantinham viva a chama do Evangelho. Se formos radical ao interpretar o versículo (João 12:25-26) que o senhor citou para justificar sua louvável atitude como sendo a única opção possível ao crente perseguido, teríamos que admitir que todos os irmãos que fugiram de seus exatores ao longo dos séculos estão perdidos, pois, não obstante servissem a Cristo, não estavam dispostos a enfrentar a morte, antes fugiam dela. O senhor pode argumentar que esta comparação é inadequada, uma vez que eles não eram anônimos e que, inclusive, se eram perseguidos é porque eram bem conhecidos; mas o que importa aqui é o motivo em comum que (no meu ponto de vista) tanto os perseguidos daquela época quanto muitos anônimos hoje têm: a fuga da perseguição. Seguindo a sua lógica, ninguém deveria ter fugido da perseguição, deveriam ter ficado e continuado a pregar até que a morte lhes alcançasse ou que o Senhor lhes desse livramento. Ora a fuga de perseguição de muitos hoje não se dá de forma física, mas através do anonimato. Tudo bem que na época da igreja primitiva os que fugiam, fugiam da morte física. Nos nossos dias, na nossa sociedade, muitos estão sendo mortos moralmente e espiritualmente por se levantar contra dogmas e conceitos preestabelecidos, como, lamentavelmente, tentaram fazer com o senhor. Como se pode ver, não tenho bibliografia para citar a fim de embasar minha exposição, o que por certo não dará muito crédito aos meus argumentos, mas qualquer um que estudou um pouquinho de História ou a própria Bíblia também leu a esse respeito.

Insisto na tolerância com os que preferem o anonimato porque as razões de cada um só Deus sabe. Pense, por exemplo, em mim... se eu tivesse escrito para o senhor anonimamente, eu teria sido ignorada, certo? E, se fosse o caso, o senhor iria perder a oportunidade de ouvir o que eu tinha a dizer, que muito embora, não seja lhe seja útil, pelo menos foi provocativo a ponto de estarmos agora nos correspondendo pela terceira ou quarta vez! E não teria me dado a oportunidade de me edificar com seus conhecimentos. Pense bem, uma vez que o senhor vê o anonimato (no âmbito da espiritualidade) como algo pecaminoso e portanto pratica a tolerância zero!, talvez, sem querer, o senhor pode estar negligenciando muitas almas necessitadas.

Quando à pratica do pecado, em termos gerais, acho que concordamos que em momento algum eu disse que é aceitável o crente viver pecando ou que ele não deve ser repreendido. Aliás, também citei a luta do espírito contra a carne, a obrigação de se exortar o pecador, e o conselho do Senhor a Caim: fazer o bem e dominar sobre os maus desígnios do nosso coração. Só quis argumentar que é impossível o ser humano não pecar. E que por isso, o radicalismo no trato com o pecador e até em conceituar o que é pecado e o que não é muitas vezes implica em perda de almas, além de expor o "radical" a um julgamento ainda mais rigoroso caso ele próprio peque.

No meu ponto de vista, essa é questão é muito complexa, e resumir tudo com um "sim, sim; não, não"  pode ser a via mais fácil, mas talvez não a mais piedosa e nem refletir a vontade do Senhor. Se observarmos como Jesus tratou o pecado da mulher adúltera, só para dar um exemplo, veremos que o "sim, sim; não, não" da lei mandava que ela fosse apedrejada, mas Jesus, que com certeza não encobriu o pecado dela, olhou-a com misericórdia e ensinou a todos como exercer um julgamento justo. E assim fez com a mulher samaritana, com Pedro, com Tomé e tantos outros.

Em termos de conceituação de pecado, o radical dirá: "pecado é tudo que a Bíblia diz que é pecado!" Mas será que existe consenso entre todos os teólogos e ministros do Evangelho a respeito do que é pecado ou não à luz da Bíblia? Sabemos que não. Por exemplo, para o senhor anonimato é pecado, para outros tenho certeza que não é; para a grande parte dos líderes evangélicos não dar o dízimo é pecado, para o senhor não é; em certas denominações pessoas são excluídas se não observarem usos e costumes porque é pecado, mas outras doutrinas não entendem assim, e por aí vai... Quem está com a razão?

