Você pensa que é livre?

Você pensa que é livre?

Preliminarmente, é importante esclarecer que este ensaio parte de definições do nosso pensamento sobre a liberdade buscando aproximação com a realidade e com os ensinamentos bíblicos. Restringe-se, entretanto, a apenas algumas situações que envolvem o tema, sem qualquer pretensão de esgotar o assunto sob o aspecto filosófico ou mesmo teológico.

 

É provável que esta produção mereça ajustes, adições e correções futuras, uma vez que não pretendemos “fechar questão” sobre o assunto, mas apenas provocar a reflexão dos leitores e, sempre que necessário, com o amadurecimento das ideias, ajustarmos o texto aos fatos reais da vida e aos conceitos expressos pela palavra de Deus, com o fim de nos aproximarmos da verdade.

 

Ao fim, temos uma proposta para a libertação, mas cumpre ao necessitado procurar entender o que será dito ao longo deste texto.

 

Liberdade

 

Quando não há forças, externas ou internas, atuando sobre nós, impedindo-nos de fazer o que gostaríamos e poderíamos fazer, se não fossem essas forças, somos livres.

 

Algumas forças que atuam sobre nós são praticamente invencíveis sem auxílio de instrumentos especiais, a exemplo da força gravitacional ou das resistentes grades da prisão, enquanto outras podem ser facilmente rompidas, mas implicam consequências gravosas a quem as romper, a exemplo das regras sociais, culturais e morais transformadas em leis.

 

Em relação àquilo que em hipótese alguma é possível realizar, não somos livres. Neste caso, nem mesmo há que se falar em liberdade. Não somos livres, por exemplo, em relação ao passado, porque é impossível alterá-lo. Entretanto, temos alguma liberdade em relação ao presente e ao futuro, pois, em certa medida, podemos defini-los com nossas ações.

 

Portanto, só somos livres no que diz respeito às coisas possíveis e desde que não hajam forças superiores às nossas impedindo absolutamente a ação de nossas vontades ou nos ameaçando de punição quando podemos romper com a sua resistência, caso queiramos.

 

Ninguém jamais foi e ninguém é ou será plenamente livre!

 

Há pessoas que pensam que são livres, mas o fato é que ninguém é plenamente livre. Mesmo os que se dizem livres, nunca foram, não são e nunca serão.

 

Nesse sentido, nos alinhamos à definição de Schopenhauer, que diz que a ação humana não é absolutamente livre, e nos distanciamos da definição de Jean-Paul Sartre, que afirma que a liberdade é a condição ontológica do ser humano. Para Sartre, o homem é, antes de tudo, livre.

 

Na nossa linha de pensamento, desde o momento em que fomos gerados, já ficamos limitados ao ventre de nossas mães. Da infância à adolescência só podíamos fazer o que nossos pais permitiam. Quando jovens, na maioria dos casos, alcançamos o máximo da liberdade que um homem pode ter, embora sempre haja limites que não convém ou não podemos ultrapassá-los.

 

O fato é que estamos presos a um corpo, que tem limites, além de estarmos limitados fisicamente no tempo e no espaço.

 

Fora os limites intransponíveis do corpo, do tempo e do espaço, ao sairmos da infância nos vemos inseridos em uma sociedade repleta de regras sociais, morais, legais e econômicas que restringem a nossa liberdade.

 

Ainda que alguém pense que está livre para fazer o que bem quiser, infringir qualquer desses limites implica consequências que, normalmente, traduzem-se em penas (punições) que afetam ainda mais a pouca liberdade que se tem. Por isso, normalmente, aceitamos os limites impostos, porque sabemos que isso nos preservará a vida e o nosso próprio bem-estar.

 

Há, ainda, outros limites a que estamos sujeitos. Não podemos ter tudo o que queremos e nem fazer tudo o que desejamos ou sonhamos. Isso é um fato. Quanto mais vivemos, mais abrimos mão de parcelas de nossa liberdade ou a perdemos naturalmente. Se somos cidadãos, estamos sujeitos à uma grande quantidade de regras proibitivas ao nosso comportamento. Quando começamos a trabalhar, já não podemos mais acordar na hora que queremos ou mesmo viajar quando bem entendemos. Quando nos casamos e temos filhos, já não podemos satisfazer exclusivamente as nossas vontades. Quanto mais vivemos e nos comprometemos, menos livres nos tornamos. Inclusive fisicamente, com o avançar da idade, cada vez mais perdemos possibilidades de fazer coisas que podíamos fazer enquanto jovens.

