Carta 049

01/09/2015 23:48

Prezado irmão (...), que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Em atenção aos seus questionamentos, vou tentar resumir uma longa história. Por isso, caso restem dúvidas, sinta-se à vontade para solicitar os esclarecimentos que você achar necessários, ok?

Deixei a ICM em 2005 por livre e espontânea decisão. Não saí por ter sido excluído ou por não ter suportado cumprir orientação disciplinar. Eu estava em plena atividade pastoral. Inclusive, na véspera da entrega da minha carta de desligamento, cumpri regularmente com minhas obrigações à frente da equipe de apoio que realizou uma grande evangelização no Estádio Nilson Nelson. Trabalhei normalmente naquele final de semana e na segunda-feira fui à reunião de pastores apenas para entregar minha carta, expressando as razões do meu desligamento e meus agradecimentos a todos quantos me apoiaram em toda a minha jornada cristã até então.

O contexto daquele tempo era muito diferente do atual. Como a saída de um pastor da ICM era algo incomum aqui em Brasília, creio que sofri mais que aqueles que tomam essa decisão atualmente. Diferentemente do que temos hoje, naquela oportunidade não havia tantas informações sobre pessoas que haviam deixado a ICM. Eu simplesmente estava diante de um salto no desconhecido, mas fazia pela fé. Se eu tivesse a mente que tenho agora, provavelmente eu teria feito muita coisa diferente, mas entendo que tudo o que passei foi necessário para o meu aprendizado.

Após 3 anos de minha saída, eu ainda me incomodava com a reação de algumas pessoas que insistiam em tratar minha família como caídos. Por isso, no final de 2008, decidi escrever o texto “Minha experiência como ex-pastor da Igreja Cristã Maranata”. Publiquei esse testemunho em um blog e, a partir daí, aumentei significativamente o número de pessoas que me hostilizavam. Fui bombardeado com muitas cartas e, por causa de várias provocações, ainda em 2008, escrevi e publiquei alguns textos sobre aquilo que considerei ser a razão de tanta hostilidade – o  sectarismo evangélico . Os artigos que escrevi naquele ano foram: “Diga não ao sectarismo”; “  O corpo de Cristo e o sectarismo  ”; e “usos e Costumes”.

Eu pretendia parar por aí, mas, no ano de 2009, tive um sonho que me incentivou a prosseguir um pouco mais. “Sonhei que eu assistia a uma grande reunião da ICM que acontecia em um circo. Eu estava entre as cordas de sustentação das colunas e a lona que cobria o circo. Como algumas dessas cordas estavam raspando na minha cabeça, resolvi cortá-las. Não demorou muito e o circo desabou sobre nossos irmãos da ICM. Então, corri para ajudar as pessoas, mas percebi que as colunas caíram entre os bancos e não feriram ninguém.”

Meditando a respeito, entendi que se eu escrevesse sobre algumas questões doutrinárias que me incomodavam enquanto eu ainda estava na ICM, isso não feriria ninguém. Mesmo assim, demorei um pouco para escrever sobre esses assuntos. Somente em 2011 decidi colocar no papel algumas de minhas reflexões. Então, escrevi e publiquei os seguintes textos: “Consulta à palavra”, “Dons Espirituais”, “A caverna de Platão”, “A quarta trombeta” e “O palácio de Salomão”. Desses estudos, o que diz respeito aos dons espirituais foi o mais mal compreendido. Muitas pessoas ficaram com a impressão que eu não creio ou que eu não incentivo o uso dos dons. Na verdade, minha crítica se referia ao modo como os dons estavam sendo usados no meu tempo e não sobre sua realidade espiritual.

Coincidência ou não, em dezembro de 2011 surgiram as primeiras notícias sobre os problemas administrativos da ICM. As confirmações das denúncias, entretanto, só vieram em 2012. Nesse espaço de tempo eu publiquei o meu último texto sobre a doutrina da ICM: “O Clamor pelo Sangue de Jesus”. Para mim, o assunto estava encerrado. Entretanto, em 2013 ainda escrevi o texto - “ Indesculpáveis ”.

Enfim, considerando que, além desses textos, respondi quase mil cartas nesses 10 anos, creio que não é difícil compreender a razão para eu estar saturado de tudo o que se referisse à ICM. Percebi, inclusive, que eu estava perdendo minha habitual paciência e isso não era bom. Então, desde 2014, decidi que não mais estabeleceria contatos com os irmãos da Maranata. Isso, para evitar que minha falta de paciência me levasse a alguma indelicadeza com pessoas que, tenho certeza, não merecem isso.

Agora, amado, atendendo aos seus questionamentos, vou falar um pouco sobre meu ministério fora da ICM.