Percebe o que eu quero dizer? É baseada no acima exposto, que afirmo que o Senhor Jesus julga segundo as intenções dos corações, pois só Ele conhece o que de fato se passou e o que se passa na vida de cada um. Paulo afirmou: "Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor. 1 Coríntios 4:5.

Entendo, contudo, que é mais do que obrigação de todo pastor estreitar os caminhos, advertir para o perigo da conduta pecaminosa e exortar à santidade. Mas no trato com o pecador há que se exercitar a piedade e analisar as particularidades de cada caso.

Eu não defendo a ideia de que o cristão possa se acomodar com o pensamento "que está tudo bem se eu cair". Sim, todo crente de verdade tem condições para vencer as tentações, mas nem todos conseguem. Essa hipótese foi aventada pelo apóstolo João; ou será que João se dirigiu no início da sua primeira carta a cristãos de mentira, cristãos fingidos?

Certamente que a Palavra de Deus está recheada de conselhos de como vencer as tentações, mas, insisto novamente que até o mais fiel cristão pode sucumbir à inclinação de sua natureza pecaminosa por motivos vários, inclusive pelo erro de se achar um super crente.

Fazes muitíssimo bem em destacar um tempo nos seminários para tratar especificamente deste assunto. Aliás, deveria ser tema de estudo recorrente para que ninguém se acomode. Falo por experiência própria que às vezes o cristão se acha tão imune às tentações, inchado por sua auto justificação ("eu faço isso e isso para o Senhor", "eu jejuo tantas vezes na semana", "eu tenho função na igreja", etc), que se acha num nível espiritual superior aos demais, não se apercebendo da cilada do diabo e quando se assusta está em grande dificuldade. Bem diz a palavra que a soberba precede a ruína!

Muito legal o paralelo entre a conduta de Pedro e Judas. Imagino a alegria dos irmãos quando o senhor ministra sobre a possibilidade de restaurar a aliança. Deve ser a alegria de quem está morto e revive! Aleluia! Pelo que o senhor descreveu o senhor trata do tema com suas ovelhas da mesma forma que um pai trata com seus filhos. Amor com responsabilidade. Repreensão com direção. Cura para a enfermidade.

Concordo plenamente, não há perdão sem arrependimento. Entretanto, observo que em muitos casos o arrependimento pode não exibir seus frutos instantaneamente, como se espera. A transformação é contínua, a regeneração é gradativa. Vide o exemplo de Pedro, que mesmo depois de pregar e trazer milhares de almas à conversão, trazia dentro de si um preconceito quanto aos gentios, sendo necessário que o Senhor lhe concedesse uma visão para convencê-lo do contrário (Atos 10 e 11), e, mesmo após isso, cometeu erro parecido e foi severamente repreendido por Paulo (Gálatas 2:11-14).

Possivelmente em seu ministério o senhor já se deparou com dependentes químicos que se converteram a Cristo mas que ainda não conseguiram se livrar do vício, certo? Talvez eles foram fortes por um tempo, mas depois voltaram a ser dominados pela dependência. E então? Pode-se dizer que eles não conseguiram se dominar porque na verdade nunca se arrependeram? Já ouvi muitos pastores afirmarem que sim! Outro exemplo: uma pessoa que vive em união estável (o que segundo o entendimento da maioria das igrejas cristãs é pecado de fornicação) se converte ao Evangelho, então é dado a ela saber que a sua situação conjugal é pecaminosa e que ela deve se arrepender e obviamente deixar seu companheiro/companheira ou se casar legalmente; mas o companheiro não quer se casar, restando-lhe uma só opção: apartar  (essa mesma opção se aplica aos divorciados que se casaram novamente, segundo o entendimento de algumas igrejas...) Seria essa uma decisão fácil de ser tomada? E se a pessoa estiver disposta a fazer como disseram a ela que é o correto, mas ainda não achou forças para fazê-lo por uma série de motivos, o arrependimento então não foi sincero? E se há uma família com filhos a ser desfeita porque o dogma diz assim? Será que a correção da suposta ilicitude da relação conjugal é superior à preservação da família aos olhos do Senhor? Será que o homem tem mesmo condições de julgar essas questões com uma reta justiça? E como será que o Senhor Jesus julgaria esses casos? As perguntas são muitas...

