Carta 72

02/07/2013 13:53

De: JOÃO

Em 19/01/2010

Prezado Pastor,

 Sempre acompanho seus artigos na internet, e vejo a lucidez na forma de interpretar e manusear a palavra de Deus. Alem disso, parabenizo pela coerência na escrita e fundamentação de seus textos.

Feitas essas considerações tenho um dúvida que não consigo parar de pensar: Assisti uma pregação na Igreja Maranata de Goiás onde o pregador disse e reafirmou várias vezes: quem é crente e resolver ir para o mundo e depois retornar na casa do senhor não entra mais no reino dos céus.

Eu fiquei preocupado, que hoje com meus (...) anos eu desvie uma vez, fato que, ocorreu pecado de morte (prostituição). Esse vacilo ocorreu quando tinha meus (...) anos e hoje sou firme na presença do Senhor.

Ao terminar a pregação falei com o pastor sobre o perdão e o mesmo disse que eu não tinha mais direito a salvação e me mostrou um texto na bíblia: aquele que diz que crucificaram Jesus pela segunda vez, expondo ele ao vitupério. Desse dia em diante procuro essa resposta todos os dias, na internet e ninguém me responde com respaldo bíblico.

Pastor, o senhor como conhecedor da bíblia tem algo pra me falar? Estou angustiado e não quero ir para igreja, tendo em vista que, se eu não for para o céu para que ir pra igreja?

 JOÃO

 

De: pastor-solon@uol.com.br 

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De: Pastor Sólon

Para: JOÃO

Data: 21 de janeiro de 2010 13:49

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com todos,

 Já recebi seu e-mail e vou respondê-lo em breve. No momento, estou sem internet na minha casa, que está passando por uma reforma. Como aqui no meu trabalho não posso desviar minha atenção, precisarei de mais tempo para respondê-lo adequadamente.

 “Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos.” (Jó 14:7 RA)

 O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

De: Pastor Sólon

Para: JOÃO

Data: data15 de fevereiro de 2010 11:52

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com você.

Inicialmente, peço perdão pela demora na resposta. Como eu lhe disse anteriormente, fiquei algum tempo sem condições de responder e-mails.

A questão que você abordou é interessante e tenho uma opinião bem definida em meu coração. Assim, posso defender aquilo que eu acredito, pois é desse modo que eu ensino às ovelhas que Deus me confiou. Não quero desmerecer qualquer ministério que pense diferente, mas apenas irei apresentar as razões pelas quais me sinto tranqüilo quanto ao que eu ensino.

Em resumo, a questão é: aquele que cai pode tornar a se levantar? Em outras palavras: o crente que se entrega ao pecado e se afasta de Deus pode se arrepender e voltar para os braços do Pai. O arrependido encontra acolhida ou será rejeitado definitivamente por Deus?

Como sabemos, a bíblia não pode ser conhecida em partes, pois textos fora do contexto ou desassociados de todo o conjunto bíblico podem conduzir o homem a verdadeiras heresias.

Por isso, vamos procurar combinar os textos do velho e do novo testamento, sempre procurando verificar se eles estão compatíveis com os princípios bíblicos gerais.

No presente caso, os princípios bíblicos envolvidos são: o livre arbítrio do homem; o amor, o perdão e a misericórdia de Deus.

Vamos começar examinando um texto do velho testamento:

“4 Dize-lhes mais: Assim diz o SENHOR: Quando caem os homens, não se tornam a levantar? Quando alguém se desvia do caminho, não torna a voltar? 5  Por que, pois, este povo de Jerusalém se desvia, apostatando continuamente? Persiste no engano e não quer voltar. 6  Eu escutei e ouvi; não falam o que é reto, ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz eu? Cada um corre a sua carreira como um cavalo que arremete com ímpeto na batalha.” (Jeremias 8:4-6 RA)

 

 

No texto, Deus nos mostra que, mesmo fazendo parte da natureza humana o levantar-se depois de uma queda e o voltar ao caminho certo após perceber que se tomou o caminho errado, há aqueles que não fazem assim. Há pessoas que não se levantam e outros que não voltam ao caminho certo. Entretanto, Deus não diz que isso é sempre assim. Ao contrário, afirma que isso ocorre em três situações e que todas elas dependem da atitude do homem e não de Deus:

Primeira: quando o homem persiste no erro. Uma vez que haja a consciência do pecado, o permanecer nele é uma questão de opção do homem – livre arbítrio. Deus não quer que seus filhos andem continuamente em pecado, mas nada pode fazer quando essa é a sua opção. O homem é livre para escolher o caminho que quer seguir e Deus não o força a andar no caminho certo, apenas mostra qual a direção correta a seguir.