Em 2005, logo quando deixei a Maranata, havia aqui em Brasília duas congregações novas compostas por ex-maranatas: a Comunidade Evangélica Entre as Nações (CEEN) e a Igreja Cristã Aviva. A primeira, liderada pelo Pr. Ademir, que havia deixado a ICM em 2002 e a segunda, Liderada pelo Pr. Fonseca, que havia deixado a ICM, salvo engano, em 2004.

Naquela ocasião, a Igreja Cristã Aviva estava mais forte e, por isso, decidi me juntar à CEEN, que me pareceu precisar mais de ajuda. Em 2006 assumi a Congregação do Setor O da Ceilândia e passei a organizar a administração de toda a CEEN, uma vez que eles não tinham uma estrutura doutrinária definida; não tinham seminários e nem mesmo sistema de planejamento de ações; não tinham assistência jurídica; não tinham um estatuto condizente com a realidade; não tinham sistema de prestação de contas; não declaravam Imposto de Renda e nem cumpriam com as exigências legais para pessoas jurídicas, razão pela qual até o CNPJ da igreja estava cancelado pela Recieta Federal. Trabalhando com afinco, em 2009 a igreja já estava muito bem estruturada e com novos pastores que somaram nessa tarefa. Com o estatuto da igreja reformulado, a organização administrativa, financeira e contábil em dia e seminários planejados, os bons resultados começaram a aparecer.

Ainda em 2009, a partir de alguns contatos que eu tinha, foram abertas 2 congregações no Rio de Janeiro. E não parou por aí. Hoje a CEEN tem igrejas em diversos estados brasileiros e até no exterior. A congregação que eu conduzi por esse tempo na CEEN tornou-se uma bela igreja e até hoje funciona muito bem, sob a liderança do Pr. Manoel, a quem tenho especial consideração.

Entretanto, apesar do amor que nutro pelos irmãos da CEEN, pairava em meu coração um desejo de colocar em prática um modelo diferente de igreja, livre das influências neopentecostais do nosso tempo. Se observarmos bem, até mesmo algumas igrejas de origem tradicional foram, em alguma medida, afetadas pelos ensinamentos neopentecostais.

Como eu considerei que minha missão na CEEN estava encerrada, deixei a vice-Presidência da Igreja e escrevi o livro “Dízimos e Ofertas: pretextos dos impiedosos”. Como o conteúdo do livro contrariava a própria prática da CEEN, para não criar contendas, preferi iniciar um novo ministério, a Igreja Cristã Celeiros (ICC), onde estou tendo agora a oportunidade de colocar em prática alguns conceitos cristãos que eu não poderia implementar na estrutura da CEEN, embora isso não impeça que mantenhamos comunhão uns com os outros.

Portanto, amado, a ICC é uma igreja muito nova, fundada em Brasília no dia 26 de junho de 2014 e ainda está em dando seus primeiros passos. Somente em julho deste ano conseguimos alugar um salão em local de fácil acesso ao público. Lembro que, no início, nossas reuniões contavam com apenas eu e mais duas pessoas. Embora hoje ainda sejamos um grupo pequeno, adotamos o discipulado para nos preparar para receber algo mais de Deus no futuro. Isso leva tempo e nós sabemos bem disso.

Apesar de tudo, já conseguimos fazer um primeiro seminário em março deste ano e já temos data marcada para o segundo, dias 4 a 6 de dezembro.

Quanto à doutrina que adotamos, mesmo que isso implique em maior dificuldade de crescimento, estamos decididos a manter-nos afastados de heresias que afrontam o evangelho do Senhor Jesus. A propósito, o nosso próximo seminário tratará de princípios estabelecidos pelo Nosso Mestre no Sermão da Montanha. Inclusive, já temos algumas pessoas de fora de Brasília que estão pretendendo participar e você também será muito bem-vindo. Creio que essa é uma boa oportunidade para você conhecer o nosso trabalho.

Outras informações sobre a ICC você pode ler na carta 41 que está no site no seguinte endereço: https://www.celeiros.com.br/news/carta-041/, bem como os textos constantes da nossa página institucional: https://www.celeiros.com.br/institucional/. Também, note que os diversos textos do site expressam os princípios e os valores que adotamos e que pretendemos seguir seja aqui ou em qualquer outro lugar.

Nesse sentido, quanto à possibilidade de iniciarmos uma Congregação fora de Brasília, não tenho dificuldade em aceitar desafios e tenho muitos motivos para crer que isto está nos planos do Senhor. Mas, sei que tudo tem seu tempo determinado. Nós só precisamos prosseguir com fé, esperança, determinação, coragem e confiança em Deus.

“Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. (1 Co 2:9)·

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon