Carta 238

02/07/2013 17:13

DATA DA PUBLICAÇÃO: 27/5/2012

 
   

 

De: JOÃO

Para: Pr. Sólon

Data: 8 de maio de 2012 13:07

Pastor,

Não apenas respondo para confirmar o contato, mas também para aproveitar e fazer uma consulta, uma vez que pelo site celeiros.com verifiquei que o senhor assim o permite. Espero não estar enganado e incomodando.

Li no site inúmeras respostas quanto ao divórcio, suas consequências, e, pelo volume e conteúdo, é de fácil constatação que se trata de um assunto espinhoso, até porque, pelo o que entendi, não há resposta única. Há variação em cada caso.

Fui casado por um ano, me casei na ICM. Casamento precipitado, principalmente por não conseguir manter um namoro sem sexo. Não casei na igreja, mas em um cerimonial, culto realizado por um pastor da igreja que frequentávamos, assim pq já tinha uma filha.

Estou separado há mais de 8 anos, minha ex-esposa já se casou novamente e tem 2 filhos.

Estou solteiro e não mais me casei, embora com enorme vontade de formar uma família e namorando há algum tempo.

A separação não foi motivada por infidelidade. Hoje a classifico como falta de maturidade de ambos à época.

Estar em um novo casamento nessas condições, separação não motivada por infidelidade, é estar em adultério?

Se para o perdão dos pecados devemos deixar de praticá-lo a única forma de sair de tal condição (adultério) é retomar o casamento? O que implicaria na separação da minha ex-esposa. Ou não, pelo fato de ela já ter se casado novamente estou liberado. Se for este o caso, onde estaria tal ressalva na bíblia?

Se precisar de maiores detalhes fornecerei sem problema, assim como não quero que tenha qualquer tipo de receio na resposta. Fique muito a vontade.

Grato pela atenção.

 

 
 

 

 

 

De: Pr. Sólon

Para: JOÃO

Data: 8 de maio de 2012 16:18

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Como eu disse, pecado sempre traz consequências. Mesmo após o arrependimento, algumas permanecem. Por exemplo: se um homem adultera e dessa relação pecaminosa nasce uma criança, mesmo com o perdão de Deus, não há como resolver o “problema” [do nascimento] da criança, não é mesmo? Não há como fazê-la desaparecer junto com o perdão de Deus.

Foi algo parecido o que aconteceu com o povo judeu. Abraão e Sara não aguardaram na promessa (incondicional) de Deus (Gn 16 e 17) e até hoje as consequências perduram, pois os descendentes de Ismael são os inimigos dos descendentes de Abraão no oriente médio até nos dias atuais.

Some-se à precipitação de Abraão, ao gerar Ismael (Gn 17:19-21), a precipitação de Jacó e teremos a configuração dos dias modernos, pois os descendentes de Ismael são inimigos dos filhos de Abraão, assim como os descendentes de Esaú (Edom, habitantes de Seir - Dt 2:5 - Js 24:4) são inimigos dos descendentes de Jacó até hoje, conforme a profecia estabelecida nas palavras que Jacó proferiu a Esaú (Gn 27:40-41 - Ob 1:18 - Ml 1:3-4 - Rm 9:13).

Bom, sabemos que tanto o erro de Abrão como o de Jacó foram perdoados e a promessa de Deus se cumpriu, pois o povo se tornou em uma grande nação (especialmente nos tempos do Rei Davi). E da descendência de Abraão todas as famílias da terra são benditas em Jesus (Gn 12:3).

Veja que perdão de pecados nos traz de volta à comunhão com Deus, assim como Adão e Eva retornaram à presença do Senhor. Mas muitas consequências perduram por toda a vida e, no caso de Adão, desde então há uma condenação sobre a humanidade por seu pecado original.

Quanto ao seu caso em particular, vou ser franco, pois não tenho receio de falar o que penso, até porque não ando atrás da aprovação ou da aceitação das pessoas.

Sobre esse assunto (casamentos e recasamentos) estou escrevendo um longo texto, com mais detalhes e fundamentos bíblicos que me parecem ser aplicáveis na prática. Mas, como ainda não o terminei, vou direto às conclusões, ok?

Pois bem, sua situação, a meu ver, é de pecado enquanto você não se arrepender, sinceramente, do que fez. O seu pecado começou quando você iniciou uma vida sexual fora do casamento e se multiplicou quando você se separou da sua mulher, expondo-a a uma vida de adultério com outro homem.

“Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério.” (Mateus 5:32 RA)

Como eu disse antes, o pecado "mandou a fatura" e hoje você sofre as consequências disso.