 

Podemos romper com alguns desses limites e restrições à nossa liberdade? Sim, mas normalmente, sofreremos consequências desagradáveis ou punições. Podemos, por exemplo, subir em um alto prédio e nos lançarmos de lá. Somos livres para isso. Mas, somos conscientes que isso afetará definitivamente a nossa vida. Assim sendo, não nos sentimos livres a esse respeito. Em favor da vida, nós aceitamos abrir mão dessa liberdade, pois o seu exercício (o suicídio) nos lançaria em uma prisão definitiva.

 

Somos livres para escolher, mas não somos livres das penas pelo descumprimento das regras às quais nos submetemos, voluntariamente ou não.

 

O fato é que quanto mais vivemos e nos comprometemos, menos livres somos. Alguns chegarão à velhice e serão totalmente dependentes de outras pessoas, como eram quando crianças.

 

A verdade é que nunca fomos, não somos e nunca seremos totalmente livres.

 

Somos limitados e precisamos saber disso, para que possamos bem desfrutar da pouca liberdade que temos e conservá-la, na medida do possível, até que um dia possamos alcançar a maior liberdade que um homem poderá vir a ter: estar livre deste corpo corruptível, que nos limita cada vez mais com o passar dos anos, bem como das regras sociais, culturais e morais humanas que exigem de nós uma série de comportamentos, positivos (faça) e negativos (não faça).

 

O conhecimento é, portanto, um ingrediente essencial para que tenhamos a exata noção da liberdade que temos (possibilidades de ação) e avaliarmos o quanto somos e o quanto ainda podemos ser livres.

 

Segundo o pensamento do filósofo Descartes, age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que precedem à escolha.

 

Somente detendo o conhecimento é que estaremos em condições de fazer as melhores escolhas, pois elas podem aumentar ou diminuir a nossa liberdade. Algumas escolhas diminuem a nossa liberdade hoje e a aumentam amanhã, e vice-versa. A partir do conhecimento sobre o que afeta a nossa liberdade é que podemos desejá-la, lutar por ela, se for preciso, conservá-la ou mesmo decidir abrir mão dela, total ou parcialmente.

 

Nesse sentido, temos um importante ensinamento de Jesus. Segundo o nosso mestre, a liberdade tem estreitos laços com o conhecimento. Primeiro temos que conhecer a verdade e depois teremos a possibilidade de ser livres, dentro de certos limites.

 

“e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32 RA)

 

Identificando a prisão

 

Se pensamos que somos livres, devemos avaliar se podemos “ser”, “ter”, ou “fazer” tudo o que queremos. Provavelmente, as respostas a essas perguntas já nos mostrarão que não somos tão livres como pensamos.

 

Entretanto, neste tópico, queremos refletir sobre a liberdade que um dia tivemos, mas que a perdemos, voluntariamente ou não, e nem mesmo sabemos como recuperá-la.

 

Como vimos na introdução, o primeiro passo rumo à liberdade é o conhecimento. Somente quando tomamos consciência de que estamos presos é que podemos buscar libertação.

 

Por exemplo, alguns viciados em álcool julgam que podem parar de beber quando bem quiserem. Dizem que não o fazem porque não querem e porque estão bem do jeito que estão. Mas quando, por recomendação médica, pressão familiar ou profissional tentam parar de beber não conseguem. Uns param por um período e depois retornam à mesma condição anterior, pois não suportam os efeitos da abstinência: nervosismo, impaciência, angústias, insônia etc. A partir de então, tornam-se conscientes da prisão em que estão.

 

Alguns, mesmo conscientes da prisão do vício, por não saberem como se libertar, rendem-se a essa escravidão, enquanto outros buscam ajuda para a sua libertação.

 

Porta estreita e caminho apertado nada têm a ver com fardos pesados impostos pela religião.

 

Outro exemplo diz respeito às pessoas que carregam pesados fardos religiosos, obedecendo às imposições advindas da tradição dos homens, muitas vezes sem qualquer fundamento bíblico.