Acredito, sim, que o Deus que é sonda o mais profundo dos corações, faz diferença entre quem erra tentando acertar (porque compreendeu de forma equivocada a mensagem do Evangelho ou algumas instruções bíblicas) e quem ignora deliberadamente a sua Palavra ou tenta tirar proveito próprio dela, levando muitos após si. O que dizer de tantas correntes teológicas, todas embasadas biblicamente, mas completamente antagônicas entre si? A intenção de todos é a melhor possível: pregar o Reino, cada um com a sua verdade. Até entre os apóstolos houve discussão sobre o que era certo ou errado. Mas creio mais ainda que o Espírito Santo, que é quem nos instrui, de um jeito ou de outro, nos mostra onde estamos errando e endireita nossas veredas.

Sim, concordamos que Deus é amor, mas também é justiça. Amor que excede o entendimento humano e justiça sobre toda a iniquidade; que faz o impossível para salvar o pecador que se arrepende e que traz juízo ao obstinado.

Quando fiz aquela exposição confusa a respeito de Nicodemos, na verdade, não tinha chegado a conclusão nenhuma, apenas perguntas que me inquietam a alma. Discordo do senhor quando diz que tanto o jovem rico quando Nicodemos aproximaram-se de Jesus com o mesmo interesse. A impressão que tenho dos textos é que Nicodemos tinha uma vontade genuína de compreender o que Jesus falava, tanto que permaneceu próximo ao mestre; já o jovem rico, pela abordagem e desenvolver do diálogo, percebo que procurou Jesus com a intenção de exibir sua auto justiça; quando ele perguntou o que devia fazer para herdar a vida eterna, acho eu, que ele antecipava que Jesus diria que nada lhe era necessário, uma vez que cumpria todos os mandamentos; mas Jesus, sabendo da intenção oculta do seu coração, lhe estreitou o caminho, mostrando-lhe que ele não praticava os dois maiores mandamentos: amor a Deus sobre todas as coisas e amor ao próximo. Mais uma vez Jesus nos ensinava que a literalidade da lei era apenas uma sombra da eficácia da graça. A Lei foi aperfeiçoada pela graça. Então, concluo que o jovem como ímpio se aproximou e como ímpio decidiu ficar. Mas, de novo, são apenas inferências que faço, pelo contexto, porque os textos não dizem nada disso expressamente.

Acho que o senhor não compreendeu bem a minha abordagem quanto à sinceridade dos corações. No meu ponto de vista há uma diferença quando alguém entende que certa atitude é pecaminosa e continua praticando deliberada e dolosamente (a estes Jesus dirigirá as palavras que se encontram em Lucas 13:25-27) e quando uma pessoa não entendeu que determinado comportamento ou atitude é pecado e por isso continua a praticá-lo. São questões íntimas que só o Senhor pode desvendar. Mas não vou mais tentar me fazer entender porque pode parecer desculpa para o comodismo no pecado. Enfim, o Senhor Deus sabe a sinceridade das minhas indagações e que não estou defendendo nenhuma relativização das escrituras. Muitas são as controvérsias a respeito do que é certo e errado na prática do Evangelho, acho que isso ninguém pode negar.

Sim, é melhor errar pelo excesso quando o excesso resulta em salvação de almas. Mas e quando o excesso resulta em perda de almas? Quantas vidas deixaram de crer ou desistiram de seguir o Evangelho pela falta de piedade com que foram tratados em suas igrejas (excesso de zelo pela doutrina?). Quantas amizades e famílias são desfeitas em nome do "não vos mistureis com os ímpios"? Quantos assassinatos ocorreram durante a reforma protestante em nome da defesa da pureza do evangelho? Há quem diga a hedionda ideologia nazista nasceu dos ensinos de Lutero e que Calvino ordenava a morte de seus opositores... extremismo?

O erro, seja pelo excesso ou pela falta, sempre pode ser danoso. O melhor mesmo é não errar.

Nossas opiniões são divergentes também em relação a Saulo, certo? Não posso embasar solidamente as minhas conclusões porque o relato bíblico nada explicita a respeito das motivações de Paulo, posso apenas fazer deduções e conjecturas baseadas na minha própria compreensão do contexto, e que por isso não têm relevância alguma, eis que tratam apenas de impressões pessoais. Talvez por isso o senhor não conseguiu compreender o que eu disse.

O que quis ressaltar quando citei Saulo foi o "recalcitrar contra os aguilhões" mencionado por Jesus (da maneira que eu interpreto). O que eu compreendo dessa fala de Jesus é que Saulo travava uma luta interna: o aguilhão a que ele resistia era, na verdade, a sua vontade de se render à doutrina contra a qual ele lutava. Assim, acredito que muitos anônimo te agridem - como Saulo agredia a igreja de Cristo - porque estão sendo incomodados a concordar com o senhor (pela força de seus argumentos) mas estão resistindo porque fazer isso implicaria em abrir mão de seus próprios dogmas e conceitos. Então, como não conseguem deixar de ler o que senhor escreve, mas também não conseguem refutar seu trabalho, tentam a todo custo de fazer calar com agressões e ofensas infundadas. Mais uma vez, quis levar o senhor à reflexão piedosa sobre os motivos dos anônimos, que embora ímpios (digo isso pela conduta agressiva), são alvos do amor de Cristo e do Evangelho da Salvação.

Eu nunca fui questionada em relação ao dízimo na minha igreja, nem há dez anos atrás, quando comecei a congregar, nem nos últimos tempos, então não posso tecer nenhum outro comentário a este respeito. Não me sinto discriminada de forma alguma, aliás, apesar das minhas dificuldades, os irmão são bem acolhedores, amam com responsabilidade,  me auxiliando em oração e me animando a prosseguir. Já passei por 4 diferentes ministérios (pastores) e posso dizer que cada um teve seu jeito de lidar com os membros: um mais atencioso, outros mais distantes, um mais humilde, outro mais soberbo, uns mais pacientes, outros rigorosos. A nenhum desprezei ou por eles me senti desprezada.

Seguirei seu conselho e buscarei nas escrituras uma melhor compreensão a respeito da necessidade (ou não) de pertencer a uma instituição religiosa. Num primeiro momento, não vejo como é possível defender que a igreja Corpo de Cristo é adenominacional e ainda assim dizer que se o cristão não estiver arrolado no rol de membros de uma denominação, ou subordinado a uma liderança humana, nos moldes da igreja contemporânea, não faz parte do Corpo de Cristo e está fazendo a alegria do adversário.

Não se pode negar que mais enfaticamente a partir de Atos, o Novo Testamento trata de igrejas como grupo de pessoas, assim como fala dos presbíteros e das lideranças que despontavam, mas ainda não está claro para mim se a forma com que as igrejas se organizam hoje (por doutrinas, correntes teológicas e denominações) reflete o desejo do Senhor, o qual é que todos os crentes sejam unânimes na mesma fé e na mesma mensagem:

"Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor.

¶ Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.

Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós.

Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo.

Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo?" 1 Coríntios 1:9-14

Prometo buscar mais um pouco a respeito disso. Gostaria muito se o senhor puder contribuir com algum material ou indicar-me alguma literatura.

Fiquei triste confesso que o senhor ficou com a impressão que eu desprezo a congregação e o pastor. Eu não pratico o amor fingido, principalmente na convivência com a igreja. Sou reservada por natureza, sempre fui. Meu comportamento pode parecer soberbo, mas quem me conhece sabe que o que parece orgulho, é apenas discrição própria da minha natureza. Por algum motivo que eu mesma desconheço não sou muito sociável, mas por favor entenda, não é por opção. Gostaria de ser diferente, mas não sou. O que sou na igreja, sou no trabalho e na família.

Quanto ao conselho de Paulo sobre servir a Deus e não aos homens, concordo com o senhor que o contexto imediato do versículo diz respeito à escravidão que era praticada na época. Mas observando o contexto geral da carta, Paulo tratava de questões diversas que surgiam no seio da igreja, entre elas a dissenção entre os irmão que começavam a se dividir por "times": uns se diziam de Paulo outros de Apolo outros de Cefas (1 Co 1:11-13). Acredito que os próprios membros da igreja de Coríntios haviam solicitado a Paulo que esclarecesse algumas questões, porque em um certo trecho da carta ele diz: "quanto ao que me escrevestes...". É sabido também que já naquele período os judeus convertidos queriam impor princípios da lei aos novos convertidos gentios, principalmente a circuncisão, por isso ele disse que cada um deve permanecer na vocação em que foi chamado.