Bom, não sei se você já se arrependeu e pediu perdão a Deus por ter mantido relações sexuais fora da aliança do casamento (At 21:5) e por ter se separado de sua mulher (Mt 19:5, 9 - Ef. 5:31 - 1Co 7:10). Lembre-se que você ofendeu a Deus por ter desprezado a sua palavra e mandamento.

Como ofensor, se você ainda não pediu perdão a Deus pela sua ofensa, sugiro que faça.

Mas, não só isso. Sugiro, também, que você peça perdão à sua ex-esposa pelo mal que você causou a ela. Sei que você não agiu sozinho, mas você deve arrepender-se pela sua parcela de culpa e pedir perdão por ter, de algum modo, contribuído para o pecado de sua ex-mulher, que, seguramente, também sofre consequências desse pecado.

Mas, lembre-se: o arrependimento que conduz ao perdão deve ser seguido de frutos de arrependimento:

“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;” (Mateus 3:8 RA)

“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Lucas 3:8 RA)

“mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento.” (Atos 26:20 RA)

O que significa produzir frutos dignos de arrependimento? Significa que sua conduta após o pedido de perdão a Deus e à sua ex-mulher deve ser radicalmente alterada. Ou seja, agora você tem que ter uma conduta que demonstre, claramente, que você se arrependeu. Se você continua mantendo relações sexuais com sua futura esposa, é sinal que você não se arrependeu sinceramente do que fez e, provavelmente, sofrerá consequências semelhantes, ou piores, no futuro.

“20 Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. 21  Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. 22  Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal.” (2 Pedro 2:20-22 RA)

Se me fiz entender, o primeiro passo a ser dado é o arrependimento sincero, que será seguido de perdão (pedido solene a Deus e àquela a quem você prejudicou com suas ações).

O segundo passo é abandonar definitivamente as ações pecaminosas das quais você se arrependeu de praticar, produzindo frutos dignos de arrependimento.

Após isso, devemos considerar que não é razoável impor novas mazelas nos lares que já estão formados. Sua ex-mulher já está casada com outro homem e com ele tem dois filhos. Desse modo, o seu ajuste produziria um desajuste maior, a ponto de afetar outra família com maior gravidade.

Veja que os filhos gerados do novo relacionamento da sua ex-mulher seriam absolutamente afetados.

E não podemos nos esquecer que o nosso Senhor é um Deus que deseja preservar a família. De igual modo, Deus se revela um protetor de viúvas (padrão da época - 1Tm 5:3, 5, 16) e órfãos, que são pessoas que não têm como se defender de abusos ou de desajustes praticados por terceiros

Veja que os filhos de sua ex-mulher seriam afetados emocionalmente e até espiritualmente, caso a solução de Deus fosse a retomada do seu primeiro casamento. Certamente, essas crianças teriam enorme dificuldade de compreender um Deus que separou seus pais. Afinal, como entender a contradição de um Deus que preza pela família e a desmonta ao mesmo tempo?

Ora, nós bem sabemos que a família para uma criança é algo essencial à sua proteção, provisão e boa formação emocional e espiritual. Por isso, comparo essas crianças aos órfãos que Deus sempre desejou proteger:

“Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada.” (Salmos 68:5 RA)

 “Não removas os marcos antigos, nem entres nos campos dos órfãos,” (Provérbios 23:10 RA)

 “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” (Tiago 1:27 RA)

Logo, não vejo como impor prejuízo à parte mais frágil de todo esse imbróglio. Minha opção, neste caso, seria proteger as crianças.

Uma vez que, no seu caso, não há como construir sem destruir, parece-me que a formação que menos traumas trará será você arrepender-se de sua rebeldia em relação a Deus, bem como de todo o mal que causou quando se separou de sua ex-mulher. A partir daí, peça perdão a Deus e à sua ex-mulher e passe a produzir frutos de arrependimento.

Caso pretenda construir uma nova família, evite repetir os mesmos erros do passado.

Lembre-se (...): enquanto você negar seus erros e procurar livrar-se da sua culpa por si mesmo, lançando-a sobre outras pessoas ou circunstâncias, não se arrependerá, sinceramente. E sem arrependimento sincero, não há perdão. E sem perdão, não há comunhão com Deus e nem paz.

Peço a Deus que o ajude a compreender isso, para que você possa ser uma bênção nas mãos de Deus e siga em frente como um novo homem, totalmente liberto, transformado e livre do pecado. Deus tem um plano em sua vida, ainda que os caminhos que você tenha tomado tenham sido tortuosos, como falamos na nossa última reunião. As consequências do seu erro podem até perdurar, mas, ainda assim, Deus o ama e cumprirá com seus planos, que estão acima dos nossos.

(...)

Grande abraço,

Pr. Sólon

           celeiros.df@gmail.com