 

“2 Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. 3  Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. 4  Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.” (Mateus 23:2-4 RA)

 

Muitos não sabem que podem ser livres desses pesados fardos, enquanto outros os suportam de bom grado pensando que esse é um sacrifício agradável a Deus. Por isso, pequena parcela desse grupo de subjugados busca ajuda. Os demais se rendem ao jugo religioso pela falta do conhecimento da verdade.

 

Porta estreita e caminho apertado nada tem a ver com fardos pesados. Porta estreita e caminho apertado significa que seguir o único caminho que nos leva a Deus exige santificação, imitação do caráter de Cristo e prática de seus ensinamentos. Fardo pesado é viver segundo preceitos de homens, obedecendo regras e padrões impostos por religiosos, muitos deles sem qualquer amparo nem nas palavras, nem nos ensinamentos de Cristo e nem nos exemplos de Jesus.

 

“Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:30 RA)

 

Antes de Jesus os religiosos já tinham o hábito de impor aos homens fardos pesados e difíceis de carregar. Os judeus que quisessem atender à religião de suas tradições tinham que obedecer uma série de exigências que a própria Lei Mosaica não trazia em seu conteúdo. Os rabinos dividiram a Torá em 613 decretos distintos, sendo 365 proibições (não faça) e 248 orientações positivas (faça). A essas instruções divinas os fariseus acrescentaram diversas regras em conexão com cada decreto. Eles desenvolveram distinções arbitrárias entre o que consideravam “permitido” e o que “não era permitido”. Por meio dessas distinções, eles tentavam regular cada detalhe da conduta dos judeus: seus sábados, viagens, comida, jejuns, sacrifícios, comércio, relações interpessoais etc. Evidentemente, deram aos regulamentos acrescidos a mesma valoração das leis divinas, de modo que o seu descumprimento fazia do homem um desobediente a Deus.

 

Jesus tratou com esses religiosos. Ao mesmo tempo que censurou suas regras extras (tradições) condenou severamente o fato deles não obedecerem a própria lei em sua essência. Eles estavam preocupados com o ritual do “lavar as mãos antes das refeições”, mas não estavam preocupados em honrar seus pais, que é um mandamento de Deus, senão vejamos:

 

“2  Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. 3  Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? 4  Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. 5  Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim; 6  esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição. 7  Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: 8  Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 9  E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” (Mateus 15:2-9 RA)

 

Hoje temos coisas semelhantes no meio religioso. Há regras e mais regras que não as encontramos nos ensinamentos e exemplos de Jesus. Muitos, por exemplo, sentem-se em desobediência a Deus quando faltam a um culto da igreja, mas não se sentem pecando quando desonram seus pais.

 

Em resumo, até onde seguimos os preceitos de Jesus o caminho é estreito. O que passa disso é fardo. E não são poucas as pessoas que estão presas a tradições religiosas.

 

Atitudes de humildade e arrependimento

 

Ora, se para a libertação o primeiro passo é o conhecimento, o segundo é a atitude. Sem atitude, ninguém será liberto. Quem sabe que precisa se libertar, mas não age adequadamente para tanto, permanece conscientemente preso.

 

A primeira atitude a ser tomada é, humildemente, pedir ajuda! Para tanto, é necessário vencer o orgulho.

 

Muitas pessoas nunca sairão do buraco em que estão porque têm vergonha de se expor. Na verdade, são orgulhosas e preferem morrer aos poucos a reconhecer que precisam da ajuda.

 

A bíblia tem diversos exemplos de homens que tiveram que superar o orgulho para buscar ajuda em alguém socialmente inferior e foram restaurados, socorridos e salvos: Naamã (2 Rs 5:1-10), Nicodemos (Jo 3:1-2; Jo 19:39-40) , o centurião (Mt 8:5-7); Jairo (Mc 5:22-24, 41-42); Zaqueu (Lc 19:2-6); e Públio (At 28:7-8).

 

Por outro lado, a bíblia nos informa que os fariseus e outros religiosos do tempo de Jesus, pensando ser espiritualmente mais elevados, mesmo rodeando Jesus por todo o tempo, perderam a oportunidade de suas vidas porque não abandonaram a soberba e o orgulho.