Segunda: quando o homem não quer voltar. Mais uma vez, Deus nos mostra que a vontade do homem prevalece quando se trata da escolha do seu próprio caminho. Se o homem não quer voltar para Deus, não há o que fazer. Deus respeita a sua escolha mesmo quando ela é uma apostasia.

Terceira: quando o homem não se arrepende de seu pecado. Se não há arrependimento, não há perdão. Enquanto o homem seque seu caminho achando que está certo e que não está fazendo nada de errado, não há do que se arrepender. E sem arrependimento de pecados ninguém se volta para Deus. É bom lembrar que a mensagem de Jesus era: “arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1:15).

Como vimos, nas três situações acima o impedimento de se voltar para Deus decorre da atitude humana e não de uma rejeição de Deus. Ao contrário, notamos no texto que essa é uma queixa de Deus. O Senhor quer que o seu povo se levante e volte a andar em seus caminhos, mas isso não acontece porque o homem persiste no erro, não quer voltar ou não se arrepende de ter abandonado o seu Deus.

Ainda, no velho testamento há um exemplo clássico de uma profetiza que cometeu um grave pecado, enchendo seu coração de vaidade, arrogância, soberba e ao final caiu. Mesmo após ter sofrido uma condenação de morte, arrependida, foi reinserida na presença de Deus. Miriã, após cometer o grave pecado de se rebelar contra uma autoridade instituída pelo Senhor, ficou leprosa e foi colocada para fora do arraial de Deus. Nessa passagem, notamos que, após o pecado, houve arrependimento declarado por Arão, que falou em nome de todos os que participaram da rebelião (Nm 12:11). Houve, também, intercessão de Moisés a Deus, suplicando pela sua misericórdia (Nm 12:13). Deus atentou para essa situação (arrependimento e intercessão) e agindo com misericórdia, por seu infinito amor, perdoou o pecado de Miriã e a reintegrou. É bom notar que Miriã não deixou de sofrer as conseqüências de seu pecado, mesmo após ser perdoada. Ela ficou isolada por sete dias sofrendo a pior doença da época (Nm 12:14). Sete dias nessas circunstâncias (abandono, dor, enfermidade e isolamento) foi o tempo que Deus considerou suficiente para que ela fosse repreendida pelo mal que cometera.

Mas, o exemplo clássico do velho testamento, mostrando como Deus trataria dali em diante a questão da queda do homem está em Adão e Eva. Ambos gozavam de uma comunhão especial com Deus e caíram pelo pecado da desobediência. Deus, agindo com misericórdia, por seu infinito amor, perdoou e deu ao casal nova condição de se apresentarem a Ele, agora vestidos com a pele de um cordeiro sacrificado em razão do pecado. Adão e Eva sofreram as conseqüências de seu erro, mas tiveram a comunhão com Deus restaurada.

Davi é outro exemplo marcante. Um homem segundo o coração de Deus (At 13:22), mas que pecou (2Sm 12:9), arrependeu-se (2Sm 24:10), sofreu graves conseqüências de seu erro (2Sm 12:10-15 - 2Sm 24:12-15), mas Deus, agindo com misericórdia, por seu infinito amor, perdoou o pecado de Davi e o restaurou (2Sm 12:20 - 2Sm 24:25).