Daí extraio o entendimento de quando Paulo diz "não vos façais servos dos homens", ele não apenas se referia à escravidão literal, que era o contexto imediato, como também a qualquer tipo de sujeição imposta por homens que tentavam ilegitimamente orientar os demais fiéis como se líderes fossem.

Observe que momentos antes de tratar da escravidão literal ( 1 Co 7:20-21) , Paulo já havia usado a expressão "comprados por bom preço" no verso 20 do capítulo 6. Assim, interpreto que Paulo estava enfatizando, num contexto geral, a belíssima expressão "comprados por bom preço" como uma frase de feito, para fazer um fechamento do todo o conselho dado, orientando os crentes a se sujeitarem a Deus, que os comprou, e não às paixões carnais (1 Co 6), nem às imposições de falsos mestres (1 Co 7:18-23), nem a divisões por liderança espiritual (1 Co 1:11-13) e nem a outros homens como escravos literais.

Ademais, se Paulo tivesse endereçado aquela expressão unicamente a escravos "literais", como poderia ele ter dito um pouco antes "Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado;..."? Como poderia Paulo dizer aos escravos que não se importassem em ser escravos? O coerente seria Paulo ter instigado os escravos convertidos a buscar com todas as suas força a alforria para servir a Deus e não a homens e não apenas a "aproveitar a ocasião", se houvesse a possibilidade de ser livre (1 Co 7:21). 

Quando defendo a minha postura independente e me consolo com essa frase de Paulo é porque tenho por certo que se eu me preocupar em me sujeitar a Deus, estarei automaticamente me sujeitando a qualquer pastor que verdadeiramente pregue os princípios de Deus, seja ele de que denominação for, porém quanto os demais dogmas impostos pela religião que ele representa, que é algo comum de se achar em todas as denominações, segui-los ou não não me aflige, porquanto são meras regras que podem facilitar a caminhada, mas não determinar a salvação.

Disto isto, não sinto que estou pecando em congregar numa igreja, seguir os estudos de outras e não fazer questão de ser membro de uma instituição religiosa para me subordinar diretamente a uma única liderança humana. A contrário do que o senhor imagina, que ao fazer isto estou me esquivando de obedecer a um líder, e arranjando pretexto para vagar entre o que melhor me convier, na realidade, fazendo assim subordino-me a todos que, no Senhor,  ensinam e orientam, aos que verdadeiramente buscam e praticam a vontade de Deus.

Como disse, ouvi seus conselho e vou me aprofundar mais neste assunto. E que o Espírito Santo me conceda o perfeito entendimento do que o Senhor deseja de mim e para mim e que, sobretudo, me livre da perdição.

 

Obrigada pelo seu precioso tempo, querido amigo. Que o Senhor lhe retribua segundo a Sua Santa Palavra.

"Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados". Tiago 5:20

Abraços fraternais de sua ovelha virtual,

Miriam.

 

Resposta, em 16/3/2015:

 

Prezada irmã Miriam, que a paz do Senhor Jesus seja abundante em sua vida.

 

Também, fiquei feliz com sua resposta. Isso é sinal de que você ainda está cheia de esperanças. Isso é muito bom! Não devemos desistir nunca!

 

O desafio fica de pé. Não é necessário fazer um artigo científico e nem de ter formação teológica. A ideia não é de influenciar ninguém, mas de apresentar as razões de nossa fé, que pode ser parecida ou diferente de outras pessoas. Assim, não há razão para nos envergonharmos do que, sinceramente, acreditamos. Basta, portanto, uma exposição do modo como você compreende a vontade de Deus. Na verdade, a citação da palavra de Deus já é suficiente. Isso também não significa que não podemos evoluir o nosso entendimento na medida em que crescemos e amadurecemos espiritualmente e no conhecimento. Quanto à sua condição espiritual, ela pode ser alterada a qualquer momento. Basta você tomar a decisão certa e será restaurada imediatamente. Logo, como tenho certeza de que você já está decidida a fazer o que é certo, não vejo mais impedimento algum.

