A oferta de Caim

A oferta de Caim

Nós bem sabemos que, no princípio Deus criou o homem, mas este pecou e, por isso, foi lançado fora do Éden. Após essa queda, Adão e Eva começaram a povoar a terra e tiveram filhos e filhas, conforme vemos a seguir:

 

“1 Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; 2  homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. 3  Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete. 4  Depois que gerou a Sete, viveu Adão oitocentos anos; e teve filhos e filhas.” (Gênesis 5:1-4 RA)

 

Não é difícil imaginar que Adão e Eva tenham contado suas histórias a seus filhos e tenham lhes falado acerca do local de onde vieram, da comunhão com o Deus único, do resultado de sua escolha em desobedecer a Deus e de como foram recebidos novamente na presença do criador após o pecado: um cordeiro foi sacrificado para que os dois se cobrissem e pudessem se apresentar a Deus.

 

Partindo da suposição de que os filhos de Adão e Eva sabiam que Deus havia utilizado um cordeiro como sacrifício para restaurar a comunhão com eles, podemos imaginar que tanto Abem como Caim tinham como saber que o sacrifício de um cordeiro servia, no mínimo, para esse propósito de estabelecer comunhão de Deus e aniquilar o pecado que faz a separação entre o santo e o impuro.

 

Entretanto, o comportamento desses dois filhos de Adão resultaram em reações divinas diferentes. Abel, fez-se agradável a Deus e lhe ofereceu um sacrifício retirado das primícias do seu rebanho, o que foi bem recebido pelo Senhor. De modo diverso, Caim torna-se um homem cujas obras Deus não se agradou. Este, também, fez uma oferenda ao Senhor: o produto de sua lavoura. Mas, sua oferta não foi bem recebida pelo Senhor.

 

A questão é: por que Deus não se agradou da oferta de Caim, uma vez que ele era lavrador e deu ao Senhor, espontaneamente, do fruto de seu trabalho?

 

“2 Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. 3 Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. (Gênesis 4:2-3 RA)

 

É claro que do ponto de vista profético, Abel estava mais bem posicionado, uma vez que sua oferta atingiu em cheio o centro do projeto de Deus para a salvação do homem e para o estabelecimento da comunhão entre ambos.

 

Porém, poderíamos pensar que Deus não foi justo com Caim, pois ele ofertou o que tinha de melhor, o fruto de seu trabalho como lavrador. Ademais, Deus poderia ter relevado o fato de Caim não ter acertado o alvo por não ter sido instruído clara e previamente a esse respeito.

 

Como a narrativa bíblica neste ponto é pouco esclarecedora sobre os motivos que levaram Deus a desagradar-se da oferta de Caim, temos que observar melhor o texto, o contexto em que os fatos ocorreram e outros textos relacionados. Uma coisa importante a se notar é que, primeiramente, Deus olhou para o homem e para o seu comportamento, suas atitudes, e não para a sua oferta, conforme se vê a seguir:

 

“4  Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; 5  ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante.” (Gênesis 4:4-5 RA)

 

Antes da referência acerca da oferta, a bíblia é clara em dizer que Deus agradou-se de Abeu e não agradou-se de Caim. Somente depois vem a referência sobre a oferta.

 

Os versos seguintes nos mostram claramente que Deus aponta onde estava o erro de Caim, em seu procedimento, que era continuamente mau, senão vejamos:

 

“6 Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? 7  Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gênesis 4:6-7 RA)

 

Pelo visto, o comportamento de Caim não era bom. Ele procedia mal e, por isso, não alcançava aprovação de Deus antes mesmo de ofertar. João, nos deixa claro que o comportamento de Caim era mau e que suas obras eram más. Isso já estava em seu coração antes mesmo de assassinar fisicamente seu irmão, do qual tinha inveja por ser ele um homem de obras justas.

 

“ não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas.” (1 João 3:12 RA)

 

O que estamos apontando é para o fato de que as obras de Caim eram más, no plural, ou seja, todas as suas obras eram desagradáveis a Deus, antes mesmo de matar seu irmão. Seu sentimento em relação ao seu irmão já era mau e foi exatamente isso que fez com que sua oferta desagradasse a Deus. Pior! Caim é soberbo! Não reconhece seus erros, não se arrepende, não confessa e não pede perdão pelo mal que comete contra seu irmão. Até mesmo depois de assassinar Abel, age com arrogância diante de Deus, senão vejamos:

 

“Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (Gênesis 4:9 RA)

 

Ao observar esses textos bíblicos podemos entender que muito mais Caim necessitava de apresentar a Deus uma oferta de arrependimento, apontando para o sacrifício que substitui o pecador arrependido e necessitado de voltar à comunhão com Deus. Caim precisava oferecer a Deus um cordeiro! Isso seria, de fato, agradável a Deus, um coração contrito e arrependido:

 

“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” (Salmos 51:17 RA)

 

Então, por que Deus não se agrada da oferta de Caim? Porque, primeiramente, não se agradava do próprio Caim, de seu comportamento, de suas obras e do modo como desprezava seu irmão em seu coração, a ponto de matá-lo, mostrando que, para ele, seu irmão não tinha nenhum valor.

 

Assim procedem os que desprezam seus irmãos: procuram matá-los. Vejamos o texto em que João faz essa conexão com precisão:

 

“10  Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão. 11 ¶ Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; 12  não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. 13  Irmãos, não vos maravilheis se o mundo vos odeia. 14  Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. 15  Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si.” (1 João 3:10-15 RA)

 

Ora, devemos aprender essa lição! Antes de pensarmos em ofertar a Deus, devemos examinar nossos corações. Talvez, antes de oferecermos o fruto do nosso trabalho a Deus, devamos nos arrepender de nossos pecados, especialmente sobre o modo como tratamos nossos irmãos.

 

De nada adianta ao homem fazer ofertas maravilhosas a Deus se seu comportamento lhe é desagradável, entregue ao pecado, que jaz à porta. Vejamos uma outra passagem bíblica onde o próprio Jesus bem representa esse sentimento de Deus:

 

“23 Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24  deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.” (Mateus 5:23-24 RA)

 

O que Jesus está a nos ensinar é que se estamos desagradando a Deus com o nosso comportamento, nossa oferta não atingirá o coração de Deus. É preciso deixar a oferta para depois.

 

Primeiro, Deus olha para o nosso comportamento. Depois disso, ele olha para a nossa oferta. Especialmente por isso, nossa primeira oferta tem que representar nosso arrependimento pelos nossos pecados.

Por: Pr. Sólon Lopes Pereira

Brasília, em 1º de setembro de 2013.