Passando ao novo testamento, observamos que Pedro chegou ao ponto de negar ao Senhor Jesus por três vezes (Mt 26:69-74), mas se arrependeu, sofreu muito com sua atitude (Mt 26:75), foi confrontado pelo próprio Jesus (Jo 21:17), mas Deus, agindo com misericórdia, por seu infinito amor, perdoou o seu erro e o restaurou completamente. É bom lembrar que Pedro recebeu a dádiva de ser aquele que abriu as portas da igreja com sua pregação (a primeira) que levou quase três mil pessoas ao arrependimento e à conversão ao evangelho do Senhor Jesus (At 2:37-41).

Não podemos, também, deixar de considerar a parábola do filho pródigo, contada por Jesus para ensinar sobre o caráter do bom Pai, que perdoa, recebe seu filho de volta e restaura sua condição na sua casa, apesar de ter de enfrentar a insatisfação de seu outro filho, igualmente amado, mas que fica indignado cobrando do pai uma atitude severa e de rejeição do arrependido (Lc 15:11-32). Mais uma vez, a bíblia nos mostra a misericórdia de Deus que, por seu infinito amor, perdoa e restaura seus filhos.

Agora, vamos analisar o texto que gera a dúvida quanto à possibilidade de restauração de um crente que experimentou íntima comunhão com Deus e caiu em pecado.

“4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, 6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.” (Hebreus 6:4-6 RA)

Primeiramente, é bom observar que o texto não diz que essas pessoas jamais seriam perdoadas. O texto diz que é impossível que essas pessoas tornem a se arrepender. Veja que o problema está com a pessoa e não com Deus. Os princípios de Deus permanecem inalterados. Se houver arrependimento, a misericórdia de Deus entrará em ação e por seu infinito amor o perdão será concedido, pois Jesus morreu para isto, para perdoar tanto o pecado do ex-incrédulo como aquele que ocorre depois que a pessoa já experimentou íntima comunhão com Deus (Adão, Miriã, Davi, Jonas etc.), ou com Jesus, como foi o caso de Pedro.

Agora, vamos pensar um pouco: o que é impossível aos homens é impossível para Deus? Há uma passagem bíblica que é muito clara quanto a essa questão, senão vejamos:

“23 Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. 24 E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. 25 Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? 26 Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível.” (Mateus 19:23-26 RA)

O exemplo de Jesus é bastante claro: um camelo não passa no buraco de uma agulha – é impossível. Deixo de lado a péssima interpretação sobre a passagem do camelo em um buraco no muro chamado de “agulha”, uma vez que o exemplo dado por Jesus é para demonstrar uma impossibilidade e não uma dificuldade. Agora, observe o fim da passagem citada por Jesus: “isso é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”. Ora, Jesus reconhece a impossibilidade humana, mas a afasta ante o poder de Deus.

Desse modo, quando vemos que uma pessoa, que experimentou coisas excelentes pertinentes ao reino de Deus, abandoná-las deliberadamente e se lançar no pecado, desfrutando e alegrando-se com os prazeres carnais, desconsiderando Deus e o sacrifício de Jesus e mostrando completa falta de temor, logo vem à nossa mente que é impossível que essa pessoa se arrependa novamente, pois ela parece estar feliz com a vida que está levando e convicta de que Deus não lhe faz falta alguma. Nessa situação, como irá se arrepender?

Mas, sabemos que para Deus nada é impossível e que há muitos casos em que a oração de familiares, amigos e da igreja podem tocar o coração de Deus, a ponto Dele mover circunstâncias para favorecer o arrependimento, como é o caso do filho pródigo que, após ser abandonado pelos amigos, perder tudo o que tinha, ser humilhado e maltratado pelos homens, viu sua ilusão desaparecer diante dos seus olhos e decidiu voltar. Voltou para a cada do Pai, e foi recebido, amado e restaurado.

Em resumo, Deus perdoa o arrependido, mesmo que seja um crente afastado de sua presença, pois a misericórdia, o amor e o perdão são princípios divinos amplamente exemplificados na bíblia. A única impossibilidade de restauração deve-se à falta de arrependimento, que cabe ao homem e não a Deus, pois o princípio do livre arbítrio não caiu por terra desde o dia em que foi conferido a Adão, no princípio.

Amado, volte para os braços do Pai.

“Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos.” (Jó 14:7 RA)

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.