 

Fique tranquila, não me senti criticado. Você sempre foi muito gentil em todas as suas palavras. E mesmo que não fosse, eu não me ofendo facilmente. Sou pastor, lembra? Aprendi a suportar muitas coisas com paciência. Aproveito para esclarecer que sou radical, mas não intolerante. Eu não sou perfeito e não convivo com pessoas perfeitas. Muitas ovelhas ainda estão em um processo de amadurecimento e precisam de tempo para refletirem sobre seus atos e escolhas. Nesses casos, eu as acompanho, deixando clara a minha percepção, mas sem esperar que façam o que eu acho que é certo, pois cada pessoa deve tomar suas próprias decisões. E se alguém não faz o que eu acho ser o mais adequado, não me irrito com isso.  Do mesmo modo, quando repudio o anonimato, não estou dizendo que as pessoas são más. Afinal, eu nem sei quem realmente são, não é mesmo? Essas pessoas podem ser ótimos pais, excelentes filhos, dedicados estudantes e trabalhadores ou mesmo bons membros de igrejas. Como vou saber?

 

É bom lembrar que por cartas ninguém me conhecerá, mesmo que estejamos identificados. Nem mesmo quem assiste alguns cultos comigo me conhecerá. Uma pessoa só me conhecerá se conviver comigo, observar meu discurso e minhas atitudes. Fora esses, ninguém mais me conhecerá. Ora, se alguém quer saber um pouco sobre mim, pergunte à minha mulher, às minhas filhas, às minhas ovelhas, aos meus empregados, aos meus colegas de trabalho e aos meus credores. Acho estranho quando vejo alguém que não me conhece fazendo afirmações a meu respeito. Digo isso para que você saiba o quanto nos conhecemos, ainda que estejamos identificados. Por isso, o que eu digo genericamente sobre o anonimato não se aplica a ninguém em particular e não estou deixando de amá-la caso você também seja uma anônima eventual.

 

Quanto ao que passei por não ser anônimo, de fato, foi desagradável, mas nada que se compare aos nossos irmãos do passado. Nossa luta hoje é insignificante em relação a eles. Por isso, sou grato a Deus pela vida de Lutero e de tantos outros irmãos que tiveram a coragem de enfrentar o poder da religião dominante sem negar a fé, mesmo expondo suas próprias vidas. Que bom que você mesma, imaginando o que eu diria, deu a resposta à sua própria questão. Eu sei que quando estamos acuados temos duas reações: lutar ou fugir. Alguns lutam, outros fogem. Deus também sabe disso. Afinal, foi ele mesmo quem nos criou. Acredito que os que lutam serão honrados, assim como foram os apóstolos. Judas, por exceção, preferiu a fuga. Fugiu da própria vida. O resto é com Deus.

 

Miriam, querida, eu creio na soberania do Senhor. Eu não tenho a menor dúvida de que só falarão comigo aqueles a quem o Senhor mover. Não acredito que você esteja trazendo todas essas suas contribuições por acaso. Creio, firmemente, que Deus tem um propósito em tudo. Não cai uma folha de uma árvore sem o consentimento do nosso Soberano Criador. Não sou o único a compartilhar a fraternidade pela internet. Deus amparará todas as almas realmente necessitadas. Eu sou apenas um na multidão. Há vários outros que fazem a mesma coisa e até melhor do que eu. Quem não deseja se identificar encontrará outros internautas que não se importam com isso. Em todo caso, alegro-me com seu contato.

 

Quanto à piedade, gostei dos seus exemplos. Apenas lembro que Jesus nunca foi conivente com o pecado de nenhum deles. “Vá e não peques mais”. “cinco maridos tiveste e este que agora tem não é teu marido”. “Pedro tu me amas?... [arrependa-se depois que me negar] e apascenta as minhas ovelhas”. “Tomé, mais bem aventurado são os que não viram e creram”. Observe que Jesus foi misericordioso e acolheu a todos, mas não aprovou o pecado de nenhum deles. Não houve nem uma só palavra de aprovação em relação ao pecado. Tento fazer o mesmo. Reprovar o pecado não significa dizer que somos intolerantes com o pecador.

