A Trindade

A Trindade

Introdução

 

Embora estejamos bastante familiarizados com o termo “Trindade” e conhecermos a sua significação desde nossos passos cristãos iniciais, é bom saber que essa palavra não aparece na Bíblia.

 

Na verdade, o conceito sobre a Trindade formou-se de uma conjugação de textos e passagens bíblicas, como veremos a seguir. Mas, não podemos negar que a própria compreensão da Trindade é algo difícil de assimilar, pois foge à nossa lógica uma “unicidade dividida”, uma vez que, obviamente, o significado de uma palavra exclui a outra.

 

Entretanto, pretendo nestas poucas linhas apenas destacar o que a palavra de Deus nos relata sem a pretensão de criar algo novo ou explicar o que Deus não quis detalhar.

 

Um Deus plural

 

Logo no primeiro verso bíblico já temos um indicativo de que Deus é plural. Na expressão "No princípio criou Deus os céus e a terra." (Gen 1:1 ), a palavra "Deus", em hebraico, é ELOHIM, que é o plural de ELOHÁ.

 

Curioso é o fato dessa primeira frase bíblica ter sido construída com o sujeito no plural (Deuses) e o verbo  no singular (criou = bará). Assim, se admitirmos que não se trata de um erro de concordância gramatical, teremos que admitir que mais de um Deus agiu como se fosse um só.

 

Mas, as demais evidências bíblicas nos fazem afastar a ideia de erro gramatical. Juntando as peças podemos perceber que esse versículo expressa o que realmente Deus é: plural agindo em unidade.

 

Pouco mais adiante, em outra passagem bíblica, temos o sujeito “Deus” compondo frase em que o verbo está no plural:

 

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.” (Gênesis 1:26 RA)

 

A indicação de que o autor não tinha problemas com sua gramática é demonstrado no verso seguinte, onde tanto o sujeito “Deus” como o verbo estão no singular. Nesse caso, o autor deixa claro que a imagem do homem (e da mulher) é semelhante à imagem de um Deus único, senão vejamos:

 

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:27 RA)

 

Embora tais variações de concordância entre sujeito e verbo continuem aparecendo no Gênesis, podemos notar que o profeta Isaías também indica claramente a pluralidade de Deus no verso a seguir:

 

“8 Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. 9 Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais.” (Isaías 6:8-9 RA)

 

No Novo Testamento, o texto utilizado como ordem para o batismo nas águas também nos mostra uma co-participação dos três personagens que representam o único Deus, senão vejamos:

 

“19  Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20  ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” (Mateus 28:19-20 RA)

 

Três Deuses e um só Deus

 

A Bíblia ensina que o Pai é Deus, que Jesus é Deus e que o Espírito Santo é Deus. Entretanto, essa mesma Bíblia também ensina que há um só Deus. A seguir, vamos buscar os fundamentos bíblicos para essas informações e verificar se é possível afastar essa aparente incoerência.

 

O Pai é Deus

 

Não temos dúvidas de que Deus é Pai. O Novo Testamento não dá essa informação, tanto em Jesus como nos textos doutrinários, conforme veremos nas transcrições que seguem:

 

O Pai, que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim. Jamais tendes ouvido a sua voz, nem visto a sua forma.” (João 5:37 RA)

 

“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.” (João 6:27 RA)

 

“6 todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.” (1 Coríntios 8:6 RA)

 

O Filho é Deus

 

A própria profecia acerca do Messias já indicava que Deus estava por vir à terra, o que é confirmado no Novo Testamento: Jesus, nascido de mulher, filho de Deus, sendo o próprio Deus conosco:

 

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;” (Isaías 9:6 RA)

 

“vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,” (Gálatas 4:4 RA)

 

“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).” (Mateus 1:23 RA)

 

No evangelho segundo João, Jesus é identificado como “o verbo”, filho de Deus (unigênito do Pai) e, ao mesmo tempo, como sendo Deus, senão vejamos:

 

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (João 1:1 e 14 RA)

 

Mais adiante, João reafirma que Jesus é “Filho de Deus” ao mesmo tempo que é o próprio Deus, como podemos ver a seguir:

 

“Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (1 João 5:20 RA)

 

Assim, notamos que as escrituras sagradas afirmam que Jesus é “Deus Filho”.

 

O Espírito Santo é Deus

 

Apenas para afastar a impressão de que o Espírito Santo seja uma força e não uma pessoa, podemos destacar que o Novo Testamento nos dá várias indicações de que o Espírito age como uma pessoa distinta, ensinando (João 14:26); coabitando com os fiéis e habitando neles juntamente com o Pai (João 14:17,23), intercedendo como Cristo também o faz (Romanos 8:26,34) e, especialmente, demonstrando que tem sentimento como uma pessoa tem, conforme vemos a seguir:

 

“E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” (Efésios 4:30 RA)

 

Mas, a demonstração de que o Espírito Santo é Deus pode ser retirada da passagem de Atos, cap. 5, que conta a história de Ananias e Safira. Nos versos 3 e 4, lê-se: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da verdade? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”

 

Há um só Deus

 

Já sabemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são Deuses. Mas, como compatibilizar esse conhecimento com a informação, também bíblica, de que há um só Deus? Ora, tanto o Velho Testamento como o Novo, explicitamente, nos informam que há um só Deus, conforme veremos a seguir:

 

“A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus; nenhum outro há, senão ele.” (Deuteronômio 4:35 RA)

 

“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.” (Deuteronômio 6:4 RA)

 

“Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces.” (Isaías 45:5 RA)

 

“4 No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus. 5  Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, 6  todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.” (1 Coríntios 8:4-6 RA)

 

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,” (1 Timóteo 2:5 RA)

 

Como cremos na perfeição de Deus e que seus caminhos são mais elevados que os nossos, não podemos imaginar que Deus tenha sido contraditório em sua palavra. E, de fato, não foi. Daí, surge a Trindade: Um Deus único, uma só divindade, do modo como o referenciamos, mas composto por um Pai, um Filho e um Espírito Santo, conforme veremos no tópico seguinte.

 

A unidade de três – a Trindade

 

Primeiramente, é preciso afirmar que a bíblia, tanto no Velho como no Novo Testamento, nos aponta para uma possibilidade real, mas incompreensível segundo a lógica humana. Refiro-me à referência da unidade do casamento, onde “dois podem ser apenas um”, como veremos adiante:

 

“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” (Gênesis 2:24 RA)

 

“7 Por isso, deixará o homem a seu pai e mãe e unir-se-á a sua mulher, 8  e, com sua mulher, serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne.” (Marcos 10:7-8 RA)

 

“Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne.” (Efésios 5:31 RA)

 

Avançando, notamos que essa mesma construção é repetida quando Jesus afirma ser “um com Deus”, bem como quando afirma estar no Pai, senão vejamos:

 

“Eu e o Pai somos um.” (João 10:30 RA)

 

“Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.” (João 14:11 RA)

 

Somente admitindo essa possibilidade entendemos que, para Deus, o plural pode ser unitário, ainda que isso não expresse um fato da nossa lógica.

 

O texto bíblico que expressa a trindade, a meu ver, é tanto claro como dependente de uma compreensão de uma simbologia bíblica. A partir do momento em que conhecemos o verbo (a palavra) que se fez carne e habitou entre nós, como sendo o próprio Deus (João 1:1 e 14), podemos interpretar de modo adequadamente o versículo bíblico que nos diz expressamente que os três (Pai, Filho e Espírito Santo) são um, senão vejamos:

 

“Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra [o verbo] e o Espírito Santo; e estes três são um.” (1 João 5:7 RA)

 

Conclusão

 

Sem a pretensão de fazer um estudo teológico, entendo, de modo simplista, que os textos bíblicos apresentados são, no mínimo, capazes de apontar para a integração de três divindades (Pai, Filho e Espírito Santo), formando-se uma unidade (um só Deus), ainda que isso seja incompreensível à lógica humana.

 

Afora esses indícios bíblicos, deixo as coisas não esclarecidas por Deus para que Ele próprio possa nos revelar, quando e se quiser:

 

As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” (Deuteronômio 29:29 RA)

 

Enfim, para ilustrar, lembro do ovo. Referenciado sempre no singular, como se fosse uma unidade, é, entretanto, composto por três partes: casca, clara e gema.

Por: Pr. Sólon Lopes Pereira

Brasília, em 30 de setembro de 2013