 

Orgulho e soberba são muros altos que separam o homem de Deus.

 

Por isso, precisamos olhar sinceramente para nós mesmos, reconhecer nossa condição e, humildemente, buscar ajuda, mesmo quando nos sentimos superiores àqueles que podem nos ajudar. Se o pecado da soberba for a barreira, é necessário arrependimento e confissão para que as portas comecem a se abrir.

 

“21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, 22  a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. 23  Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7:21-23 RA)

 

“36  Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. 37  Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós. (...) 43 Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra.” (João 8:36, 43 RA)

 

Além daqueles que permanecem soberbos e perdem a oportunidade de libertação, há também aqueles que não se arrependem de seus pecados e, por isso, não são libertos. Neste caso, o apego às paixões carnais falam mais alto e impedem a atitude de arrependimento, essencial ao perdão e, por consequência, à libertação.

 

Enfim, Jesus liberta o homem de espíritos malignos que colocam enfermidades (Lc 13:11; Mc 9:25); de opressões e pecados que sufocam a alma (Lc 7:37-38, 47-50); de influências malignas que cercam o homem com vícios, depressões etc., mas primeiramente o homem precisa reconhecer o seu estado, confessar o seu pecado e arrepender-se e buscar ajuda, pois “os sãos não precisam de médico”.

 

Escravos por opção

 

Já vimos que ninguém é livre como pensa. Mas, e em Jesus somos livres?

 

Sim e não!

 

Em Jesus estamos livres das garras do opressor, da lei do pecado e da destruição de nossas vidas, mas, por outro lado, nos tornamos escravos de Cristo, limitados para a preservação do nosso bem mais precioso: a vida.

 

“18 O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19  e apregoar o ano aceitável do Senhor.” (Lucas 4:18-19 RA)

 

“porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” (Mateus 7:14 RA)

 

“Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.” (1 Coríntios 7:22 RA)

 

Não existe liberdade plena. E quando se pretende exercer uma liberdade sem limites, corre-se o risco de se perder até mesmo a parcela que já está garantida.

 

O fato é que nunca estaremos plenamente livres de proibições e limitações. Até mesmo no reino dos céus há restrições. Satanás, buscando exercer uma liberdade sem barreiras, rompeu com limites impostos aos anjos e foi condenado à prisão eterna, a se cumprir definitivamente após o milênio. Quis mais do que lhe tinha sido dado e está condenado a ficar sem nada.

 

Se já sabemos que nunca seremos completamente livres, a questão que nos interessa, então, é saber se as proibições e limitações a que nos sujeitaremos operam em prol do nosso bem mais precioso: a vida, terrena e eterna.

 

Se, inevitavelmente, temos que entregar uma parcela da nossa liberdade a alguém, que seja a quem vise ao nosso bem-estar. Importa, então, buscar libertação do que nos faz mal e nos sujeitarmos ao que nos fará bem.

 

O contrário também é possível. Muitos querem se libertar do que lhes faz bem e acabam se sujeitando ao que lhes fará mal.

 

No Éden, por exemplo, o homem também tinha um limite imposto à sua liberdade. Para o seu próprio bem, e para o gozo da vida plena, Deus lhe proibiu de comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No momento em que Adão tenta exercitar uma liberdade plena, sem limites, ele se vê mais limitado do que jamais poderia imaginar. A partir de então, ficou preso em um corpo mortal, perdeu a liberdade de acesso à árvore da vida, recebeu uma condenação de morte e passou à condição de escravo do trabalho: “se não trabalhar, não comerá”.

 

Vejamos, a seguir, três textos que nos mostram claramente que somos livres e, ao mesmo tempo, temos nossa liberdade cerceada para o nosso próprio bem:

 

“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.” (Gálatas 5:13 RA)

 

“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” (Romanos 8:13 RA)

 

“como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.” (1 Pedro 2:16 RA)

 

A situação apresentada acima é exatamente a mesma que foi posta para Adão. É importante não confundirmos as coisas. Em Jesus somos libertos de todo o mal, mas não somos livres para fazer o que bem quisermos. Somos livres apenas para fazer o que Ele permite ou não proíbe. Como servos de Jesus não nos convém satisfazer a toda a nossa vontade. Nossa liberdade tem limites impostos para o nosso próprio bem. Quem extrapola esses limites perderá até mesmo a liberdade que já está garantida.