 

Quanto ao pecado, teria que escrever outro livro, mas por agora basta dizer que o Diabo é o pai da mentira. Se alguma informação não é verdadeira, eu a classifico como mentira e, sinceramente, não sou afeiçoado à mentira. E nesse ponto, acho que sou feliz e estou em paz, pois "Bem-aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira." (Salmos 40:4). Sim, eu sei, isso é radical. Mas, se eu estiver errado, não perdi nada em esperar somente a verdade. De outra parte, se quem pensa e faz diferente estiver errado, seu bem estar e sua alma estarão em risco. Quem está certo? Não sei, mas Prefiro o ambiente mais seguro possível. Eu não entraria em um avião se tivesse dúvidas sobre as condições mecânicas da aeronave ou sobre as condições físicas e psiquiátricas do piloto. Só entro no avião porque tenho certeza de que as companhias aéreas cuidam muito bem dessas questões. O percentual de falhas é insignificante em relação à quantidade de voos diários em todo o mundo. Por isso, não só entro no avião, mas durmo tranquilamente durante o voo.

 

Quanto às condições dos corações, sim, Jesus conhece perfeitamente as condições de cada coração. Por isso disse ao jovem rico: “vai, vende tudo o que tem e me segue”. Ele sabia que as palavras do jovem não expressavam a realidade. Se ele amasse o próximo como havia afirmado, não teria dificuldade em partilhar seus bens. Paulo, também, estava certo no texto em que você citou (1Co 4:5). Todos seremos julgados pelo justo juiz. Por isso, temos que estar muito seguros em relação às nossas escolhas.

 

Entendo, contudo, que é mais do que obrigação de todo pastor estreitar os caminhos, advertir para o perigo da conduta pecaminosa e exortar à santidade. Mas no trato com o pecador há que se exercitar a piedade e analisar as particularidades de cada caso.

 

Como eu lhe disse antes, todo crente tem condições de resistir às tentações (1Co 10:13) e o fato de haver constatações sobre a fraca natureza humana (carnal) não faz com que o errado vire certo. E, se alguém se acha um “super crente”, como você bem disse, já começou a descer a ladeira rumo ao abismo (Pv 16:18).

 

Sobre o vício, são necessárias algumas considerações. Alguns são libertos de influências malignas e livram-se do vício imediatamente, enquanto outros são apenas dependentes químicos e precisam de motivação constante para superar a vontade incontrolável que lhes sobrevêm. É isso que fazemos com eles insistentemente: oramos e damos-lhes forças para que mudem suas atitudes. Ter consciência do erro não significa arrependimento (a + ré + pender = pender para trás). A consciência nos leva ao arrependimento, mas só existe arrependimento quando voltamos atrás em relação ao que fazíamos de errado, quando mudamos nossas atitudes de fato.

 

Sobre casamento e arrependimento vale a mesma coisa. Se você tem consciência do que é certo, somente a mudança de atitude revelará arrependimento. Veja que eu não estou dizendo o que é certo ou errado, mas percebo que você está insegura sobre essa questão e isso a tem incomodado. Como já lhe disse, eu não tenho dúvidas e já formei minhas convicções a esse respeito. Nem todas as situações com as quais eu convivo estão dentro do padrão que eu acho ideal, mas isso não tem impedido que as pessoas caminhem comigo. O que eu não posso fazer é ajustar a palavra de Deus para aplacar a consciência aqueles que decidiram viver de um modo diferente.

 

O antagonismo em diversas questões é natural, mas Deus não é antagônico. Há apenas um caminho e a verdade é absoluta. Logo, alguns estão certos e outros errados. Sei que isso pode parecer soberbo, mas eu não estaria fazendo o que eu faço se achasse que é errado. Paulo tinha tanta convicção de que estava espelhando a Cristo que não teve medo de dizer: “sede meus imitadores como eu também sou de Cristo” (1Co 11:1). Por isso, Jesus disse que deveríamos olhar para as obras dos profetas. Somente assim saberemos distinguir o verdadeiro do falso (Mt 7:15-20). Conheço muitas pessoas e líderes bem intencionados, mas cujos frutos não me parecem bons. Portanto, querida, não olhe apenas para o que cada um defende, mas para o fruto que cada um produz. Isso a ajudará a não seguir falsos profetas.

