Carta 296

30/08/2013 14:04

Pr. Sólon, APDS:

 

Meu nome é JOÃO, (...) e atualmente estou diácono aqui em Vila Velha-ES.

 

Bom, estou inclinado a sair da ICM. Na Igreja estou refugiado no deserto, e em casa estou orando e fazendo pesquisas, muitas pesquisas.

 

Passo horas na WEB lendo artigos, sites, vídeos de pregações, cultos ao vivo, e etc.

 

Seu site Celeiros é fantástico. Aquele Artigo que fala do Culto como forma de manipulação é incrível. O artigo de Dons Espirituais também é muito bom, e muitas outras cartas, não tem como enumerá-las. Embora não concorde com alguns assuntos secundários do site, sua essência é sem dúvida um alimento espiritual definidor.

 

Nestes últimos dias, estou com meus olhos voltados para um grupo evangélico denominado "Irmãos". Estritamente falando, o grupo a que me refiro é: Irmãos em São Lourenço, Irmãos em São Gonçalo, e etc. Os dois possuem um site.

 

Tenho visto as mensagens do Irmão Romeu Bornelli no YouTube. Este companheiro é fantástico. Ele tem um estilo panorâmico de apresentar a bíblia, algo extraordinário que nunca tinha visto.

 

O Grupo "Irmãos" (Lato Sensu) é um segmento evangélico muito difuso. Existem várias sub-classificações de acordo com costumes adotados. Todavia, verifico que todos eles estão muito ligados às doutrinas de Watchman Nee e Witness Lee. Conheço nada destes irmãos, exceto wikipédia.

 

Eles possuem alguns costumes diferentes. Gostaria de apresentá-los brevemente:

 

1) Ninguém usa terno nas igrejas ou locais de reuniões.

2) Não possuem uma Organização (Estatuto) Eclesiástica.

3) Todo domingo eles se reúnem para partir o pão (ceia).

4) Na ceia, há apenas um pão e uma única taça de vinho. Todos bebem no mesmo cálice.

5) Declaram que "Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são Dons Espirituais, um sentido mais stricto de Ministério.

6) As igrejas são supervisionadas por Anciãos, Presbíteros ou algum outro nome do gênero, sempre de abrangência local, mas há também lideranças regionais.

 

Gostaria de obter sua visão a respeito destes assuntos. Não possuo envergadura adequada para interpretá-los.

Algo muito breve e objetivo, 03 ou quatro linhas no máximo para cada item, pois sei que você está com o tempo corrido nestes dias.

Se você tiver algum agravo a respeito de Watchman Nee e Witness Lee, por favor escreva.

 

Saudações em Cristo,

 

JOÃO

E-mail: joao@yahoo.com

 

RESPOSTA, em 30/8/2013

 

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

 

Inicialmente, não pude deixar de notar que você diz “estar” e não “ser” um diácono. Sei que isso nada tem a ver com seus questionamentos, mas, sinceramente, não consigo entender a razão para você não assumir o que Deus disse a seu respeito, se é que foi Deus quem o separou para esse serviço/atividade/responsabilidade.

 

Veja bem, você “é” ou “está” servo de Deus? Paulo, mesmo consciente da condição humana instável (quem “pensa estar em pé veja que não caia” – 1Co 10:12), não tem nenhum problema em afirmar que ele “é” servo de Deus e “é” apóstolo de Cristo, senão vejamos:

 

Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade,” (Tito 1:1 RA)

 

A mesma convicção tem Tiago, como você pode ver a seguir:

 

Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações.” (Tiago 1:1 RA)

 

João Batista, do mesmo modo, não titubeou quando foi questionado sobre quem ele era. Se Deus o havia designado para aquele ministério, ele não foi um “falso humilde”. Antes, afirmou com toda segurança: “eu sou” conforme você pode conferir abaixo:

 

“22 Disseram-lhe, pois: Declara-nos quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo? 23  Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” (João 1:22-23 RA)

 

Amado, nós bem sabemos que tudo é passageiro, inclusive a própria existência humana e seus agregados. Também, temos consciência de que diversas coisas nesta vida são condicionais, a exemplo da própria bênção de Deus (Dt 28), mas não acho razoável que aceitemos declarações que neguem ou enfraqueçam aquilo que recebemos de Deus. Se eu sou pastor, e estou convicto de que recebi essa missão de Deus, assumo pela fé essa minha condição e não me importo com o que os outros acham ou pensam a esse respeito.

 

Perdoe-me por trazer essa questão sem ser o foco de sua mensagem, mas como isso me veio à mente, decidi comentar.

 

Quanto às suas colocações, alegro-me em ver que você é seletivo e gosta de estudar. Lembro que o site celeiros é um espaço para apresentação de fatos, teorias, ideias e experiências, mas não há qualquer pretensão de ser irrefutável. Temos algumas percepções e as disponibilizamos para que possam servir apoio para quem concorda e de contraponto para quem discorda.

 

Sobre o grupo evangélico denominado "Irmãos", confesso que não conheço esse trabalho e nunca ouvi falar do Irmão Romeu Bornelli. Já os ensinamentos de Watchman Nee conheço um pouco. Na verdade, esse foi o primeiro autor que me abriu os olhos. Li completamente cinco de seus livros e adquiri vários outros que examino apenas em pontos específicos. Eu rocomendo!

 

No que diz respeito aos costumes do grupo “Irmãos” a que você se referiu, permita-me apresentar minha opinião.

 

1) Ninguém usa terno nas igrejas ou locais de reuniões

Acho isso indiferente. No meu caso, procuro respeitar os protocolos. No meu trabalho, por exemplo, uso terno. Eu poderia vestir uma calça jeans que em nada alteraria o meu conteúdo. Entretanto, o protocolo exige o terno e eu respeito isso. Hoje eu vou à Anápolis/GO e lá vou reunir-me com um grupo tradicional da Assembleia de Deus e da Igreja Cristã Evangélica. Eu até gostaria de ir de camiseta, mais confortável inclusive para minha viagem, mas me visto mais formalmente porque sei que isso é importante naquela cultura. Então, simplesmente, não quero que detalhes superáveis pelo bom senso interfiram na apresentação do conteúdo. Se alguém vai à minha casa, deve respeitar meus hábitos e se eu vou à casa de outra pessoa, respeito os costumes locais.

 

2) Não possuem uma Organização (Estatuto) Eclesiástica.

Bom, se não fazem compras, se não gastam dinheiro com nada, se não adquirem bens, se não assumem contratos em nome do grupo e se guardam seus regulamentos apenas na mente, realmente, um estatuto é desnecessário. Entretanto, o fato de não registrarem as regras em um cartório não significa que elas não existam. Lembre-se que na ICM as regras mais cruéis não são escritas. Não deixam registros nem rastros. Por exemplo, não se batiza uma mulher que usa calça comprida e nem se “levanta” um homem para funções na igreja se ele usar barba. Essas são regras bem firmes naquele meio, mas onde elas estão escritas? Pessoalmente, prefiro as regras claras, escritas e formais. Assim, é mais fácil sabermos quais os compromissos assumidos pelas pessoas, seus direitos e suas obrigações.

 

3) Todo domingo eles se reúnem para partir o pão (ceia).

A ceia é uma prática bíblica, mas não há nenhuma definição de prazos e períodos. Não vejo problema nenhum em estabelecermos nossa própria periodicidade. O que não podemos é desprezar essa necessidade da igreja.

 

4) Na ceia, há apenas um pão e uma única taça de vinho. Todos bebem no mesmo cálice.

Perdoe-me, querido, mas acho isso absolutamente irresponsável. Ninguém está livre de estar contaminado por algum vírus e nem mesmo saber disso. Também, a higiene é algo básico e pessoal. Se alguém não possui ou não se preocupa com isso, pelo menos não deveria constranger ninguém a uma prática dessas. Eu já fui a uma reunião com essa prática e não voltarei mais ali.

 

5) Declaram que "Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são Dons Espirituais, um sentido mais stricto de Ministério.

Acho que há uma confusão entre dons “espirituais”, talentos naturais e missão ou chamado para um propósito específico, mas, que diferença isso faz? Como eu disse no início, se eu sou de fato, não é o título ou o reconhecimento humano que vai mudar isso.

 

6) As igrejas são supervisionadas por Anciãos, Presbíteros ou algum outro nome do gênero, sempre de abrangência local, mas há também lideranças regionais.

A meu ver, a nomenclatura é útil para definição de hierarquia e de responsabilidades, mas em nada altera a essência do que as pessoas realmente são. Se alguém me diz que é apóstolo, mesmo não vendo fundamento bíblico para isso, respeito. Se uma mulher diz que é pastora, eu respeito. No fundo, o que interessa a Deus é o que nós realmente somos e não o modo como nos chamam ou como os grupos se organizam para estabelecer a ordem, a autoridade e as responsabilidades.

 

Por fim, querido, perdoe-me pela falta de fundamentação desses meus pontos de vista. Pode até ser que você me apresente textos bíblicos que me façam refletir um pouco mais a esse respeito, mas, no momento, foi isso que me veio à mente.

 

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.