 

Do mesmo modo que somos livres para saciar os desejos da nossa carne, somos livres para pular de um prédio alto. Só devemos saber que isso afetará definitivamente a nossa vida. Há atitudes que, embora pareçam a mais alta expressão da liberdade, devem ser rejeitadas em favor da vida.

 

Fica o alerta: aqueles que desprezam as regras morais e espirituais de Jesus, que conduzem à vida, acabam se sujeitando às regras das trevas. Por isso, o mestre nos sugere a porta estreita e o caminho apertado que conduz à vida.

 

Liberdade, escravidão e livre arbítrio

 

Agora que as coisas parecem mais claras, tornamos à questão que exige nosso posicionamento.

 

Se nunca seremos absolutamente livres, temos que escolher uma entre duas opções:

 

a) entregamos nossas vidas ao Senhor, aceitando seus limites, sabendo que ele visa ao nosso bem-estar, felicidade e vida eterna; ou

 

b) avançamos para além dos limites divinos, buscando uma liberdade maior, e assumimos o risco de perdê-la completamente, tanto pela ação do Diabo como pela ação do pecado que tenazmente nos assedia. Ambos operam para nos conduzir à prisão eterna.

Escolhendo ser escravo de Cristo

 

Por isso, todo homem tem que fazer sua escolha. Ou servirá a Deus, submetendo-se aos seus limites e andando segundo o Espírito, ou estará sujeito à escravidão do Diabo e do pecado, sendo subjugado para a sua própria destruição.

 

O nosso livre arbítrio nos conduz a uma servidão, parcial ou total.

 

É, pois, conscientemente, com o uso da razão, que exercitamos o nosso arbítrio e abrimos mão de uma parcela de nossa liberdade para que possamos viver. Voluntariamente deixamos de satisfazer muitos de nossos desejos naturais em favor do nosso bem-estar. Por estímulo do nosso instinto de preservação, resolvemos entregar a nossa liberdade a Cristo, tornando-nos seus servos e seguindo suas regras de conduta.

 

A partir daí entramos por uma porta estreita e seguimos por um caminho apertado obedecendo à voz do Espírito Santo de Deus que nos leva à compreensão da vontade do nosso mestre e nos comanda nessa jornada.

 

“13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), 14  porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” (Mateus 7:13-14 RA)

 

Sim, somos escravos de Cristo por opção, a exemplo do escravo segundo a lei mosaica que decide permanecer na casa de seu senhor, porque julga que ali estará melhor do que em qualquer outro lugar.

 

“2  Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. (...) 5  Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. 6  Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (Êxodo 21:2, 5, 6 RA)

 

O “escravo por opção” pode sair da servidão, mas não quer.

 

A situação dos discípulos de Jesus é a de servidão por opção, a exemplo do que aconteceu quando o Senhor Jesus perguntou se eles queriam deixá-lo. Os apóstolos decidiram continuar seguindo o mestre porque sabiam que aquela era a coisa certa a ser feita:

 

“66  À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. 67  Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? 68  Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; 69  e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.” (João 6:66-69 RA)

 

O escravo por opção fica porque sabe que o seu Senhor é bom, justo, íntegro, amoroso e confiável. A questão aqui não é poder ou conseguir sair, mas querer. Ele quer ficar porque sabe que permanecendo terá o melhor para si.

 

Escolhendo a liberdade sem os limites de Deus

 

A segunda questão que envolve a liberdade, a escravidão e o livre arbítrio humano, é a possibilidade do homem escolher, hoje, extrapolar os limites impostos por Deus.

 

Quando o homem busca maior liberdade do que a permitida por Deus (a porta larga e com caminho espaçoso), ele corre o risco de cair em uma escravidão maligna que o manterá sob controle, causando-lhe sérios danos, dores e sofrimentos, como foi o caso do Geraseno:

 

“2 Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possesso de espírito imundo, 3  o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo; 4  porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram quebradas por ele, e os grilhões, despedaçados. E ninguém podia subjugá-lo. 5  Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras.” (Marcos 5:2-5 RA)

 

Mas, não é somente por possessão maligna que os filhos da desobediência perdem a liberdade. Há aqueles que ficam presos ao pecado, dominados por seus desejos carnais, caminhando dia a dia para a morte. Paulo nos dá exemplo disso na seguinte passagem:

 

“16 Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça? 17  Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; 18  e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. (...) 22  Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna; 23  porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 6:16-18, 22-23 RA)

 

Há libertação para os escravos do Diabo e do pecado

 

Como vimos, tanto os escravos do Diabo como os escravos do pecado necessitam de libertação, pois quem está preso por uma força opressora, não consegue se libertar sozinho.

 

“15 Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura, no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber? 16  Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?” (Lucas 13:15-16 RA)

 

Felizmente, a boa notícia é que Jesus veio para libertar os cativos, resgatando-os do pecado que corrói como câncer; das forças malignas que tiram a paz e a saúde; do egocentrismo que os isolam em um mundo de vaidades e de prazeres carnais que, ao fim, os fazem infelizes; e até mesmo da religião que coloca sobre eles um pesado fardo. Ou seja, Jesus liberta o homem de tudo o que o conduz à destruição e o impede de acessar e de trilhar o caminho da vida e da felicidade. Sim, há opção para uma vida melhor tanto neste mundo como no porvir. E quem não consegue passar por esta porta sozinho, precisa de ajuda dos homens e do Espírito Santo de Deus.

 

Mesmo na condição de homens, somos capacitados por Jesus e dele recebemos autoridade para ordenar a libertação dos oprimidos por espíritos malignos, senão vejamos:

 

“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas;” (Marcos 16:17 RA)

 

O apóstolo Paulo, por sua vez, na carta dirigida aos romanos nos ensina o quanto precisamos do auxílio do Espírito Santo para, depois de libertos, nos mantermos livres da escravidão.

 

“25 Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. 8:1  Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. 2  Porque a lei do Espírito da vidaem Cristo Jesuste livrou da lei do pecado e da morte. 3  Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, 4  a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 7:25-8:4 RA)

 

Sim, para a completa libertação do mal, não basta ao homem o conhecimento da lei do pecado e da lei da vida, ele precisa andar no Espírito, sujeitando-se completamente a Ele. Há, inclusive, muitos crentes que sabem o que devem fazer e não fazem, porque ainda estão escravizados pelo pecado porque não se sujeitam absolutamente ao Espírito Santo de Deus. Alguns, extrapolam os limites de Deus e não querem se sujeitar nem mesmo às autoridades constituídas por Ele, porque querem ser mais livres do que Deus nos permitiu ser.

 

Se estes princípios sobre a liberdade, sobre a servidão e sobre o livre arbítrio estão corretos, toda liberdade que excede os limites de Deus hoje se converterá em prisão amanhã.

 

Conclusão

 

Embora não sejamos totalmente livres, podemos nos tornar totalmente presos.

 

O primeiro passo para o exercício da liberdade é a consciência, pois temos que descobrir o quanto somos livres e o quanto podemos ser livres. Somente depois de avaliar a extensão da nossa liberdade e seus limites é que podemos decidir em que situação queremos estar hoje, amanhã e eternamente.

 

Uma vez que ninguém jamais será completamente livre, temos que decidir a quem iremos entregar uma parcela de nossa liberdade, pois este será Senhor sobre nós.

 

“Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:16 RA)

 

Se decidirmos ser escravos de Cristo, andemos, pois, nos seus limites. Temos duas opções: ou limitamos deliberadamente a nossa liberdade agora e a mantemos eternamente; ou rompemos os limites impostos por Deus para desfrutarmos de maior liberdade hoje, por algum tempo, e a perdermos totalmente no futuro.

 

Por fim, temos mais um paradoxo do tipo: “para viver primeiro tem que morrer”. Pois, para nos tornarmos escravos temos, primeiramente, que ser libertos. Isso mesmo! É bom que se diga que para sermos escravos de Cristo primeiro precisamos nos libertar da escravidão do Diabo, da carne, do pecado e da religião, que coloca sua tradição acima da palavra de Jesus.

 

Somos livres para escolher a quem iremos servir como escravos.

 

Brasília/DF, em 13 de junho de 2012.

Pr. Sólon Lopes Pereira