 

Sobre o jovem rico e Nicodemos, acho que sua avaliação está boa. Eu até fiz um ajuste quando me referi desta vez ao jovem rico, percebeu?

 

Quanto ao pecado e a consciência, como você mesma disse, parece que cada um tem seus próprios conceitos, de modo que não adiantaria falarmos “em tese”. Se entendi bem, para você alguém só está pecando se está fazendo alguma coisa com consciência de que está fazendo algo errado. Bom, se não temos um caso concreto, ilações podem trazer mais confusão do que esclarecimentos, não é mesmo?

 

Sobre errar pelo excesso, também é difícil saber se o excesso doutrinário a que você se refere fica dentro ou fora dos limites da palavra de Deus. Se está fora, faz mal, mas se está dentro é segurança para aquele que crê. Por exemplo, Será um rigor excessivo exigir que um católico convertido quebre suas imagens de escultura, caríssimas e relíquias dos séculos passados? Será que afirmar que ele deve quebrá-las não iria fazer com que ele desistisse da fé evangélica? Estaríamos, assim, fazendo-o se perder? Por outro lado, fazer com que alguém abandone a assistência material e emocional à sua mãe não convertida é razoável em face das escrituras sagradas? Quanto a Lutero e a Calvino, sei que foram extremistas em alguns pontos, mas meu modelo não é nenhum deles e sim Cristo. Neles tenho apenas o exemplo da determinação pela defesa do que acreditavam.

 

Fico feliz pelo modo que você tem sido tratada na igreja. Não tenho reparos a fazer quanto a isso. Apenas dou graças a Deus. A noção de comunidade de crentes é a que eu mais gosto e, por isso, lamento pelos desigrejados. Com já lhe disse, tenho uma palestra inteira para defender o contrário do que você pensa e, por mais que eu tenha refletido nas hipóteses contrárias, não consegui achar terreno seguro para pregar ou fazer diferente. Infelizmente, não posso lhe sugerir nenhuma literatura sobre o que eu defendo, pois todos os livros que comprei são da tese contrária a que eu defendo. Assim, só examinei a tese contrária e a bíblia. Acho que fui bastante cuidadoso ao considerar todos os argumentos dos autores dignos de respeito, mas hoje estou mais convicto do que antes de que eles estão fazendo mais mal do que bem à comunidade de crentes.

 

Querida, se lhe entristeci, perdoe-me. Não quero me justificar. Reconheço que eu posso ter exagerado e, agora, arrependo-me de ter sido especulador demais em relação aos seus sentimentos ou impressões. Apenas perdoe-me, ok?

 

No que diz respeito à escravidão, confesso que não fiquei convencido pelo contexto geral, por não ter conseguido fazer a conexão que você fez. Também, não quero justificar Paulo por ele ter consentido com a escravidão dos que queriam continuar nessa situação. Por último, considero que a autoridade espiritual é um princípio muito importante, mas entendo suas questões e respeito seu entendimento.

 

Como você disse que deseja pesquisar sobre o assunto, sugiro a leitura do livro “Autoridade Espiritual” de Watchman Nee, Ed. Vida.

 

Perdoe-me ter simplificado tanto desta vez, mas estou na semana da preparação do nosso seminário e preciso me concentrar em muitos detalhes. A propósito, creio que depois do seminário, estarei reduzindo consideravelmente meu tempo em relação ao site, pois pretendo abandonar aos poucos este trabalho voltado para fora. Como eu disse, há muitas pessoas fazendo a mesma coisa e eu acho que já dei minha cota de colaboração neste sentido. Pretendo continuar com o site apenas para incluir textos de interesse da ICC. Semana passada já retirei da minha base de dados todo o conteúdo velho, especialmente as cartas, do tempo em que o site não pertencia à igreja.

 

Feliz por ter tido a oportunidade de conhece-la e sempre à disposição!

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Pastor Sólon.